Crítica: As Neves de Kilimanjaro, de Robert Guédiguian

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AMOR NO MEIO DA CRISE
Longa francês mostra que relações de classe são ainda mais complexas nos dias de hoje

Por Paulo Floro
Da Revista O Grito!

O cineasta francês Robert Guédiguian milita por mais ternura nas relações humanas. É o que se percebe numa análise rápida de suas obras, entre elas a mais conhecida A Cidade Está Tranquila. Neste seu mais recente As Neves de Kilimanjaro, ele adentra o cotidiano de um casal pequeno-burguês da classe média de Marselha para mostrar que com a atual crise econômica, as questões de classes sociais e seus papéis no panorama atual são mais complexos que o saudoso embate da burguesia e proletariado que muitas pessoas ainda se pautam.

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Trabalhando com os mesmos atores da maioria de seus filmes, o diretor mostra o casal Marie-Claire (Ariane Ascaride) e Michel (Jean-Pierre Darroussin), que têm a vida modificada depois que recebem de presente uma passagem para Kilimanjaro em seu aniversário de casamento. Michel, depois de anos lutando por direitos trabalhistas como líder sindical teve de aposentar compulsoriamente. Ele acaba tendo de se acostumar com seu novo cotidiano – e com a diminuição no orçamento familiar. Sua mulher, que sempre sonhou em ser enfermeira, agora cuida de velhinhas.

A trama dá uma guinada depois que Michel e sua mulher, ao lado de um casal de amigos, sofrem um violento assalto planejado por um ex-colega, também recém-desempregado. Segue-se uma trama que vai cruzar esse episódio com o universo do assaltante (interpretado por Grégoire Leprince-Ringuet, o bretão de As Canções de Amor). É aqui que entra o sentimento altruísta que o diretor tanto acredita. Da condenação ao perdão, os personagens serão confrontados com questões sociais complexas, ao procurar entender as motivações de seu agressor, o lugar onde vive, seu habitat.

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A esquerda francesa, cada vez mais burguesa, é colocada em xeque neste longa. Também burocratizada e menos envolvida na vida da população. No contexto da crise econômica que vive a Europa, é cada vez mais nebuloso as denominações políticas, mas Guédiguian quer mostrar que o humanismo ainda pode se situar acima de tudo isso. Ainda que flerte com um sentimentalismo que fica à espreita durante todo o filme, As Neves de Kilimanjaro não deixa de ser um alento e uma reflexão sobre as mudanças que o mundo atual anda provocando nas relações humanas.

neves posterAS NEVES DE KILIMANJARO
Robert Guédiguian
[Les neiges du Kilimandjaro, FRA, 2011]
Com Jean-Pierre Darroussin, Ariane Ascaride
Imovision

Nota: 7,9