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Público no anfiteatro de Bezerros. (Foto: Felipe Souto Maior/Divulgação).

Curta na Serra teve noite movimentada com filmes, homenagem e apresentações artísticas

Oito curtas foram exibidos na mostra Panorama Nacional no anfiteatro ao ar livre que teve também homenagem ao cineasta pernambucano Claudio Assis

Serra Negra, Bezerros (PE)

Apresentações artísticas e uma homenagem ao cineasta pernambucano Cláudio Assis foram destaque na segunda noite do VI Curta na Serra, que teve como principal atração a exibição dos oito curtas da mostra Panorama Nacional. A programação foi aberta pela artista Bruna Florie que apresentou a performance Bruffa, com reflexões e questionamentos sobre o machismo e as consequências dele na vida das mulheres. 

Em seguida, foi a vez da apresentação da Ode dos Papangus pelo grupo Folcpopular, um espetáculo de dança mostrando a evolução da indumentária e máscaras do tradicional folguedo da cidade de Bezerros. 

Antes da mostra, outro belo momento da noite foi a homenagem a Cláudio Assis. O autor de alguns dos filmes mais relevantes do cinema pernambucano como os premiados Amarelo Manga e A Febre do Rato, entre outros, estava presente e visivelmente emocionado com os depoimentos comoventes de Dira Paes, Matheus Nachtergaele, Marcela Cartaxo e Hilton Lacerda, artistas que trabalharam com ele e que foram compartilhados com o público no vídeo preparado pelo festival para a ocasião.

Os filmes selecionados para compor o Panorama Nacional, a exemplo da mostra dos curtas pernambucanos no dia anterior, se caracterizaram pela diversidade de temas e gêneros. Pela recepção do público presente ao anfiteatro ao ar livre onde são feitas as projeções ficou evidente o acerto na escolha das obras. 

Boa parte dos curtas apresentados, mesmo sendo de estilos bem diversos, tiveram como traço comum, a abordagem de questões sociais, sendo três deles voltados ao mundo do trabalho: Cida Tem Duas Sílabas, de Giovanna Castellari (SP), Pequenas Insurreições, de William de Oliveira (PR) e Samuel Foi Trabalhar, de Janderson Felipe e Lucas Litrento (AL).

O curta alagoano é uma ficção bem humorada sobre um jovem que está prestes a assinar a carteira de trabalho para continuar fazendo publicidade nas ruas de uma construtora com uma fantasia de engenheiro. A narrativa irônica, a linguagem descontraída e as situações inusitadas vividas por Samuel são a graça do filme que arrancou muitas risadas da plateia do Curta na Serra.

Pequenas Insurreições mostra um processo de seleção feita por uma agência de empregos para uma vaga de babá. De forma inteligente, a trama vai urdindo, através da conversa que as candidatas vão tendo entre si, a tomada de consciência de que unidas elas são mais fortes para reivindicar melhores condições de trabalho. 

Claudio Assis
Claudio Assis foi homenageado este ano. (Foto: Felipe Souto Maior/Divulgação).

Tomada de consciência também é o mote de Cida tem Duas Sílabas, um filme que ganha força na medida em que a narrativa avança graças, sobretudo, a direção que soube potencializar o desenvolvimento dramático da história e a atriz Mariana Muniz cuja interpretação consegue ser convincente nas diversas nuances que a personagem exige.

As demais ficções, Dependências, de Luiza Arraes (RJ) e Jardim Tropical, de Breno Alvarenga e Luiza Garcia (MG), trazem temas interessantes, mas cujos desenvolvimentos não conseguem dar conta do que se propõem. O primeiro é sobre um grupo de burgueses confusos por não conseguirem fazer nada em casa sem a empregada doméstica, mas peca pelo exagero dramático. O segundo mostra uma comunidade de periferia diante da chegada de um shopping no bairro, mas o roteiro esquemático não resolve a complexidade que o assunto carrega.

O documentário Resistência, de Juraci Junior (RO) foi uma boa surpresa na grade do Panorama Nacional ao resgatar a história da construção da estrada de ferro Madeira-Mamoré (a Ferrovia do Diabo), na Amazônia, no início do século passado. Por meio de cuidadosa pesquisa e depoimentos, o curta revela fatos pouco conhecidos como a vinda de imigrantes de diversos países para trabalhar na obra, as inúmeras mortes ocorridas pelas péssimas condições de trabalho e os conflitos com povos originários da região, cujas marcas existem até hoje.

Complementaram a programação o documentário O Silêncio Elementar, de Mariana de Melo (MG) mostrando o cotidiano de quem convive com a mineração e a animação Lagrimar, de Paula Vanina (RN), sobre uma menina em busca de água em uma região de seca. 

Depois dos filmes, a festa continuou com  apresentação musical de forró com o Trio Lampião a Gás e um set dançante com o DJ La Ursa.

O editor Alexandre Figueirôa viajou a convite da organização do festival