CHEIO DE VIDA
Coldplay redifine sua própria fórmula esgotada em novo disco, Viva La Vida
Por Mariana Mandelli
COLDPLAY
Viva La Vida Or Death All His Friends
[Capitol, 2008]
Dizem por aí que, quem muito fala, pouco faz. Mas quando o assunto é Viva La Vida Or Death And All His Friends, o quarto disco do Coldplay, esta máxima não se aplica. Há meses, a banda de Chris Martin vem bradando aos quatro ventos que o novo álbum seria diferente de tudo que eles fizeram antes, já que as influências musicais do grupo beberiam em fontes latinas e instrumentos diferenciados. A pressão da mídia era estratosférica e a equipe de apoio contava com o aclamado Brian Eno, o que só aumentou a responsabilidade com o público e a expectativa dos fãs.
Os boatos que pipocaram durantes esses três anos, desde o lançamento de X&Y (2005), davam conta de que o novo trabalho seria original e surpreendente – o que, de certa forma, começou a se tornar realidade quando o nome do disco foi divulgado. Afinal, Viva La Vida é um título, no mínimo, esdrúxulo. Contudo, de bizarro, o álbum só tem o nome – aspecto que se justifica pelas referências músicas hispânicas aplicadas nas faixas e pela temática das composições, que tratam da relação entre a vida e a morte.
Viva La Vida é um álbum difícil se comparado ao som cru de Parachutes (2000), à angústia romantizada de A Rush of Blood to the Head (2002) e às guitarras etéreas de X&Y. De certa forma, o novo disco se distancia do pop no formato coldplayniano de voz chorosa em falsete, piano e guitarras espalhadas em cima de uma letra dilacerante. E é exatamente por sua exuberância e seu notável exercício de renovação estética que Viva La Vida é um disco brilhante e, como seu próprio nome já denuncia, é uma seqüência de faixas cheias de vida.
O álbum abre com a instrumental “Life in Technicolor” que, muito bem arranjada, já anuncia o clima onírico do disco. “Cemeteries of London” vem em seguida, instalando um clima soturnamente medieval com suas guitarras tensas. A excitante “Lost!” merece destaque pelas palmas que contagiam a poesia de uma das melhores letras do disco (“Só porque estou perdendo/ Não significa que eu esteja perdido/ Não significa que eu irei parar/ Não significa que eu deva me render”). “42” é o clímax: começa com o piano de sempre e versos de uma tristeza arrasadora para encontrar uma seqüência de riffs excitantes.
A melódica dupla “Lovers in Japan/Reign of Love” passa de piano e acordes quase dançantes para arranjos de uma delicadeza encantadora, que se contrapõem com o nervosismo das chatas “Yes/ Chinese Sleep Chant”, o ponto mais fraco do álbum.
Mas o Coldplay logo compensa com a trinca “Viva La Vida” (violinos epifânicos e coro em harmonia empolgante), “Violet Hill” (primeiro single, de riffs pesados e bateria espancada) e a belíssima “Strawberry Swing” (com inspiração africana, tem ares tribais e bucólicos). Ainda há espaço para “Death and All His Friends/ The Escapist”, que lembra os acordes espirituosos de X&Y.
Apesar do hype, da expectativa e das denúncias de plágio (a banda Creaky Boards acusa Chris Martin de ter usado a música “The Songs I Didn’t Write” para fazer a faixa “Viva La Vida”), o Coldplay conseguiu inserir em sua discografia mais um disco de produção irrepreensível, repleto de orquestrações criativas, letras mais politizadas e efeitos pulsantes, que passam longe da depressão chororô de “Yellow” e “The Scientist”, por exemplo. Viva La Vida merece uma “viva” pela inovação e outra pela beleza. Um álbum épico, revolucionário para a carreira da do Coldplay e realmente inspirador, que sai da fórmula manjada e esgotada pela própria banda. Fugindo da armadilha de plagiar a si mesmo, o grupo parece mandar uma resposta à hostilidade com que muitos criticam o trabalho do Coldplay. Não vai ser dessa vez que vão conseguir impedir Chris Martin de continuar fazendo de sua banda uma das maiores do planeta.
NOTA: 8,5
Coldplay – Violet Hill