Babe, Terror | Weekend

Babe, Terror (Foto: Divulgação)

Por Livio Paes Vilela

BABE, TERROR
Weekend
[Perdizes Dream; 2009]

roughweekend1 cutTalvez o que torne a música de Babe, Terror tão interessante para alguns seja a mesma característica que a mantenha tão distante de muita gente. Cláudio Szynkier, o paulistano por trás disso tudo, faz música para ele mesmo. Se alguns acabaram gostando – um bom e influente número de apreciadores que vai da Pitchfork ao descobridor do Oasis e fundador da Creation Records, Alan McGee – foi apenas o acaso desses tempos de internet. Ele próprio afirmou, em entrevista a outro admirador famoso, Sasha Frere-Jones da New Yorker, que sua música surgiu de “um impulso irracional”, “um desejo de fazer música caseira que desse sentido aquele momento em minha vida”. Do it yourself, for yourself.

Esse cunho personalista nos sons de Babe – camadas e camadas de vozes e ruídos gravados e mixados no computador – talvez seja uma barreira difícil demais de transpor para alguns. O que não quer dizer que o caso aqui seja de hermetismo meticulosamente projetado em texturas lo-fi. A impressão que fica é que no momento do play você está mergulhando dentro do imaginário de Babe, suas crenças, suas paisagens, seus climas e ruídos. E a mente de alguém, diria o Ministry, pode ser uma coisa terrível de se experimentar.

Terrível, mas nunca impossível, que fique claro. Desde o primeiro momento, quando “Nasa, goodbye” caiu no radar de quem importava no meio de 2008, muitos dos que insistiram em se aventurar foram recompensados à altura. E isso fica ainda mais evidente em “Weekend”, disponível para download gratuito desde o começo de abril.

O álbum usa as idéias do errático EP de estréia lançado no ano passado para construir algo bem mais admirável. Das cinco músicas que constituíam aquele lançamento, apenas “Nasa, Goodbye” parecia estar disposta a ser desvendada. As outras quatro ainda permanecem assustadoras demais, confusas demais, pessoais demais. “Weekend”, pelo contrário, descortina já na abertura um ambiente mais ameno, simples e convidativo. “Weecandy” é construída a partir de um loop de vozes tão discretas que parecem sussurros, meros fragmentos de emoções formando um detalhado e (por vezes incompreensível) mosaico, característica esta que dá norte ao resto do álbum.

Em vários momentos – e aí podemos destacar a tensa e assombrada “Summertime our league” – a impressão é que se trata de um álbum de ambient music mais interessado nas sensações provocadas pelo espaço do que pelo espaço em si. Visão que por sua vez faz bastante sentido ao pensar que o título original do álbum e nome do selo de Cláudio é Perdizes Dream, em referência ao bairro de São Paulo onde mora.

Para os que irão ouvir desavisados, pegando carona com o hype, há a quase-canção “Epicentro”, que soa como Clube da Esquina reprocessado por Panda Bear, mas evoca muito mais a lembrança de um longo e ensolarado entardecer, que alguém deitado no sofá vê passando pela janela. Uma paisagem emocional compartilhada num álbum essencialmente pessoal.

Produto da segmentação experimentada pela música uma década após o Napster, “Weekend” provavelmente será ouvido por poucos. O que não impede que esses poucos sejam exatamente aqueles que vão apreciá-lo – o que até prova em contrário é um pequeno grande êxito.

NOTA: 7,5