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Náufrago Morris mistura drama de sobrevivência e violência do colonialismo

HQ dos argentinos Pablo Franco e Lautaro Fiszman conta a história real do britânico Isaac Morris, vítima de um naufrágio na Patagônia em 1740

Náufrago Morris mistura drama de sobrevivência e violência do colonialismo
4.5

Náufrago Morris
Pablo Franco e Lautaro Fiszman
Comix Zone, 96 páginas, R$ 89,90 / 2023
Tradução de Fernando Paz

Isaac Morris era um tripulante de baixo escalão da fragata Wager, da Marinha Real Britânica, que acabou naufragando na costa da Patagônia, em 1740. Sua história é tão impressionante e cheia de desventuras que mais parece um relato fantástico, porém está imbricada na longa e sangrenta guerra travada entre os europeus e os povos originários da América. A HQ dos argentinos Pablo Franco e Lautaro Fiszman trazem um ponto de vista inusitado para falar da violência do colonialismo ao mesmo tempo em que destaca os dramas humanos típicos dos relatos de náufragos.

A HQ é baseada na história real de Isaac Morris. Ele tripulava uma fragata real britânica que tinha como objetivo contornar o sul argentino e chegar até o Peru, onde travariam uma guerra contra os espanhóis que dominavam o local. No entanto, o mar revolto do Atlântico Sul destruiu a embarcação. Apenas três pessoas sobreviveram, incluindo Morris, que acabou tendo que comer os cachorros que estavam no navio para sobreviver. Em uma terra desconhecida, faminto e doente de tanto comer carne crua, os náufragos acabaram sendo atacados por povos indígenas. Alguns desses habitantes originais, no entanto, ajudaram o grupo. Mas a acolhida, apesar de ter salvado a vida do grupo, durou pouco e Morris acabou vendido aos europeus.

A segunda parte de seu périplo se inicia na volta à Europa, a bordo de um cargueiro espanhol, onde foi maltratado e torturado. E é lá que as contradições do colonialismo aparecem com mais força. Morris se vê no meio de um conflito envolvendo ingleses, espanhóis e indígenas, que também foram levados ao navio como escravizados. Depois de enfrentar a fome, o frio e doenças em território desconhecido e de ter sido ajudado por indígenas, é interessante perceber as decisões tomadas por Morris no caminho de seu retorno, de volta à dita “civilização”.

A HQ de Franco e Fiszman colocam em primeiro plano o aspecto da sobrevivência, mas as nuances de violência do colonialismo, sobretudo a sangrenta guerra dos espanhóis contra os indígenas americanos aparecem como um subtexto poderoso da HQ. A obra tem sua narrativa toda contada em aquarela, com pinturas que vão ditando o tom de desespero dos náufragos e criam uma atmosfera pesada causada pela desolação e abandono. Para caracterizar alguns personagens, as pinceladas vão adquirindo tons cada vez mais expressionistas.

Náufrago Morris no cinema

A HQ venceu a primeira edição do Prêmio Latino-Americano de Quadrinhos, na categoria Graphic Novel, premiação inédita que foi organizada por quatro editoras de três países: Comix Zone (Brasil); Historieteca e Loco Rabia (Argentina); e iLatina (França).

A história contada em Náufrago Morris será adaptada para os cinemas em uma produção estrelada por Leonardo DiCaprio e dirigida por Martin Scorsese. Batizada de Assassinos da Lua das Flores, o longa fará sua estreia no Festival de Cannes, este mês, com lançamento previsto para este ano nos cinemas e na AppleTV+. Scorsese, no entanto, adaptou o livro The Wager: A Tale of Shipwreck, Mutiny and Murder, de David Grann, inédito no Brasil.

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