Crítica: Fábulas – Os Ventos da Mudança

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Detalhe de uma das capas de Fábulas (Foto: Reprodução)

OS CONTOS DE FADA CONTINUAM
Panini lança novo volume da série, que apesar de tropeços na edição, ainda se mostra como uma das melhores séries entre as HQs adultas

Por Társio Abranches
Colaboração para a Revista O Grito!

image galleryO quinto volume de Fábulas, série da Vertigo que mostra uma nova visão dos personagens de conto de fadas, ganha lançamento no Brasil. É um dos mais marcantes lançados até agora, e apesar do mérito à história e à arte, que, aliás, continuam com a qualidade de sempre, os louros desta vez vão, sim, para uma trapalhada da Panini. O arco principal de “Os ventos da mudança” é dividido por estações, cada uma não só ambientando a narrativa temporalmente, mas também emocionalmente. Como todos sabem, as estações do ano no planeta Terra seguem assim: verão, outono, inverno e primavera. Segundo a editora, porém, está todo mundo errado: é verão, outono, outono e primavera. Ou seja, numa historia rodeada de neve o seu título é “Outono, longo e difícil” (“The dark, killing winter” no original)

Os detalhes são pequenos, mas relevantes nesta edição. As histórias que abrem esse volume estão fora da cronologia. A primeira foca a personagem Cinderela. Mais do que uma solteirona rancorosa e disparatada, ela é uma sexy agente secreta a serviço de Bigby Lobo, no melhor estilo bond girl, tentando juntar provas contra Crane, ex-administrador da Cidade das Fábulas e atual duas caras. A segunda história conta o papel do Lobo Mau ao lado dos Aliados na 2º guerra, numa operação para desmantelar planos nazistas de utilizar o Frankstein como arma. Quem é fã do monstrengo, provavelmente ficará decepcionado, pois sua participação é resumida a trocar tapas com Bigby.

Passando dessas páginas, está o arco principal, o tal das estações, onde vemos a Cidade das Fábulas procurando retomar a sua rotina após o ataque dos soldados de madeira. O objetivo é preparar o terreno e inserir novos elementos e problemas, deixando o leitor com cara de “e agora, o que vai acontecer?” O Encantado é finalmente eleito prefeito, mas não tem como cumprir as suas promessas de feitiços de transformação grátis. O Rei Cole, desprovido dos privilégios no fornecimento de guloseimas e sem piscina, percebe finalmente o quão inútil é. Branca de Neve tem uma ninhada de lobisomens (e continua bonitona. Viva a magia!). Garoto Azul desaparece com armas mágicas. Papa-moscas se vê livre de seu serviço obrigatório e começa a perguntar sobre o paradeiro de sua família(aparentemente morta há muito tempo, como visto em Fábulas 1001 Noites). E junto a essas mudanças, há os misteriosos casos de assassinato na comunidade.

O escritor Bill Willigham impressiona no seu domínio com os diálogos. São carregados de um humor sutil, que, na mão de outros roteiristas, poderiam se tornar maçantes. Destaque para um quadrinho de duas páginas, colocando em paralelo as preocupações de Cole e Encantado sobre a transição do imóvel na luxuosa cobertura do prefeito. As falas da bruxa Totenkinder também são sempre muito interessantes e cheias de segundas intenções. Ela não se submete a ninguém, escondendo os seus interrogatórios a Baba Yaga do novo xerife, Fera.

Até mesmo as agruras românticas de Bigby e Neve são envolventes. A discussão entre eles é pontuada por um coração formado de folhas outonais no topo da página. Quando os dois se separam, todas as folhas caem, deixando um espaço vazio. É uma lembrança de que toda a página pode ser usada como elemento narrativo.

A trama termina com uma série de deixas a serem desenvolvidas. O conflito entre a cidade das Fábulas e o Império lentamente se agrava. Com a administração nova ainda se adaptando e o Lobo Mau distante, os exilados podem se tornar alvo fácil. O próximo volume será focado na jornada do Garoto Azul em busca da verdadeira Chapéuzinho nas Terras Natais, prometendo mais ação e novidades sobre o Império. Só espero que nesses longos meses de espera os editores da Panini acertem o calendário das estações.

FÁBULAS – VOLUME 5: OS VENTOS DA MUDANÇA
Bill Willigham (texto) e vários artistas (arte)
[168 págs, R$ 24,90]

NOTA: 8,0