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Detalhe da capa de Braba assinada por Pedro Cobiaco. (Divulgação).

Antologia “Braba” traz panorama instigante do quadrinho contemporâneo brasileiro

Antologia, editada no Brasil e lançada simultaneamente nos Estados Unidos, revela a criatividade e ousadia da produção nacional

Antologia “Braba” traz panorama instigante do quadrinho contemporâneo brasileiro
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Braba – Antologia Brasileira de Quadrinhos
Rafael Grampá, Janaína de Luna, Eric Reynolds (org). Amanda Miranda, Bruno Seelig, Diego Sanchez, Gabriel Góes, Jefferson Costa, Jéssica Groke, João Pinheiro e Silene Barbosa, Paulo Crumbim e Cristina Eiko, Pedro Cobiaco, Pedro Franz, Rafael Coutinho, Shiko e Wagner Willian (arte)
Mino, 168 páginas, R$ 98, 2024


Ler Braba – Antologia Brasileira de Quadrinhos é como entrar num furacão, desses de nível 5, e ser arrastado para um vertiginoso redemoinho de cores, formas e narrativas. E, curiosamente, quando chegamos na última página, podemos estar até sobressaltados, contudo, podem acreditar, já estamos com vontade de enfrentar outra vez a tempestade para saborear cada quadro e reviver essa explosão de criatividade e ousadia de quinze dos mais talentosos quadrinistas brasileiros.

A coletânea organizada pelo quadrinista Rafael Grampá e editora Mino, com a colaboração editorial de Janaina de Luna e Eric Reynolds, é a primeira antologia de quadrinhos feita no Brasil e coproduzida e publicada simultaneamente com uma editora estadunidense, no caso a Fantagraphics. A parceria é pioneira na América Latina e demonstra o crescente valor e interesse pela produção nacional de quadrinhos além das nossas fronteiras.

O início de produção da Braba foi logo após a pandemia em um dos momentos de maior tensão política da história recente do Brasil. Os artistas Amanda Miranda, Bruno Seelig, Diego Sanchez, Gabriel Góes, Jefferson Costa, Jéssica Groke, João Pinheiro e Silene Barbosa, Paulo Crumbim e Cristina Eiko, Pedro Cobiaco, Pedro Franz, Rafael Coutinho, Shiko e Wagner Willian foram então convidados a fazerem um manifesto pessoal em quadrinhos sobre um tema de escolha própria. 

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Arte de Amanda Miranda, que abre a antologia. (Divulgação).

O resultado dessa empreitada pode ser avaliado nas 168 páginas da publicação, com capa e contracapa de Pedro Cobiaco e Bruno Seelig, em uma bela edição que não pode faltar no acervo de qualquer colecionador. Uma das marcas da coletânea é o arrojo estético de cada um dos trabalhos apresentados. Acompanhadas de um texto de introdução aos quadrinistas, as histórias publicadas traçam um percurso dos quadrinhos contemporâneos produzido no Brasil em que fica claro que a experimentação formal e a afirmação de uma identidade autoral são a busca comum de todos os artistas.

Uma outra coisa que chama a atenção em todas as HQs é o requinte visual trazido por cada autor, exigindo dos leitores um olhar não apenas sensível e aberto, mas que seja capaz de observar a construção das narrativas em profundidade. Só para exemplificar, podemos destacar a HQ que abre a antologia, de autoria de Amanda Miranda, em que a fragmentação e o ritmo frenético dos inúmeros quadros entrelaçados pedem uma leitura acurada, pois é da percepção atenta de cada plano, de cada detalhe que as camadas de sentido emergem.

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Arte de Pedro Franz (Divulgação).

O mesmo é válido para Pedro Franz que, seguindo sua veia de artista experimental, oferece um poema gráfico inspirado no ato de desenhar, apagar e redesenhar numa mesma folha de papel por um longo período.  A partir desse experimento, Franz nos leva a refletir sobre o ato de criar e traduzir em traços os sentimentos que acompanham esse processo. Não menos impressionante é o “tarô” de Gabriel Góes com 22 pranchas em página inteira propondo uma leitura das cartas que coloca o homem diante da serenidade da natureza e a violência.

Vale ressaltar aqui que o rebuscamento formal das histórias, não significa a colocação, em segundo plano, das questões humanas, sejam elas de alcance social ou voltadas para o campo do comportamento.

Os dilemas ambientais, o cotidiano das ruas, as relações interpessoais ou as fabulas modernas expressas nas doze HQs mostram artistas sintonizados tanto com o que acontece nas periferias das grandes cidades e suas expressões visuais, como o grafite e o picho, quanto com as influências de outros gêneros dos quadrinhos, a exemplo do mangá. 

Diante disso só nos resta ir correndo ler Braba, pelo que ela tem de liberdade e força de imaginação retratada nos manifestos de cada artista, os quais, embora sejam pessoais, ressoam e nos remetem ao que somos nesse país belo, potente e contraditório.

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