Alumbramentos e Perplexidades: Vivências Bandeirianas

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ManuelBandeira

MAIS UM POUCO DE BANDEIRA
Poeta-símbolo da literatura brasileira, Manuel Bandeira ganha mais uma (re)homenagem com terceira edição do documentalista Edson Nery da Fonseca
Por Fernando de Albuquerque

Alumbramentos e Perplexidades: Vivências Bandeirianas
Edson Nery da Fonseca
[Carpe Diem, 184 págs, R$ 33]

imgQue Manuel Bandeira é poeta-símbolo da brasilidade pensante todos estão cansados de ufanar. Tanto que este ano ele ganhou mais uma homenagem póstuma na Festa Literária Internacional de Paraty (Flip) e dentro da programação foi relançado Alumbramentos e Perplexidades: Vivências Bandeirianas, do pesquisador e biblioteconomista pernambucano, Edson Nery da Fonseca.

A edição é acompanhada por um CD, lançado em 2005 onde o autor interpreta 25 poemas da obra de Bandeira explorando a sonoridade musical de versos como “Pneumotórax” e “Evocação do Recife”. A edição é capitaneada pela jovem editora Carpe Diem, do advogado e imortal pernambucano, Antônio Campos. E que, aqui, ganha aplausos por trazer em uma de suas primeiras publicações esmero e deleite visual na editoração.

Alumbramentos e Perplexidades é um livro amplamente memorialista e traz artigos, palestras e audições de Nery da Fonseca sobre o poeta carioca, que era um dos seus melhores amigos, com quem mantinha regular contato através de cartas. A devoção de Nery à Bandeira é tanta que mantém como exercício diário rezar recitando “Ubiquidade”, que considera um dos poemas mais místicos da obra modernista.

A homenagem de Nery da Fonseca se deve contudo pela desenvoltura da liberdade criadora de Bandeira, cuja expressão máxima está presente em livros paradigmáticos, como Libertinagem (com primeira edição em 1930). Mas principalmente porque, do ínicio ao fim de sua obra, em diferentes instensidades o poeta se esmera em demonstrar um domínio exemplar da elaboração estética. Construindo, assim, uma obra complexa, hermética, mas fundamentada em argumentos poéticos simples e, porque não, humildes.

Em seu livro, contudo, Edson Nery cai no clichê dos argumentos que já foram construídos em toda a crítica literária brasileira (passando por Antônio Cândido, Gilda de Mello Souza, Emanuel de Moraes e Lêdo Ivo). Assim como eles, Nery recaí no leitmotiv argumentado pela tradição da crítica brasileira de que o poeta mantém aguçada consciência poética traduzida em astúcia linguística. E que seria isso o motivo pelo qual Bandeira é o clássico do Modernismo brasileiro.

Um dos pontos mais fugidios de Alumbramentos e Perplexidades está na categorização de um “Manuel Bandeira de inspiração clara e indubitavelmente religiosa” tendo como pilar para sua argumentação a desqualificação de um eventual enfraquecimento “das faculdades mentais”, no que se refere à presença do sagrado dentra da obra bandeiriana, um poeta tão assumidamente profano. E o argumento de Edson Nery cai por terra se pensarmos que Bandeira é o herdeiro nato do zeitgeist moderno, período histórico-cultural nitidamente corrosivo com os valores incutidos pelo sagrado.

Mas entre aquilo que é nitidamente profano ou sagrado, é sobre o poeta do alumbramento, que Nery se debruça em seu livro de inegável valor histórico. Ele elenca a liberdade expressiva intrínseca à Bandeira, a forte presença do biográfico, dos temas relacionados à morte, ao erotismo e ao resgate de sensações fugidias.

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