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Com sede de sangue, Pooh ataca qualquer um que se aproxime. (Foto: Divulgação/California Filmes).

Ursinho Pooh: Sangue e Mel falha terrivelmente em transformar o adorável personagem em uma figura macabra

Adaptação tenta mostrar lado sombrio e sanguinário do ursinho e seus amigos, mas resultado é uma fábula de terror tosca e surpreendentemente misógina

Ursinho Pooh: Sangue e Mel falha terrivelmente em transformar o adorável personagem em uma figura macabra
0.6

Ursinho Pooh: Sangue e Mel
Rhys Frake-Waterfield

Reino Unido, 2023, 1h24, 18 anos. Distribuição: California Filmes
Com Nikolai Leon e Maria Taylor
Em cartaz nos cinemas

Criado pelo escritor A. A. Milne nos anos 1920 e posteriormente adaptado pela Walt Disney, que detém os direitos da animação, o fofo e carismático ursinho amarelo da literatura infantil retorna às telas em uma versão sanguinária e macabra em Ursinho Pooh: Sangue e Mel, do diretor Rhys Frake-Waterfield. Seguindo a onda de adaptações de clássicos literários que recentemente entraram em domínio público, a produção chega para transformar o inofensivo personagem em um monstro do terror. O resultado, porém, é um filme tosco e tenebroso no pior sentido da palavra.

Nessa releitura, Pooh e o porquinho Leitão se tornam duas feras assassinas após serem abandonados pelo amigo Christopher (Nikolai Leon), que agora cresceu e teve que ir para a faculdade. Ressentidos, eles matam qualquer humano que se atreva se aproximar do Bosque dos Cem Acres. No entanto, a premissa, que tinha tudo para render um bom slasher, vira um terror terrivelmente fraco e de péssimo gosto, que nem mesmo o baixo orçamento consegue advogar a favor dele.

São tantos problemas que fica difícil elencar, mas o pior, sem sombra de dúvidas, é o modo como roteiro e direção tratam suas personagens femininas — que aqui compõem a maioria do elenco, já que a história gira em torno de um grupo de amigas que viajam juntas para uma casa na floresta. Óbvio, como toda produção do gênero, o longa é repleto de cenas de violência e muito sangue, mas o ponto é que: todas as cenas de violência mais brutal e todas as mortes com maiores requintes de crueldade são reservadas às personagens mulheres.

Isso é algo que fica especialmente evidenciado pela decisão de incluir cenas que servem unicamente para fetichizar os corpos femininos, seja quando uma das amigas aparece só de biquíni em poses sensuais em cima da própria cama ou quando o Pooh está prestes a fazer uma das garotas de vítima e a puxa com tanta força que arranca sua blusa e ela fica de topless. A impressão é de que a releitura do Ursinho Pooh figura em segundo plano, apenas como a desculpa que Frake-Waterfield encontrou para criar uma fábula de terror misógina.

Enquanto isso, os diálogos são patéticos e a caracterização nada convincente. Tudo isso se soma ainda a uma série de escolhas de direção, roteiro e montagem que sequer conseguem injetar boas doses de suspense na narrativa. E, se por um lado o filme poderia arrancar boas risadas, até essa chance é desperdiçada já que o péssimo gosto para retratar as mulheres é o que prevalece. Em geral, parece que há um esforço genuíno para que nada funcione na trama e a má notícia é que a história deve ganhar ainda uma sequência.

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