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Crítica: “Bom Dia, Socorro” diverte ao mostrar WhatsApp como arena de luta no Brasil atual

Obra do paraibano Paulo Moreira usa referências dos mangás de luta para fazer um humor cheio de sensibilidade sobre o cotidiano do brasileiro comum

Crítica: “Bom Dia, Socorro” diverte ao mostrar WhatsApp como arena de luta no Brasil atual
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Bom dia, Socorro
Paulo Moreira
Conrad, 96 páginas, 2022, R$ 79,90

No Brasil, o WhatsApp se desenvolveu a tal ponto que a ferramenta alcançou um protagonismo singular na vida de uma parte significativa dos usuários. O zap se tornou uma ferramenta de existência para os brasileiros. “Bom dia grupo! Uma segunda-feira abençoada para todos.” Quem nunca recebeu uma mensagem assim? 

Claro que a mensagem vem devidamente acompanhada de uma figurinha efusiva e brilhante abençoando a semana de todos os componentes do grupo. É justamente esse o mote de Bom dia, Socorro, história em quadrinhos de Paulo Moreira lançada pela Editora Conrad após bem sucedida campanha de financiamento no Catarse.

Na história, Socorro se vê presa em uma complexa e intrincada batalha de mensagens no celular. Do outro lado da tela temos Beta, que se sente menosprezada pela ausência de reações da amiga às suas selecionadas figurinhas de “bom dia”. O paraibano parte de uma premissa simples e muito facilmente identificável para construir uma mistura bem brasileira de grupo de zap com anime de luta.

Afinal de contas, existe alguém que já não tenha se irritado com algum contato por causa dessas já tradicionais mensagens de bom dia? A grande genialidade do Paulo Moreira está em traduzir esse sentimento em uma história em quadrinhos. Aliás, abordar as temáticas do cotidiano sob um olhar bem-humorado e leve parece ser a especialidade desse quadrinista, que é hoje um dos nomes mais celebrados das tiras de humor no país. Além de ter um movimentado perfil no Instagram, onde divulga seus quadrinhos, ele também já lançou as coletâneas Mar Menino, Ana, Mosquinha e a Lagartixinha e os zines COELCE. Natália e Mizera.

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As “inimigas” Beta e Socorro: falha no bom dia. (Divulgação).

Em Bom dia, Socorro, o traço aparentemente simples, mas que envolve muito estudo e leitura para compor uma narrativa muito dinâmica, se une a já conhecida capacidade de formular diálogos impagáveis do autor. A construção das conversas das personagens principais, bem como dos coadjuvantes são retratos fiéis da brasilidade e demonstram um autor atento e observador das formas de expressão nacionais.

Alguns podem acusá-lo de ser muito regional na construção do texto, mas a verdade é que eles são tipicamente brasileiros. A naturalidade com que ocorrem as conversas tensas e cercadas de intenções entre Beta e Socorro é impressionante, coisa que só um autor que entende muito de Brasil poderia conceber.

Passagens como: “Meu Jesui”, “umas mensagens liiiiinda linda” e até um “Ouxe” são tipicamente nordestinas. E o melhor: todas muito naturais – é possível enxergar essas conversas entre vizinhas sentadas em cadeiras de plástico nas calçadas das ruas. Paulo Moreira se especializou em retratar o Brasil nos seus quadrinhos.

Na internet ele já impôs sua agilidade cômica e capacidade de prender a atenção no Twitter ao publicar tirinhas que te seguram por segundos, e até por vezes, por minutos naquele ato mecânico de rolar a timeline. A capacidade que ele tem de segurar seu foco em breves histórias se prova também em uma trama maior como Bom dia, Socorro.

Na guerra fria do zap entre Beta e Socorro, a coisa vai escalonando sob os olhares atentos dos filhos da última e da vizinha da primeira, sem que elas nunca declarem uma à outra as razões de seus incômodos na troca de mensagens. A impagável chamada de vídeo entre as duas revela um pouco dessa relação silenciosa.

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WhatsApp é a arena de luta das personagens. (Divulgação).

Como contador de histórias, o autor se revela como um dos grandes nomes nacionais da nova geração de quadrinistas. Dono de um repertório variado, que vai de Dragon Ball a Lobo Solitário, passando por Akira, o paraibano consegue produzir um trabalho que cria uma forte conexão com os leitores, pois traduz com sensibilidade o cotidiano de muita gente.

Desde os traços, a escolha das cores e os elementos a construção das personagens, o quadrinho demonstra ser fruto de alguém que tem muita firmeza no que faz e um profundo conhecimento das pessoas. Do Brasil mesmo, podemos dizer. Em outros países, o WhatsApp não possuí essa mesma onipresença como no Brasil. Onde não responder uma figurinha de bom dia pode representar uma ofensa pessoal.

E é assim, falando de todo o Brasil e um pouco de todo o mundo que Paulo Moreira se impõe como um dos mais interessantes contadores de histórias da HQ brasileira e não à toa chama a atenção de artistas como Rihanna e Will Smith, além de ser o queridinho das redes sociais, um dos espaços mais efervescentes para se conhecer a nova produção de quadrinhos do país. 

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