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Foto: Alexandre Figueirôa/Divulgação.

Na tela do São Luiz, as cores originais de cinco curtas em Super 8 de Jomard Muniz de Britto | Cobertura Janela de Cinema 2025

Foi a primeira exibição pública do projeto da Cinelimite que está restaurando e digitalizando os 32 filmes do cineasta pernambucano

Além da excelente programação de filmes inéditos e clássicos, um dos aspectos mais importantes do Janela Internacional de Cinema do Recife, ao longo dos anos, tem sido as ações realizadas pelo evento em prol do fortalecimento da cultura cinematográfica. E nesta décima sexta edição não foi diferente, como pôde ser visto, no domingo à tarde, na sessão de curtas restaurados do professor, poeta, filósofo e cineasta Jomard Muniz de Britto

A sessão, apresentada pelo atual coordenador-geral do Museu do Homem do Nordeste, Moacir dos Anjos, e que contou com a presença do próprio Jomard, levou para a tela do Cinema São Luiz, cinco filmes realizados em Super 8 por ele na década de 1970: Jogos Labiais Libidinais (1979), Inventário de um Feudalismo Cultural (1978), Alto Nível Baixo (1977), Discurso Classe Média (1977) e O Palhaço Degolado (1976). 

Essa foi a primeira exibição pública do projeto Jomard Muniz de Britto, Preservação, Pesquisa e Difusão realizada pela Cinelimite, uma plataforma dedicada ao cinema brasileiro de repertório, em parceria com o próprio Jomard e sua família. O objetivo do projeto é a preservação, organização e difusão de toda obra do artista, incluindo a digitalização dos 32 filmes em Super 8 por ele realizados, além dos trabalhos em vídeo e outros suportes.

Conhecido pela sua participação no Movimento Tropicalista, no final dos anos 1960, na produção superoitista pernambucana, Jomard Muniz de Britto foi um dos realizadores que melhor encarou a bitola Super 8 como instrumento de experimentação, explorando suas diversas possibilidades desde o ato de filmar até a exibição. Seus curtas mesclam elementos cinematográficos da nouvelle vague, do cinema udigrudi e dialoga com outras expressões como o teatro e as artes plásticas.

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Jomard Muniz de Britto esteve presente à sessão. (Foto: Alexandre Figueirôa/O Grito!).

A obra de Jomard tem como ênfase, além da crítica à cultura oficial, questionamentos sobre os padrões de comportamento, tanto no repúdio aos papéis sociais impostos, quanto na quebra dos tabus contra a homossexualidade. E, mesmo passados quase cinquenta anos de suas estreias, os filmes permanecem instigantes e provocadores como pudemos testemunhar na sessão de domingo no Janela.

As cópias restauradas foram digitalizadas em 2K a partir dos elementos originais e irreversíveis da película em Super 8. Os arquivos digitais passaram por um processo de correção de cor para preservar ao máximo o caráter fotográfico original dos filmes. A conclusão do projeto está prevista para 2026 com uma mostra dedicada à obra de Jomard com exibições públicas, publicação de textos críticos e atividades de difusão de seu acervo.

Para Moacir dos Anjos foi muito bom rever os filmes e descobrir outras obras que ele desconhecia. “O Palhaço Degoladocontinua lindo, agora ainda mais, com suas cores originais restauradas e o som perfeito. O filme é um libelo pela liberdade de pensamento, uma crítica às permanências coloniais no presente, e uma declaração de amor ao cinema em Super 8”, declarou.

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