A história do pop está repleta de álbuns sobre jornadas de sobriedade, um esforço criativo e humano dos artistas em superarem vícios e momentos difíceis através da arte. Saint Cloud, de Waxahatchee, nome artístico da cantora e compositora Katie Crutchfield, é mais uma dessas narrativas.
Trafegando pelas possibilidades do country alternativo e outras propostas sonoras inspiradas em sua terra natal, o Alabama, o novo trabalho de Crutchfield é sofisticado o suficiente para usar órgão e piano, mas também mantém a crueza da balada ao violão para revelar sensações mais intensas. Com produção de Brad Cook, a artista abandonou nesse quinto disco de estúdio o estilo indie-rock que estava acostumada e buscou uma reconexão com suas raízes sulistas.
O disco trabalha questões sobre amor, relacionamentos e outras observações da vida sob a ótica sincera da busca pela sobriedade. Este é o primeiro disco gravado pela artista desde que parou de beber. Por isso as faixas por vezes transparecem esse momento de maior estabilidade, como em “Fire” (“amanhã pode ser como daqui a cem anos/ mais sábio e mais sintonizado”) e em outras falam da luta contra a dependência, como na linda “Oxbow”.
Nesse terreno alternado que é a luta contra a dependência, Crutchfield finalmente alcança uma planície mais calma onde compartilha com o ouvinte momentos de muito conforto e prazer, como na linda “The Eye” e na animada “Can’t Do Much”. Destaque também para “Wictches”, uma ode folk para as melhores amigas citadas nominalmente na faixa: “Marlee (Grace, a dançarina que aparece no clipe de “Lilacs”), Lindsey Jordan, a Snail Mail, e a sua irmã e também artista Allison Crutchfield.
Com uma interessante abordagem das referências sulistas no rock e uma composição bastante emotiva e honesta, Saint Cloud é um dos trabalhos mais interessantes em seu gênero lançados este ano.
WAXAHATXCHEE
Saint Cloud
[Merge Records, 2019]