Atirei o Pau no Gato e Outras Histórias de Terror
Lucio Luiz
Jupati Books, 92 páginas, R$36,00 / 2024
Reimaginar figuras do imaginário infantil como objetos de terror é uma estratégia até comum na cultura pop. Brinquedos assassinos, palhaços diabólicos, monstros dentro dos armários ou debaixo das camas. Partindo desse tema, mas de um jeito muito mais original e bem brasileiro, Atirei o Pau no Gato e Outras Histórias de Terror – que tem o roteiro de Lucio Luiz – eleva à última potência as características sombrias – e pouco percebidas – de algumas canções infantis.
A antologia se baseia, obviamente, nos clássicos – “Se Você Está Feliz…”, de Mario Cau, é um dos melhores exemplos de como o livro toma uma liberdade de criar em cima de versos nada específicos, e usa esse espaço pra desenhar uma história perturbadora e com desdobramentos. Técnica similar de “Brilha, Brilha Estrelinha…”, de Flávio Soares, que chama mais atenção pela parte visual, mas que também extrapola limites na interpretação.
As canções de hoje também entram na leva. Algumas delas mais difíceis de reconhecer se não houver muito contato com os produtos infantis de hoje, como a história que reimagina a música “Um Elefante se Balançava” que se tornou hit para os pequenos há apenas dois anos.
Mas também há aquelas músicas que se propagaram para todos os lados, como a famosa família de tubarões, que agora mata banhistas em “Bebê Tubarão” de Rodrigo Mazer, uma mistura do desenho gráfico com o humor; e a bizarra “Joãozinho”, de Little Goat, que realmente bota medo.
Ainda sim, alguns contos vão pela tangente, como o caso de “Cabeça de Papel”, que ocupa um número grande de páginas em comparação às outras produções, mas não apresenta horror nem comédia com um final que deixa o questionamento de qual a interpretação que o autor pretendia quando decidiu reimaginar a cantiga; ou “Dona Aranha”, que se concentra no humor e passa longe do horror.
Atirei o Pau no Gato e Outras Histórias de Terror diverte tanto pelo absurdo quanto pelos visuais. A variedade de estilos dentro da antologia também salta aos olhos, e em quase todos os casos casa bem a parte visual com o lado sombrio das histórias, mas falhas surgem e acabam chamando atenção. Por sorte, a independência das histórias permite que os problemas de certas histórias não atrapalhe outras.
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