CINE PE PEDE MUDANÇAS
Com um dos menores públicos de sua história, festival precisa melhorar seleção de filmes e pensar inovações para ficar em sintonia com o cinema contemporâneo
Da Revista O Grito!
Não resta a menor dúvida que nesses seus 17 anos de existência o Cine PE organizado pela BPE produções cumpriu um papel importante para o cinema brasileiro, e mais particularmente o pernambucano. Inseriu o estado no circuito dos festivais, contribuiu para a formação do público, permitiu o intercâmbio entre cineastas, promoveu cursos e criou uma vitrine interessante para a produção fílmica. Mas, está visível que algumas reformulações deveriam ser feitas no seu formato. O bordão de festival com maior público do país, slogan que era bradado aos quatro ventos pelos organizadores, na edição 2013 deu sinais de desgaste. Pode-se culpar a chuva, as dificuldades de patrocínio, mas o problema vai além dessas intempéries.
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O principal deles é a qualidade dos longas exibidos. Não é novidade que o festival sempre teve uma grade muito irregular. Contam-se nos dedos em todos esses anos os filmes realmente dignos de estarem num festival. Cinéfilos, críticos ou simples interessados por cinema sempre se queixam disto. E isto é constatado por muitas obras que foram mostradas no Cine PE e nunca mais foram vistas em lugar nenhum, nem nas salas comerciais, nem em DVD ou até mesmo outros festivais. A edição 2013, nesse sentido, foi uma das piores e até a mostra de curtas foi fraca. Está na hora da organização do evento pensar em critérios de seleção que mudem este panorama. Filmes ruins e inexpressivos estão aos poucos afastando os espectadores.
Não se pode esquecer que nesses dezessete anos muita coisa mudou no cenário do cinema brasileiro. No final dos anos 90 quase só era possível ver filmes nacionais nos festivais. Hoje, temos uma oferta de produções muito mais variada, inclusive nas salas do circuito comercial. O público educou-se cinematograficamente e sabe muito bem distinguir um filme bem realizado de uma bomba, independente dele ser uma obra mais comercial ou um ‘filme de arte’. O número de festivais também cresceu. Aqui mesmo no Recife temos eventos muito mais interessantes e diversificados que tem atraído principalmente os jovens, cansados das pompas exageradas do Cine PE, que por vezes parece estar mais preocupado em atrair a atenção da mídia do Sudeste para ganhar uma página em revista de celebridades do que exibir bons filmes.
Correções de rota são saudáveis e tenho certeza que os pernambucanos torcem para que o Cine PE continue inserido no nosso calendário cultural. Mas a partir de agora a quantidade deve ceder seu lugar para a qualidade e a renovação do evento tem que entrar em pauta. Outros festivais tradicionais já passaram por isso, a exemplo de Gramado e Brasília, e até mesmo eventos internacionais como o sexagenário Festival de Cannes que vive buscando inovações que o mantenha em sintonia com o cinema contemporâneo.