Serra Negra, Bezerros (PE)
A preservação de filmes e a manutenção dos acervos públicos e privados são hoje questões fundamentais para a produção audiovisual. E foi pensando na importância do tema e na necessidade de debatê-lo, que o VI Curta na Serra realizou a Roda de Diálogos “Preservação e Memória na Construção de um Audiovisual Presente”.
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Ela aconteceu no domingo pela manhã e reuniu, no Restaurante Laus, na Serra Negra, em Bezerros, cineastas, pesquisadores, críticos e produtores culturais para conversar com Ingrid Xavier e Vitória Vítor, da Cinemateca Pernambucana, e o colecionador de projetores, câmeras e películas Edvaldo Mendonça.
A intervenção das pesquisadoras da Fundação Joaquim Nabuco chamou a atenção para alguns aspectos relevantes quando o assunto é preservação e acervos. Ingrid e Vitória ressaltaram que cuidar das obras é uma tarefa de todos os envolvidos na cadeia produtiva do audiovisual, do realizador às instituições que assumem a tarefa de cuidar dos acervos. Segundo elas, hoje, a Cinemateca Pernambucana conta com cerca de 400 obras em diversos suportes, obras essas que são disponibilizadas para visualização no site da instituição.
Envolvidas também em projetos educacionais a partir do audiovisual, Ingrid e Vitória assinalaram o quanto é importante os cineastas preservarem as matrizes de seus filmes independente se eles foram rodados em película, em suporte magnético ou em digital, observando que cada um desses materiais têm maneiras específicas de conservação e que elas precisam ser seguidas.
Ingrid lembrou que se as películas mais antigas as quais, a depender do material – acetato, celulóide -, sofriam diferentes tipo de desgaste por conta da temperatura, do local onde estavam armazenados, etc., no digital, surgem outros problemas, só que, agora, relacionados à atualização dos equipamentos e das novas versões dos softwares que impedem muitas vezes a leitura dos arquivos.
Ingrid conta que muitos realizadores contemporâneos não se preocupam em passar seus trabalhos para as novas mídias e isso pode levar, no futuro, à impossibilidade deles serem vistos. Ingrid e Vitória ressaltaram que o audiovisual do presente depende dessa memória e, nesse sentido, os acervos cumprem um papel importante, pois estabelecem uma relação entre o que foi produzido no passado e as realizações atuais.
Essa convergência ajuda a construir uma identidade e continuidade. Elas citaram o próprio cinema pernambucano como exemplo. “Vendo os filmes dos anos 70 ou 80, percebemos algumas escolhas estéticas e de linguagens que permanecem nos filmes atuais”, diz Ingrid.

Acervos privados
Com a presença do colecionador Edvaldo Mendonça – que aprendeu por conta própria a conservar filmes em película em diversas bitolas e recuperar equipamentos como projetores de 16mm e Super 8 -, a conversa abordou também a questão dos acervos particulares.
Desde jovem, Edvaldo era fascinado pela projeção de filmes e pouco a pouco foi adquirindo projetores e passou a restaurá-los. Hoje, ele mantém um verdadeiro museu do cinema em sua casa com cerca de 10 projetores de 16mm e 8mm todos funcionando, além de câmeras e filmes.
Segundo Edvaldo, no início, para manter sua coleção atualizada e preservar os filmes, ele seguia sua intuição, mas com o advento da internet ele encontrou diversas pessoas que praticam o mesmo hobby. “Hoje, participo de uma rede em um grupo de Whatsapp e nele trocamos muitas informações, mas também localizamos e trocamos peças dos equipamentos e adquirimos filmes”, diz. Foi por conta desse grupo que Edvaldo encontrou o pequeno rolo com o registro em 16mm da festa de São Sebastião em Bezerros de 1938, as imagens em movimento mais antigas da cidade.
O estabelecimento de contato com colecionadores particulares e a integração dessa rede com as instituições, segundo Ingrid, é salutar, pois permite trocas de experiências e recuperação de filmes que graças a esses colecionadores foram preservados.
O jornalista viajou a convite da organização do festival.