Entrevista: George Belasco e Cão Andaluz

George Belasco e Cão Andaluz (Foto: Divulgação)

PARÂMETRO DO ABSURDO
Por Germano Rabello, especial para O Grito!

Uma banda que transita na maior tranqüilidade entre influências de punk rock, surf music, pós-punk, krautrock. Apostando no inusitado, com letras que flertam com o absurdo, timbres cuidadosamente preparados para causar estranheza. Esse é uma possível descrição do George Belasco & O Cão Andaluz. Depois de lançarem vários EPs, prometem para breve um lançamento em Long Play. Enquanto não chega, este texto vai fornecer ao leigo uma iniciação ao universo da banda, com ênfase no EP mais recente.

Estabelecido em Fortaleza, o grupo é formado por George Belasco (guitarra, voz e efeitos) , Lucas Jereissati (baixo) e Leo Mamede (bateria). Longe de se prender a fórmulas regionais, o trio prova que é possível refletir agudamente a tensão e as delícias da civilização urbana contemporânea, sem soar como uma imitação de coisa importadas. George, líder da banda e compositor, assume a diferenciação entre os sons obtidos em estúdio e a performance ao vivo – no estúdio ele reina sozinho e se aproxima de sons como Suicide e Can, enquanto que ao vivo a coisa oscila numa vibe mais The Clash.

Sua discografia oficial consiste em quatro Ep’s a partir de 2006. Os três anteriores são Ignoro A Sua Pessoa, Nunca Amei Essa Carcaça e E Quem Mata O Carrasco?. O mais recente, Olhos São Moscas Atrás De Nós foi lançado em janeiro de 2008. O disquinho inicia muito bem com a dançante “Casualidad”, que surgiu ao se musicar uma dessas correntes de internet (“Prepara tu labios, porque van a ser besados / Por la persona que más quieras”). A música aliás, atravessou fronteiras e ganhou um videoclipe feito por duas irmãs em Lima, Peru.

“Pitencatropus” é um instrumental soturno que demonstra todo o esmero com que os efeitos sonoros são introduzidos na música do George Belasco. A música é um coquetel hipnotizante e inclassificável para amantes de música exótica em geral. “Inacabada” é basicamente um poema declamada em meio a um sonolento groove de baixo. A letra de “Comam Moscas” é mais um exemplo do lirismo agressivo e original da banda, e assim como a faixa de abertura, é a faixa mais agitada do disco. O disco fecha com mais um instrumental extremamente burilado, “Cine Cortez”.

Confira a entrevista que O Grito! fez com George a seguir.

O EP Moscas São Olhos Atrás De Nós pode ser baixado na Trama Virtual ou no site da banda.

Quantos anos você tem e há quantos anos existe a banda? já teve outras bandas?
28 anos. Sim, já tive outras bandas. O nome George Belasco veio por causa da outra banda que eu tinha, chamada Belasco. A sonoridade era mais puxada pro indie rock e pra cousas tipo as bandas presentes nas primeiras coletâneas Nuggets. Toquei como músico de apoio nas bandas Zefirina Bomba (PB), onde fui baixista e baterista por 4 meses, e Astronauta Elvis (MS).

Como são as apresentações? Qual o lugar que você sente mais orgulho de ter tocado? Você está satisfeito com a quantidade e qualidade dos shows?
Ah, as apresentações são algo mais próximo de happenings, uma vez que temos um setlist não-uniforme. Certas canções não têm letra definida e são momentos de experimentação linguística-poética, como é o caso de Inacabada. Outras se extendem às vezes num acesso de psicodelia ou são adaptadas ao momento que estamos vivendo coletivamente. Sinto muito orgulho de ter dividido palco com o The Nation Blue, da Austrália, na edição 2007 do Festival Ponto.CE. Os caras vieram falar conosco no final da nossa apresentação e fizeram algo que, acredito eu, vai para além da rasgação de seda. A qualidade dos shows tem crescido dada a pouca quantidade que temos feito. Não paramos ensaiar, mas como temos uma vida real com necessidades reais (faculdade, pesquisas, elaboração de projetos, empregos e vida pessoal), damos à banda um valor simbólico que não é o do empreendimento sujeito a pressões mercadológicas. Não somos uma empresa, não somos um bar, não somos um centro cultural; somos três caras guiando as próprias vidas com a trilha sonora que nós mesmos fazemos.

George Belasco e Cão Andaluz (Foto: Divulgação)

Este EP diz todas as músicas são compostas e executadas por “George Belasco”, se refere à você especificamente e não à banda, certo? Como é que funcionam as gravações, é estúdio caseiro, você pega e fica retrabalhando no computador, etc?
Dada a falta recorrente de grana pra injetar na banda, aliada ao grande desejo de experimentação, utilizo tecnologias de baixo custo (PCs caseiros) pra dar vazão ao que vier somar às composições. Não posso exigir dos meus colegas de banda (Lucas Jereissati e Leo Mamede) que passem cinco horas de frente pra um monitor escolhendo qual a melhor combinação de sintetizador pra 6 segundos de música. [risos]

Como você se sente em relação à música do Ceará? A cena atual, as figuras lendárias dos anos 70?
Me sinto descolado dessa realidade, uma vez que não falamos de estética da fome, não comungamos com os ideais da música que se propõe hegemônica — e aqui não falo do forró eletrônico que domina as rádios populares, mas da mpb beira-mar que subsiste pela injeção de dinheiro do poder público — e tampouco penso no rock como um estilo contestador. A cena atual tem muito dessa coisa de acreditar numa contestação vazia do “rock estilo autoral”. Bobagem. Boas idéias são mais interessantes, dado seu aspecto viral; uma boa idéia contamina as pessoas que entram emcontato com ela.

Sobre as figuras lendárias, você mesmo disse: são lendas. Prefiro Sacis, Curupiras e Bois Tatás.

Diga umas 5 bandas atuais, nacionais ou internacionais, que assim como o Cão Andaluz, vale a pena escutar e ainda são pouco reconhecidas.
Gostei bastante do Vampire Weekend, com disco homônimo lançado este ano. Outra que é bem boua é o Animal Collective, que toca no país até o final do ano. Dos nacionais, indico: 1. o Jan Felipe (RJ) ( myspace. com/janfelipe), que conheci aqui no Myspace mesmo. 2. Guizado (SP) 3. Burro Morto (PB ou SP?) 4. Meu Amigo Imaginarium (CE)

George Belasco e Cão Andaluz (Foto: Divulgação)

Como estão as gravações do álbum ? Voltaram a gravar, vão voltar a gravar?
Estamos sempre em processo de gravação. Tenho material no computador pra fazer pelo menos dois discos da banda e um “solo”, se é que a palavra cabe numa banda como o Cão Andaluz.

Dá os detalhes, dessa vez vai ser um EP ou LP mesmo?
Atualmente a gente quer lançar um CD completo. Não tem mais uma data certa de lançamento (cansamos de dizer que será em tal mês), mas temos uma conversa bem adiantada com um selo de São Paulo para prensá-lo. Falta só finalizar as gravações. A idéia vai ser, a princípio, vender pela internet, nos shows e no corpo-a-corpo cotidiano.

Ainda não sabemos de que forma iremos disponibilizar este material pra download gratuito, mas este é um dos pontos que não abrimos mão por conta da difusão cultural que envolve a banda. Não é onda pra pagar de bom moço, é que somos pessoas que transitaram do analógico pro digital. Temos de admitir que parte de nossa formação cultural se deve a essa coisa do P2P, do audiogalaxy, dos blogs de mp3, torrents, etc.

¿Trax? Despues… George Belasco

MAIS DE GEORGE BELASCO

Comunidade no orkut: http://www.orkut.com.br/Main#Community.aspx?cmm=8320036
Myspace: http://www.myspace.com/caoandaluz
TramaVirtual: http://www.tramavirtual.com.br/george_belasco

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