Há sempre uma resistência por parte do público quando o artista começa a entregar trabalhos que se encaminham para novas propostas. Discos como Anti (2016) de Rihanna, Joanne (2016) da Lady Gaga e Young Now (2017) da Miley Cyrus são alguns dos registros que sofreram fortes críticas do público alvo por não corresponderem ao som anteriormente produzido pelas cantoras. Isso não foi diferente com a canadense Ariana Grande ao lançar neste ano o quarto álbum de inéditas, Sweetener.
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Deixando de lado as canções de batidas pulsantes, o flerte com o EDM e os refrões explosivos, elementos muito presentes em My Everything (2014) e Dangerous Woman (2016), obras que parecem dialogar esteticamente entre si; Ariana, em seu novo trabalho, inclina-se ainda mais para a black music, gênero que alimenta boa parte de sua discografia.
E é por meio do rap/hip-hop e do r&b do início dos anos 2000 que a canadense encontra o eixo criativo para esse álbum. Distanciando-se do pop dançante que a levou para o topo das paradas, Ariana traz um rap de batidas frenéticas, versos rápidos e acrescentados de efeitos eletrônicos em “the light is coming”; flerta com um r&b lascivo e letárgico nas ótimas “R.E.M” e “better off”; e ainda apresenta canções de som funkeado, como em “blazed”, parceria com Pharrell Willams, um dos nomes que compõem o quadro de produtores nesse disco.
Tais recursos aproximam mais ainda a cantora com as produções de artistas como Mariah Carey, Ciara e entre outros nomes que contribuíram para a black music do século 21. Não é difícil distinguir entre as 15 faixas do quarto álbum de Ariana as influências dessas cantoras, sejam nas canções de arranjos mais desacelerados que remetem a singles como “Touch My Body” de Carey e “Body Party” de Ciara ou até mesmo nas mais energéticas que flertam com o rap e um r&b eletrônico. É uma busca por fórmulas já consolidadas, mas que Grande e sua equipe de produtores sabem bem como lapidá-las para que não entreguem um som já desgastado para os ouvidos do público.
Além disso, mesmo transitando por gêneros urbanos norte-americanos, conhecidos pelas batidas e versos mais agressivos, em Sweetener há um cuidado em suavizar os arranjos, deixando-os mais sonorizados e melódicos. Tal cuidado se deve não só pela imagem já construída pela cantora no mercado da música, mas pelos temas presentes nas letras. Em “breathin”, Grande aborda as crises de ansiedades vividas por ela; na curta faixa de abertura “raindrops (an angel cried)”, a cantora lamenta-se com um quê de melodrama sobre o fim de um relacionamento; e, em “everytime”, Ariana brinca com um rap suavizado para desabafar sobre como a ausência do amado a aflige.
O amor e os relacionamentos experimentados pela cantora são os principais ingredientes para as composições desse registro. O interessante é que mesmo quando a canadense relata o esgotamento e o cansaço causado por tais experiências, ela não deixa de acreditar no amor como uma forma de enfrentar as próprias dificuldades.
O fim do namoro com o rapper Mac Miller, o atentado terrorista ocorrido durante um show da última turnê da cantora e o novo começo de uma vida amorosa, ao lado de Pete Davidson, que leva seu nome em uma das canções do disco, são fragmentos da vida de Ariana Grande que foram essenciais para dar vida a Sweetener. Um álbum que mesmo não reproduzindo exatamente o som pop dos antecessores, é um experimento assertivo ao dar um frescor e um novo enquadramento na discografia da cantora, mas, claro, sem deixar de ser coeso com a estética sonora estabelecida por Ariana desde o seu debut.
ARIANA GRANDE
Sweetener
[Republic, 2018]
Produzido por Scooter Braun, Max Martin, Pharrell William e Ilya Salmanzadeh