Teatro do Parque, Recife (PE)
O penúltimo dia do Animage lotou mais uma vez o Teatro do Parque com a Mostra de Animação Erótica, cuja curadoria foi assinada pelo segundo ano consecutivo pela produtora audiovisual Nara Aragão. O sábado (5) também foi marcado pela exibição da Mostra Pernambuco no Teatro do Parque com um bate-papo com o diretores após a sessão. O quinto dia do festival apresentou mais uma rodada especial da Mostra Andrea Hykade no Cinema da Fundaj/Derby, dessa vez com a participação e debate com o animador homenageado.
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Esta é a primeira visita de Andrea Hykade ao Recife. O realizador é conhecido pelo seu trabalho de animação infantil e já esteve no Brasil outras vezes apresentado seus curtas no festival Anima Mundi no Rio de Janeiro. A convite do Animage, Hykade também realizou a oficina “Animação em Ação” no Centro Cultural Brasil Alemanha, no Centro do Recife. “Foi uma oficina inspiradora. Houve uma variedade no perfil dos participantes da oficina com pessoas de várias segmentos, inclusive artistas de grafite,” comentou à Revista O Grito!.
O animador fez a curadoria da mostra que leva seu nome e optou por mostrar uma faceta diferente do sua arte, geralmente focada no público infantil. “Metade do meu trabalho é feito para crianças. Eu queria deixar isso de lado neste festival. Alguns dos curtas que eu escolhi são animações autobiográficas para que o público pudesse ver a conexão entre os filmes. Principalmente o último curta “Love & Theft” de 2010 que representa uma homenagem à animação e meu retorno à alegria de animar imagens. Eu tinha perdido esse sentimento com o tempo criando em modo automático no mercado de design voltado para o público infantil,” destacou Hykade.
Mostra Pernambuco
A Mostra Pernambuco trouxe quatro filmes bem diferentes entre si que apresentam a diversidade técnica e narrativa da produção local. Foram exibidos Hoje Eu Só Volto Amanhã, de Diego Lacerda, Alguma Coisa com Plutônio, de Raoni Assis, A Menina e o Pote, de Valentina Homem e Tati Bond e Mergulhão, de Juliana Soares e Rogi Silva. Em comum, a maior parte dos curtas trazem uma inspiração com Recife e Olinda ao abordar questões importantes das duas cidades e usá-las como cenário.
O curta-metragem Hoje Eu Só Volto Amanhã, de Diego Lacerda, traz diferentes pontos de vista de um grupo de foliões em Olinda em pleno Carnaval. Poucos filmes conseguiram retratar tão bem a energia da folia de Momo nas ladeiras do Sítio Histórico como esse. Quem também trouxe elementos do Carnaval foi a animação Mergulhão, de Juliana Soares e Rogi Silva. Baseado na HQ de mesmo nome, o curta mostra um garoto com máscara de La Ursa vivendo diferentes experiências na periferia do Recife.
Completaram a seleção Alguma Coisa com Plutônio, uma animação de Raoni Assis e A Menina e o Pote, de Valentina Homem e Tati Bondi, um filme sobre a relação das culturas indígenas com o meio ambiente e falado na língua nheengatu.
Mostra Erótica segue sendo um hit
Depois da Mostra Pernambuco, o longa americano Boys Go to Jupiter de Julian Glander antecedeu a sessão mais esperada da noite, a Mostra Erótica, que já no seu 12º ano no Animage se consolida como uma das mostras mais populares do evento.
“O sucesso de público da Mostra Erótica pode ser explicado de duas maneiras: primeiro faltam espaços para explorar artisticamente a sexualidade e o erotismo de forma lúdica e saudável através da fruição artística de qualidade. O outro fator é que existe uma demanda por conteúdo de animação adulto. A animação vai muito mais além do público infantil. É um erro fazer essa associação redundante. A programação do Animage tem provado isso a cada edição,” explicou a curadora Nara Aragão.
Segundo Nara, a pesquisa para a curadoria da Mostra Erótica começou logo após o festival do ano passado. “Dessa vez eu quis trazer filmes que tratam de questões profundas, debatendo temas de identidade de corpos e complexidades da prática sexual. Foi uma mistura de obras bem lúdicas, divertidas, com obras mais sérias como o mini-doc francês Girls Are Made to Make Love e obras de destaque no cinema mundial como o curta La Perra de Carla Gambert da Colômbia, que participou do festival de Cannes”, explicou Nara.
O público sorriu, refletiu, aplaudiu, e saiu do cinema com o um desejo de “quero-mais” que tomou conta do Teatro do Parque após a exibição do último curta.
“Foi a primeira vez que eu assisti a Mostra Erótica. Me atravessou muito as cores, os corpos, as texturas. Eu acho que a mostra foi muita assertiva possibilitando a sexualidade e erotismo nessa perspectiva de arte e criação,” comentou João Pedro de 28 anos, psicólogo e sexólogo, uma das pessoas satisfeitas com o conteúdo da sessão. O designer curitibano radicado no Recife, Bruno Vendramentto de 31 anos, prestigiou a mostra pela segunda vez e saiu animado com a reflexão provocada por curtas que debateram a sexualidade feminina. “Como homem gay, o doc Girls Are Made to Make Love me ajudou a entender melhor o drama de uma relação heterossexual, cis-gênera dentro de uma instituição que é o casamento. Achei muito legal como o tema foi apresentado com as ilustrações sobre os desafios da sexualidade da mulher. Nós gays vivemos numa bolha que a gente acaba esquecendo que esse drama existe,” destacou Bruno.