Finalista da primeira edição do reality Drag Race Brasil, Hellena Malditta deu uma verdadeira aula de HIV no Drag Race Brasil, temporada exibida em 2023. Junto de Betina Polaroid, Miranda Lebrão e Organzza, a drag queen de Salvador foi a única representante do Nordeste na competição. Hellena chamou a atenção por sua polidez, beleza e seus posicionamentos marcantes. Um dos momentos mais simbólicos da temporada veio de uma revelação da queen, que compartilhou com o público viver com HIV há pelo menos 10 anos — desde os 17.
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A partir da revelação do diagnóstico HIV+ no programa, a queen teve outro momento marcante relacionado ao tema. Em um desafio de passarela inspirado na artista luso-brasileira Carmen Miranda, Hellena resolveu utilizar sua relação com o vírus de forma criativa. Ela conta como surgiu a ideia de desfilar com o laço vermelho — símbolo da luta contra o HIV. Originalmente o desafio seria de criação de um adereço de cabeça com o tema “desafie a gravidade”. “Em uma conversa profunda com a minha irmã ela me devolveu o questionamento me perguntando “Marcos, qual o maior peso que você já carregou?”. Ali chorei muito e soube que talvez tivesse algo a mais sobre a minha participação”, revela.
Outro momento marcante da trajetória da queen foi o tradicional “Snatch Game”, desafio de imitação de celebridades. Hellena ganhou a prova dando vida à socialite Narcisa Tamborindeguy. “Então, ter tido um bom desempenho e se tornar algo memorável me enche de felicidade e orgulho, pois sei o tamanho do esforço que fiz para sair da minha zona de conforto”, detalha a queen.
Sua jornada no Drag Race Brasil começou com uma simples postagem no Instagram que procurava drag queens para um novo projeto. “No post ainda não tinha especificado para se seria Drag Race ou não, (soubemos) só depois de preencher as informações”, relembra.
Apesar de estar rodando todo o Brasil levando sua arte drag, inclusive com passagem pelo Recife durante o Halloween para apresentação no Club Metrópole, Hellena não se esquece de onde veio. “Hoje vejo que a cena drag de Salvador é umas das que tem menos acessos e uma das mais potentes, pois lá aprendemos de tudo e é normal para nós sermos completas”, afirma.
Nesta entrevista para a Revista O Grito!, Hellena Maldita compartilha sua jornada, expectativas e desafios enfrentados até agora.
Você se considera uma miss clubber?
Não definiria assim, sou realmente uma drag versátil que gosta de experimentar estéticas que sei que me caem bem. Apesar de atualmente estar adotando a beleza mais clean na maior parte das vezes.
Lembra como foi se montar pela primeira vez? E de onde surgiu a Hellena Malditta?
Me montar pela primeira vez foi uma experiência reveladora, pois ali descobri alguém que dividia espaço comigo, alguém com poderes de fazer tudo que minha criança não podia.
É verdade que sua jornada no Drag Race Brasil começou com uma simples postagem no Instagram que procurava drag queens para um novo projeto?
Sim, no post ainda não tinha especificado para se seria Drag Race ou não, só depois de preencher as informações. Mas sabia que se não ao menos tentasse, não teria como entrar, independente do que fosse.
Como foi ser a única representante do Nordeste no cast do Drag Race?
Foi uma surpresa ao chegar e ver que era a única nordestina, pois sei a potência artística das queens dessa região, então tinha que arrasar pra nos representar bem, e sei que nas próximas teremos mais queens nordestinas para mostrar a nossa qualidade artística.
Como foi a preparação para entrar no Drag Race? É verdade que sua mãe e seu companheiro lhe ajudaram?
A produção foi intensa, pois por saber costurar e não querer quebrar o sigilo do contrato, resolvi fazer o máximo que deu por conta própria. E como sempre tive apoio da minha família, contei com a ajuda deles também. Minha mãe e meu ex ornamentaram praticamente tudo comigo e também contei com peças exclusivas e de acervo do Ateliê Antara Gold que elevaram o nível da minha produção.
Como define a cena drag de Salvador? Você tem uma mãe drag? Quais são as suas maiores influenciadoras lá?
Hoje vejo que a cena drag de Salvador é umas das que tem menos acessos e uma das mais potentes, pois lá aprendemos de tudo e é normal para nós sermos completas, e sendo humilde digo que muitas de nós (drags brasileiras) somos do mesmo nível e até melhores que várias americanas superestimadas.
Não tenho mãe drag, minha maior motivação para explorar a maquiagem foi justamente as primeiras temporadas de Rupaul, e não tive contato suficiente com a cena no início para ter uma mãe, mas tenho drags que considero como irmãs e madrinhas que me ajudaram muito no percurso e me inspiram até hoje, como Malayka SN, Tanucha Taylor, Saratyelly Koslowsky, Valerie O’rarah, Jessica Bhender, Vick, Aimée Lumière, DesiRée Beck, entre outras artistas que são referência para nossa cena.
A partir da revelação do diagnóstico HIV+ no programa, você teve um dos momentos mais marcantes relacionados ao tema. Como surgiu a ideia de desfilar com o laço vermelho, símbolo da luta contra o HIV, na prova de Carmem Miranda?
Originalmente, faria um look sobre o universo da moda e costura que foi o que me levou à arte drag, mas o tema da runway era “adereço de cabeça, desafie a gravidade” e em uma conversa profunda com a minha irmã ela me devolveu o questionamento me perguntando “Marcos, qual o maior peso que você já carregou?”. Ali chorei muito e soube que talvez tivesse algo a mais sobre a minha participação, me fazendo pensar até no porquê de ter recebido essa oportunidade na vida, e fico feliz de hoje conhecer tantas pessoas e poder ser um conforto ou representação de força pra elas de alguma forma.
Quando e como descobriu que havia se tornado uma pessoa vivendo com HIV?
Eu descobri pois, aos 17 anos, tive uma relação sem preservativo e, logo após, já me senti culpado sabendo que poderia ter me exposto a algo sem saber. Fui ao posto médico, mas, na época, PEP e PREP ainda não estavam disponíveis e minha opção foi esperar o período de janela imunológica para refazer os exames. Três meses depois retornei e recebi o diagnóstico positivo e iniciei o tratamento.
‘Ai, que loucura!’. Qual a sensação de ter sido um dos maiores destaques do Snatch Game, uma das mais temidas provas do reality?
Na minha trajetória de concursos tenho costume de me desafiar nas provas mais inusitadas. E, sim, estava com medo, principalmente, por não ser alguém do teatro, e não confiava no meu tom de comédia, mas sempre fiz minha família rir e estudei muito a personalidade da Narcisa Tamborindeguy para me entregar de verdade no desafio. Então, ter tido um bom desempenho e se tornar algo memorável me enche de felicidade e orgulho, pois sei o tamanho do esforço que fiz para sair da minha zona de conforto.
Você é tranquila consigo mesma ou se cobra bastante?
A terapia tem me ajudado muito a processar tudo que trago da minha vida e depois da exposição mundial. Mas sou ou – pelo menos costumava – ser minha maior hater/inimiga, a ponto de preferir me ferir do que abrir mão do polimento ou o mais próximo possível da perfeição irreal. Mas hoje tenho exercitado me parabenizar mais e me cobrar menos e tenho voltado a me divertir fazendo drag e está sendo incrível.
Você tem hater? Se sim, como lida com eles?
Se tenho haters realmente não vejo, não procuro ver também. Nada que apresento, visto ou falo são coisas que não acredito, então fico muito tranquila sabendo que depois desse um ano de exibição, quem ainda me acompanha é porque gosta do meu trabalho. Além de ter uma fanbase muito fervorosa que me dá muito carinho e me faz acreditar ainda mais em mim.
E quais os louros do programa na sua carreira?
Infelizmente, não posso dizer que enriqueci ainda, mas o programa além de me permitir continuar fazendo essa arte (coisa que eu ia parar por não ser valorizado no nosso país, a não ser que você tenha visibilidade) também foi um momento de muito autoconhecimento, tenho tenho curado muitas feridas com o amor que recebo e com a confiança que venho conquistando.
Mas acho que o mais importante foi ter sido uma porta-voz para as pessoas positivamente vivas, onde recebo mensagens diárias sobre diagnósticos ou desabafos que a pessoa só consegue contar para mim, e os abraços mais sinceros onde sinto que podemos dividir todo esse sentimento que até hoje não consigo explicar.
E o que podemos esperar de novidades da sua drag em breve? Quais projetos pode adiantar para os fãs?
Eu estou numa vibe Anitta hahaha, estou vivendo tudo que essa oportunidade está me proporcionando e procurando fazer tudo com base para se tornar sólido, minha trajetória não começou agora e sei que não está nem na metade, existe muita tempestade dentro de mim que só podem passar virando arte, então continuarei fazendo o que faço de melhor, a Hellena Malditta.
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