Crítica: O Espetacular Homem-Aranha, de Marc Webb

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Homem-Aranha retorna às telonas mais sombrio e realista, mas é Peter Parker quem se destaca

Um dos motivos para o sucesso do Homem-Aranha desde sua aparição em 1962 foi seu carisma como um jovem comum, com problemas e anseios – em contraponto a semideuses modernos como Superman. A reformulação do personagem nos cinemas, que estreia nesta sexta (com pré-estreias a partir de amanhã), se agarra a este conceito ao apresentar uma maior atenção ao alter-ego Peter Parker (Andrew Garfield), adolescente nerd amante de ciências que se descobre com super-poderes ao ser picado por uma aranha em um centro experimental de pesquisas.

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Dirigido por Marc Webb, conhecido até agora pela comédia indie 500 Dias Com Ela, o filme atualiza a franquia do herói nos cinemas com um trama mais realista – e até mesmo mais soturna. Começa já pela mudança no uniforme, mais escuro e no retorno dos lançadores de teia, produzidos por Parker (a trilogia original era orgânica). Garfield tornou mais convincente o papel do Homem-Aranha como um personagem em conflito com seu papel de vigilante. O porte físico de garoto ajudou o ator de 29 anos a segurar bem o papel de um jovem prestes a entrar na universidade.

Sem pressa em apresentar o super-herói se balançando em prédios por toda a Nova York, a narrativa segue aprofundando os dilemas de Peter Parker e seu relacionamento com seus tios May (Sally Field, aparentemente interpretando a matriarca Nora de Brothers & Sisters) e Ben (Martin Sheen). Este último aparece bem mais tempo em tela e torna ainda evidente seu papel para a formação do caráter do herói. A primeira parte do longa é utilizada para criar uma empatia com o espectador, dando mais matizes às motivações do protagonistas. A nova origem do super-herói nos cinemas tem mais drama, mais emoção e bem menos ingenuidade e leveza que a encarnação anterior.

Na história, os pais de Parker estão ligados a um segredo científico que tem ligação com o Dr. Curt Connors (Rhys Ifans), que pesquisa uma cura para deformidades e amputações humanas. Ao realizar experiências em si mesmo para regenerar seu braço perdido, acaba tornando-se o vilão Lagarto.

Quando mostra o que preparou em ação e efeitos especiais, O Espetacular Homem-Aranha não decepciona, ainda que não traga nada de inovador. Este talvez seja um dos calos do novo filme. No que diz respeito às aguardadas sequências de combate, a produção ainda fica à sombra de seus longas antecessores. O clímax traz uma sensação de dejavu e carrega a mão em clichês.

Atualizando o herói para os tempos atuais, Marc Webb entrega um Peter Parker mais coerente com o jovem contemporâneo. Emma Stone, na pele de Gwen Stacy, também traz novidades ao papel clássico de par romântico do herói. Ajuda o fato dos dois atores serem dois dos nomes mais celebrados entre a nova geração de atores (e também namorarem na vida real). O importante, como já dissemos, é criar empatia com o público. Bebendo na linha sombria de longas como Batman – O Cavaleiro das Trevas e Superman – O Retorno, O Espetacular Homem-Aranha não tem muitas pretensões, mas quer afirmar uma personalidade própria dentro das recentes produções da Marvel no cinema. Webb pode ser novato no duro mercado de blockbusters, mas conseguiu dar seu recado.

Reboot
O filme chega às telonas exatos 10 anos depois do primeiro longa do Homem-Aranha, estrelado por Tobey Maguire e dirigido por Sam Raimi. Mais colorido, os três longas da franquia anterior agradaram crítica e público com uma dose exata de ação, melodrama e comédia romântica.

Os antigos longas se baseavam no universo Ultimate, cronologia paralela que atualizou personagem da Marvel aos anos 2000. Este novo bebe na fonte da origem do personagem, nos anos 60. Por isso, a namorada é Gwen Stacy e não Mary Jane-Watson; e a teia é feira em casa e não produzida organicamente pelo corpo.

Nos tempos que correm em Hollywood, uma franquia do sucesso perece mais rapidamente. Talvez seja essa uma das razões para uma reinvenção tão rápida do herói nas telas. A geração atual não é a mesma que vibrou com o Aranha em 2004. Mas, existe uma outra leitura, mais mercadológica. É que é interessante para a Sony/Columbia manter os direitos do personagem e seguir lucrando com ele. Mas, com transformações cada vez mais rápidas, não estranhem que um novo Homem-Aranha apareça daqui a 10 anos. [Paulo Floro]

haO ESPETACULAR HOMEM-ARANHA
Marc Webb
[The Amazing Spider-Man, EUA, 2012]
Com Andrew Garfield, Emma Stone, Martin Sheen, Sally Field
Sony Pictures

Nota: 8,2

DF 03717r

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Texto publicado originalmente no NE10, parceiro da Revista O Grito!, pelo próprio autor.