“A Queda do Céu”, filme sobre cosmologia Yanomami competindo em Cannes, ganha cartaz e teaser inédito

Estreia mundial contará com a presença dos diretores, além do xamã e líder indígena Davi Kopenawa e do antropólogo Bruce Albert, autores do livro que inspirou o longa

A Queda do Ceu still
Foto: Divulgação.

O novo longa-metragem brasileiro A Queda do Céu estreia mundialmente na Quinzena dos Cineastas em Cannes, uma mostra paralela dedicada a diretores independentes e contemporâneos. Dirigido por Eryk Rocha e Gabriela Carneiro da Cunha, o filme concorre ao Olho de Ouro (Oeil d’Or), ao Prêmio do Público (People’s Choice Award) e ao Prêmio SACD (Sociedade de Autores e Compositores Dramáticos). A sessão de gala acontece amanhã (19) no Théâtre Croisette.

AQDC Poster
Foto: Divulgação.

Além dos diretores, estarão presentes na estreia o xamã Yanomami Davi Kopenawa, um dos mais importantes líderes indígenas do mundo, e o antropólogo francês Bruce Albert. Ambos são autores do livro homônimo que inspirou o filme, considerado um clássico da literatura contemporânea.

Produzido pela Aruac Filmes, o filme é uma coprodução Brasil-Itália com participação da Hutukara Associação Yanomami, Stemal Entertainment, Rai Cinema e Les Films d’Ici. A Queda do Céu centra-se na festa Reahu, um ritual funerário crucial para os Yanomami, que visa apagar todos os rastros dos falecidos.

A narrativa do filme se baseia em três eixos do livro: Convite, Diagnóstico e Alerta, explorando a cosmologia Yanomami, o mundo dos espíritos xapiri, e o trabalho dos xamãs em proteger o céu e curar o mundo das doenças trazidas pelos não-indígenas. A obra aborda temas como o garimpo ilegal, o cerco promovido pelos “povos da mercadoria” e a vingança da Terra.

Eryk Rocha espera que o filme demonstre a relação entre os Yanomami e os napë (não-indígenas), apresentando a cultura Yanomami como viva e contemporânea, enquanto oferece uma perspectiva xamânica sobre a cultura não-indígena. Gabriela Carneiro da Cunha destaca a intenção de expressar cinematograficamente a experiência de sete anos de convivência com os Yanomami, buscando refletir tanto a visão indígena quanto a não-indígena.

Davi Kopenawa alerta: “A floresta está viva. Só vai morrer se os brancos insistirem em destruí-la. (…) Então morreremos, um atrás do outro, tanto os brancos quanto nós. Todos os xamãs vão acabar morrendo. Quando não houver mais nenhum deles vivo para sustentar o céu, ele vai
desabar.”

“Estamos no começo do fim do modelo de predação generalizada dos povos e do planeta inventado pelo ‘povo da mercadoria’ há poucos séculos. A palavra do Davi não é, portanto, uma mera profecia exótica. É um diagnóstico e um aviso”, Bruce Albert complementa.

Com a ameaça iminente da queda do céu e cercados por garimpeiros e epidemias xawara, o xamã Davi Kopenawa e a comunidade Yanomami de Watorikɨ realizam o ritual sagrado Reahu e confrontam o “povo da mercadoria” com uma crítica xamânica contundente.

Em colaboração com o povo Yanomami, A Queda do Céu segue o líder e xamã Davi Kopenawa em sua luta para restaurar o equilíbrio mundial através de rituais e comentários incisivos sobre a cultura materialista externa. A exploração ilegal de madeira, a mineração de ouro e as epidemias trazidas por estas intrusões ameaçam os Yanomami. Kopenawa utiliza seu conhecimento das forças geopolíticas para criticar as sociedades capitalistas e o estilo de vida insustentável dos países desenvolvidos, alertando sobre a sobrevivência da humanidade.