Entrevista Pega Monstro, de Lisboa

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A HONESTIDADE DO POP PUNK
Uma proposta audaz, irreverente e deliberadamente urbana de revisitação do espírito punk e do rock de garagem

Por Pedro Salgado
Colaboração para a revista O Grito!, em Lisboa

A história do Pega Monstro começou há dois anos quando as irmãs Maria (guitarra) e Júlia Reis (bateria), resolveram formar um projeto distinto d’Os Passos em Volta, do qual são integrantes. Ancoradas no selo Cafetra Records, procuraram inspiração nos pega-monstros, brindes em forma de adesivos que vinham incluídos nos pacotes de batatas fritas, durante os anos 1990, adoptando o nome para o seu novo conjunto.

Com a edição do EP O Juno-60 Nunca Teve Fita, em 2011, uma colecção de cinco canções rugosas e afiadas, combinando a pop e o espírito lo-fi, fizeram-se notar e produziram um dos primeiros cânticos épicos da geração corrente, espelhada na alegoria vívida de “Paredes de Coura”. Mediante uma identificação crescente com as letras incisivas e a atitude roqueira da banda, as garotas lisboetas foram elevadas à categoria de sensação indie portuguesa.

Seguiram-se atuações que renovaram o estatuto ascensional do grupo, como no último festival Milhões em Festa, na cidade de Barcelos, de que a mais recente edição do disco homónimo evidencia novas ambições. Em conversa com a Revista O Grito! o Pega Monstro falou do seu primeiro álbum e dos objectivos futuros do grupo.

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Veja a crítica do disco homônimo

“Paredes De Coura” deu a conhecer o Pega Monstro. Como explicam o hype em volta da canção?
Talvez por estar associada a um festival indie e o mais conhecido de todos. Sentimos que as pessoas se identificaram um pouco com a letra e a cadência rápida da canção. Ela não significa mais do que isso mesmo. As estrofes refletem situações verdadeiras, acabam por ser bastante visuais e é natural que a maioria diga: “isto acontece mesmo”.

As vossas maiores influências musicais são portuguesas ou internacionais?
Principalmente internacionais. Apreciamos muito Jay Reatard, um músico americano recentemente falecido, ligado ao underground, tal como nós. As bandas que nos moldaram mais foram Sonic Youth e My Bloody Valentine. Recentemente, sentimo-nos influenciadas por Vivian Girls. Relativamente à música portuguesa…é um pouco difícil estabelecer paralelos porque não existem exemplos comuns ao Pega Monstro ou aos grupos do selo Cafetra Records. Mas, ambas gostamos de Zeca Afonso e António Variações.

“Há gajas que gostam de levar na boca” é um dos refrões mais curiosos do álbum e acaba por ser um exemplo da  habitual irreverência de vocês. Gostam mais de escrever sobre o que vos rodeia do que das histórias pessoais?
Ambas. Normalmente, o que nos rodeia está relacionado connosco e nos afeta. Há letras mais pessoais que outras mas, essa em particular, reflete a nossa visão sobre garotas que agem de uma determinada forma e merecem tomar um soco. Isso está relacionado com frases estúpidas ou conversas que elas têm (risos).

A produção de B Fachada ajudou-vos a obterem o resultado discográfico que pretendiam?
Sim! Trabalhar com o B Fachada foi muito fácil, porque sentimos que ele já sabia o que queríamos fazer. Foi um excelente trabalho de produção, na medida em que não só procurou encontrar a forma ideal para nós, mas também esperou pelo take certo. Ele foi um perfeccionista, com um equilíbrio agradável, numa base tranquila, amigável e familiar. Como a gravação foi em cassete, o som ficou como queríamos. O B Fachada é que se propôs a produzir uma banda de punk rock, mas não tinha uma ideia pré-definida e o disco foi feito em total colaboração.

Não é muito comum encontrar entre nós uma banda feminina. Sentem que as mulheres têm algo a acrescentar ao panorama rock português?
Talvez não. Antes de sermos mulheres somos pessoas inteligentes. Não fazemos rock por sermos garotas e a principal razão é por gostarmos de cantar e tocar. Sem entrar numa onda panfletária, achamos que toda a gente devia formar bandas, independentemente do género de som produzido. Procuramos olhar para a música de uma forma global e não só para a cena portuguesa ou de Lisboa.

Quais são os planos futuros da banda?
Tocar, fazer novas canções e, na Cafetra Records, editar mais álbuns. Para além de pertencermos ao Pega Monstro, somos membros d´Os Passos em Volta, fazemos parte de um selo e todos os meses têm surgido discos novos. Acaba por ser um trabalho colectivo e é natural que em 2013 mais álbuns sejam lançados.

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Pedro Salgado é jornalista e colabora com a Revista O Grito!, direto de Portugal, trazendo novidades da cena independente de lá. Leia mais textos dele.

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