Os pitchs para apoio ao desenvolvimento de projetos cinematográficos realizados por festivais internacionais de cinema têm sido uma ótima oportunidade para realizadores no início da carreira. Os festivais de Rotterdam, na Holanda, e o de Sundance, nos Estados Unidos, estão entre os mais concorridos e em novembro último aconteceu dentro do mesmo espírito, na cidade de Torino, na Itália, o Torino Film Lab 2024, um dos braços da programação oficial do Festival de Cinema de Torino que este ano chegou a sua 42ª edição.
O Brasil participou do Lab 2024 apresentando quatro projetos, entre eles, o do cineasta recifense Everton Melo, o curta intitulado Uncle X e os Mistérios Sobre Mim. Os demais participantes brasileiros foram a cineasta Carolina Marcowickz com o projeto de longa O Funeral e o paulistano Ricky Mastro com a série Mundinho e o longa Giulia.
Os projetos de Everton e Ricky foram selecionados através do comitê do Lovers Goes Industry, uma ala de desenvolvimento de projetos do Lovers Film Festival, o festival de cinema queer de Torino, um dos eventos mais antigos e tradicionais voltados para o cinema LGBTQIA+ na Europa. Além da oportunidade de apresentar os projetos para importantes players do setor audiovisual como representantes da Paramount Itália e da Bienale de Veneza, os realizadores passaram por um treinamento de pitching e rodada de negócios.
“Esta foi minha primeira vez participando de um pitching na indústria audiovisual. Estou saindo de Torino como um novo profissional de cinema. Os labs dessas instituições e grandes festivais fazem toda a diferença na formação de realizadores independentes. O intercâmbio com festivais internacionais como de Torino são essenciais para realizadores como eu. Vim para o Lab com uma ideia simples, mas o projeto do Uncle X está se transformando em algo bem maior e portas estão abrindo depois da minha participação”, comentou Everton Melo.
O novo curta de Everton Melo é um projeto experimental que se passa em quatro cidades: Recife, Rio de Janeiro, Nova York, e São Francisco. Uncle X e os Mistérios sobre Mim conta a busca imaginária do próprio realizador por um parente distante apagado da memória de seus parentes após deixar o Rio de Janeiro para morar em São Francisco, nos Estados Unidos, afim de abraçar a sexualidade reprimida pela sua família evangélica.
Conhecido pela sua atuação como curador, jurado e organizador de festivais de cinema queer como o Recifest (Recife) e o Slovasky Film Festival (Eslováquia), Ricky Mastro participou do Lovers Goes Industry com dois projetos: a série Mundinho, ambientada na cena underground das noites de São Paulo, onde cinco jovens atores interpretam personagens diferentes em seis episódios cujo pano de fundo são datas marcantes da história do Brasil.
Já o longa-metragem Giulia conta a história de uma mulher de 70 anos de idade que passa por um auto-descobrimento depois da morte seu marido Ettore. Morando em uma casa na cidade francesa de Toulouse, Giulia descobre cartas antigas e composições musicais sobre o passado amaroso e desconhecido de Ettore com o misterioso Lino.
“Eventos como o Lovers Goes Industry são muito importantes porque promovem a ciculação de ideias, encontros de realizadores, de produtores e de players do mercado audiovisual queer. Essa já é minha terceira participação no programa e eu sempre saio daqui com bons retornos. Principalmente na formação de parcerias criativas. É muito bacana saber que a gente está aqui apresentando um projeto que mais pra frente tem a possibilidade de ser um filme exibido no Festival de Torino”, afirmou Ricky.
Esta foi a quinta edição do Lovers Goes Industry Lab. O diretor artístico do festival, Angelo Acerbi, ressaltou a qualidade dos projetos apresentados. “Estamos felizes com a variedade de estilos e nações representadas aqui, como Brasil, Itália, França, e Alemanha. A participação de players na rodada de negócios foi acima da média neste ano. Realizamos também um workshop que vai ajudar muitos profissionais em outras rodadas de pitching da indústria pelo mundo. Já estamos trabalhando nas novas ideias para o programa em 2025”, disse Angelo.
Fora do Lovers Goes Industry, o Brasil teve a participação de Carolina Marcowickz no Torino Film Lab no programa de desenvolvimento de roteiros. A cineasta paulistana ganhou o Prêmio Grande Otelo do Cinema Brasileiro de melhor filme, direção, e roteiro por Pedágio, seu segundo longa metragem. Para Torino, Carolina levou o projeto do seu terceiro longa intitulado O Funeral. O filme acompanha a história do luto de uma família rica em São Paulo, depois da morte de seu partriaca. No funeral, uma filha clandestina de um caso do passado do falecido aparece para desestruturar as vidas de high-society da família, acostumada a privilégios.