UMA RAINHA PARA TODOS GOVERNAR
Novo disco de Madonna está longe da criatividade e inovação do passado, mas é um sopro de renovação entre os trabalhos recentes da cantora
Da Revista O Grito!
Nenhum disco este ano foi ou será tão cercado quanto MDNA, o novo trabalho de Madonna. É uma missão difícil, mesmo para uma artista de porte gigantesco que praticamente não encontra par hoje na música pop. Quando surgiram os primeiros registros, os fãs ficaram receosos. “Give Me All Your Luvin” era uma faixa com um refrão bobo e batida pouco inspirada. Quando o álbum inteiro vazou, os correligionários, seguidores ardorosos da cantora, celebraram o trabalho.
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Apesar de MDNA ser uma evolução nos trabalhos anteriores, como Hard Candy e American Life, esse novo disco fica longe da Madonna provocativa e criadora de tendências de antes. Mais ainda: está aquém até mesmo de suas colegas, como alguns momentos de Rihanna, Robyn ou Beyoncé. A impressão que fica é que há um esforço em acompanhar a roda gigante do pop, um trambolho velho que não para de subir novos nomes, com velocidade impressionante.
MDNA salva-se por colocar Madonna numa trilha de criatividade e representa um momento importante de sua carreira. As músicas remetem à uma desforra diletante, ligada aos clubes – o próprio nome do disco além de ser um jogo de palavras com seu nome, também diz respeito a uma droga comum em boates, MDMA. Além desse interesse em proporcionar catarse coletiva no ‘dancefloor’, traz ainda letras que exorcizam seu divórcio com o cineasta inglês, Guy Ritchie (curiosamente, o período em que ficou casada com ele foi o menos inspirado de sua carreira).
O trabalho teve produção do DJ francês Martin Solveig, o espanhol Benny Benassi e o inglês e antigo colaborador, William Orbit. Com Orbit, Madonna conseguiu re-inventar sua carreira, agregando tendências da música eletrônica nos anos 1990 em Ray Of Light. É o mesmo processo que precisa enfrentar aqui – buscar uma nova guinada, agora em um mundo mais concorrido. A predileção pelo house é grande, mas o disco chama atenção pelo namoro com o dubstep. A participação de dois nomes atuais, espécies de “protegidas” da cantora, M.I.A. e Nicki Minaj, não deram muito certo.
“I Don’t Give A”, com Minaj é uma tentativa canhestra de Madonna se aproximar do Hip Hop. “B-Song”, incluída apenas na edição de luxo, tem uma M.I.A. mais do que discreta em uma faixa com forte inspiração oitentista. Ambas reverenciam Madonna como rainha do pop única e absoluta. A já citada “Gimme All Your Luvin”, com as duas rappers é a pior faixa do disco, com refrão e batidas infantis. É um desperdício duas artistas tão provocativas do pop hoje serem sub-utilizadas.
Mas, apesar dessa sua tentativa de se aproximar do que está sendo feito na música pop hoje, como se trouxesse sua bênção, esse novo álbum é fraco como proposta artística, mas recheado de bons momentos. No geral, Madonna consegue impor sua experiência e entrega a seus devotados fãs hits para dançar simplesmente, sem muita delonga. “I’m Sinner”, com a mão de Orbit é uma das que ficam na cabeça por horas. Tem um leve sabor de sua fase Ray Of Light-Music. E o que dizer de Love Spent, com um fundo hipnótico e “Fallin Free”, um sopro de calmaria depois de mais de uma hora dedicada à jogação pura.
De todas, a mais curiosa é “Gang Bang”. Apesar de fazer referência a uma prática do sexo gay, a faixa é um recado para o ex-marido Guy Ritchie. Foi pensada como um filme de Tarantino (o qual já foi convidado publicamente para dirigir o vídeo) e traz Madonna desbocada ao falar dos desafetos.
Mesmo com um trabalho regular, mas consistente, Madonna ainda consegue se firmar acima de qualquer ídolo pop existente no mercado hoje. MDNA re-estabelece sua marca como algo a ser respeitado e acompanhado com curiosidade. [Fernando de Albuquerque e Paulo Floro]
MADONNA
MDNA
[Interscope, 2012]
Nota: 7.6