Entre o tradicional e o moderno, entre a figura e o abstrato, entre o social a luta, a acordeonista Vitoria Faria, apresenta seu álbum de estreia, Vacas Exaustas, que chega na próxima quinta-feira, 29 de maio. Com as participações de Assucena Assucena, Flaira Ferro, Vênus Galard e Luiza Brina, o álbum apresenta dez canções com produção de Guilherme Kastrup e traz a experiência de uma instrumentista que viveu 4 anos em Portugal como artista, mulher e latino-americana.
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“Esse disco é fruto do meu processo de imigração. Eu tentei a vida fora do Brasil e morei 4 anos em Portugal. Nesse período passei a constatar diversas sensações dentro do meu corpo que iam para além das que eu já sentia sendo mulher. Dessa vez eu era uma mulher brasileira, latino-americana, dentro de um país europeu colonizador. Naquele momento eu entendi na pele a construção da sociedade patriarcal e capitalista que a gente vive. Por mais que essas pessoas sejam a base dessa pirâmide e sustentam todo o funcionamento do país, não é para essas pessoas que o dinheiro retorna ou a visibilidade, a voz ou espaço. Então eu me sentia pisoteada dentro daquele contexto, completamente objetificada” , comenta a Vitoria Faria.
Vacas Exaustas é um espaço de experimentação da artista que explora pela primeira vez o lado cantora e compositora. Nascida em Piracicaba e criada em Campinas, Vitoria cresceu numa família de artistas. Sua mãe, a artista plástica Natasha Faria foi quem criou as máscaras usadas nas fotos de divulgação e no clipe homônimo ao álbum, e o padrasto mestre de mamulengo, trouxeram uma formação bem tradicional de cultura Nordestina.
O encontro com o produtor Guilherme Kastrup trouxe um lado mais moderno e eletrônico para o som e ajudou Vitoria Faria a achar o caminho da diversidade que gostaria para as canções.
Nas participações especiais, Vitoria trouxe artistas com quem já colaborou no decorrer dos anos, como Assucena Assucena (hoje ela faz parte da banda que acompanha a artista baiana), Luiza Brina, Flaira Ferro e Vênus Galard (que faz parte da banda de Vitoria). E essas participações também ajudaram a dar o tom de diversidade do disco, que navega entre o forró, tango, MPB e blues. O projeto contém mais de 30 mulheres que trabalharam para que o disco se tornasse realidade.
“Na elaboração deste álbum, percebi que a narrativa abordada era uma problemática estrutural presente não só no Brasil, mas presente em todo o sistema. Eu queria que o disco conversasse com pessoas diversas. Gente do mato e gente da cidade, gente da festa, do baile funk e do sossego. Dentro dessa proposta, as artistas convidadas que dão voz e sentido ao trabalho. Como Assucena representando a Bahia e a voz de uma mulher artista brasileira trans; Flaira Ferro, uma grande compositora e cantora pernambucana, dançarina de frevo, mãe. Dentre outras convidadas que somaram a essa ficha técnica vozes e pontos de vista”, reflete Vitoria.
