Crítica-Disco: Céu reforça o próprio estilo musical com batidas eletrônicas

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Uma Céu pixelada, fugidia, fragmentada e, sobretudo, eletrônica emerge neste novo disco autoral, Tropix. O novo trabalho da cantora e compositora paulista traz sua desenvoltura em passear por diversos gêneros e estilos, sempre imprindo uma estética cada vez mais particular.

Tropix é tanto um reforço desta estética quanto apontamentos a novas direções. Parte desse inconfundível “pacote Céu” está sua voz rouca e anasalada, cada vez mais um instrumento cheio de possibilidades. Outro elemento muito próprio da artista: as tintas “cool” que imprime aos ritmos de que se apropria.

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Se no trabalho anterior, Caravana Sereia Bloom, ela foi buscar as raízes do brega romântico, neste aqui ela decidiu catar o melhor das batidas eletrônicas, além de toques de rock psicodélico e soul, mas sempre trazendo essas referências de forma orgânica para seu estilo. Tropix agrupa inúmeras referências em busca de um hibridismo sonoro e estético que é parte inerente de Céu como artista “global”.

Esse apelo ao pop mundial é hoje algo importante na carreira da cantora, cujos discos são lançados na Europa e EUA simultaneamente ao Brasil (pelo selo Six Degrees). Mas Céu está longe de ser apenas uma tradicional “cantora de world music”, termo ainda carregado de simbolismos imperialistas, como se tais artistas estivessem à margem de uma indústria fonográfica hegemônica. Não é o caso de Céu. Sabendo se aproveitar de uma nova lógica de distribuição, ela cria um som que é sofisticado, “cool”, mas intrinsecamente ligado às raízes musicais brasileiras.

Nas composições, Céu fez de Tropix o seu disco mais plural, buscando referências de diversos locais, como um painel pixelado. Em “Perfume do Invisível”, a mais dançante e eletrônica das faixas, ela nos lembra do mestre do quadrinho erótico Milo Manara. “Arrastarte-Ei”, com baixo de Lucas Martins, traz a cantora em uma inspiração do fantástico ao se transformar em mar. É uma canção de amor para dançar agarrado. Em “Minhas Bics” ela cria um hit dançante pegando um dos itens mais baratinhos da papelaria, mas que é também um ícone pop de nosso imaginário.

Com quase nenhuma guitarra, Tropix é um disco ainda mais lânguido, imaginativo e que apela ao groove das batidas e para as possibilidades vocais de Céu, uma das cantoras mais importantes de sua geração. “Amor Pixelado” comprovar o nível de sofisticação e o domínio que ela alcançou em relação à própria voz.

Trabalho de grupo, o disco traz diversas participações e conta mais uma vez com a produção de Pupillo, da Nação Zumbi, parceiro que é co-responsável por formular esse “estilo Céu de ser” ao longo dos álbuns anteriores. Há ainda Hervé Salters, tecladista francês que aparece aqui sob o pseudônimo de General Elektriks e Dinho, do Boogarins, que coassina a faixa “Camadas”. Ela abre espaço para o rock oitentista em “Chico Buarque Song”, música da banda post-punk Fellini que homenageia o lendário músico.

Tropix, com suas multiplicidade de sons e referências, reforça ainda mais a independência de Céu em busca de um estilo cada vez mais particular.

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