Cantora pernambucana, Duda Beat virou fenômeno na internet ao transformar suas decepções amorosas em hinos de amor próprio. Tudo isso está reunido em Sinto Muito, disco de estreia da artista. Duda sabe exatamente o que é sofrer de amor e se joga para revelar suas feridas. As músicas dela são como um desabafo ácido sobre as relações contemporâneas. Como libriana, ela se apaixona sem medo de ser feliz. Nascida Eduarda Bittercourt, saiu do Recife para o Rio de Janeiro há 13 anos.
Duda Beat já foi até chamada de Dua Lipa brasileira. A artista une batidas do synthpop com o brega, passeando pelo axé e o reggae. No palco, ela abusa de um visual moderno com brasilidade nos seus figurinos. Aos poucos, ela está ganhando espaço na cena musical alternativa e se prepara para se apresentar no Recife no festival No Ar Coquetel Molotov, no próximo dia 17 de novembro.
Confira o papo que batemos com a cantora.
Você é pernambucana, mas há quanto tempo você mora no Rio de Janeiro?
Eu sou pernambucana, mas moro no Rio há 13 anos já. Vim pra cá desde o começo de 2005 para estudar e acabei me apaixonando pela cidade e ficando por aqui.
Qual a origem do seu nome artístico? De onde veio o “Duda Beat”?
Meu nome é Eduarda Bittencourt, Duda Bittencourt. Foi um grande processo para descobrir esse “Beat”. No começo isso ia ser “Bit” que é como se escreve o meu nome, de “Bit”. Como eu queria uma coisa mais musical, uma grande amiga minha, a Camila, me deu essa ideia de ser o “Beat” de “batida”. No início, eu fiquei um pouco reticente por que eu pensava que as pessoas podiam achar que eu era uma rapper, uma coisa assim, mas depois eu pensei do grande movimento que tem na minha terra, que é o manguebeat. Não tô pegando nada de ninguém, é uma coisa intrínseca.
“Acho “sofrência pop” maravilhoso, é uma sofrência pra dançar. O objetivo era esse: que as pessoas tivessem sofrendo, mas que elas dançassem”
O seu disco fala muito de Pernambuco. Qual sua relação com a música pernambucana? De que forma influenciou sua formação?
A música pernambucana com certeza influenciou na minha formação musical, cresci ouvindo os bregas do Recife, ouvindo maracatu, ouvindo frevo. Então eu acho que essa memória musical que tenho de Pernambuco é muito forte e, com certeza, está muito presente no meu trabalho. Cantores como Lenine, Alceu Valença, o próprio frevo mesmo, o maracatu, que são coisas que me fascinam e que eu tento sempre na minha obra.
Isso foi uma preocupação minha grande desde o início por que, como as minhas músicas são muito eletrônicas, tem batidas, eu ficava um pouco preocupada de não ter essa referência, mas acabou tendo um pouco. Eu consegui trazer um pouco do brega daí na canção “Bédi Beat” e, no próximo disco, eu pretendo trazer mais do que a minha terra tem de maravilhoso, que é a cultura, a música, que inspira cultura e isso, sem dúvida, reflete no meu trabalho.
Como foi planejada a sonoridade do álbum Sinto Muito?
A sonoridade do álbum não foi muito bem planejada. Na verdade, eu cresci com o Tomás Troia, que era meu amigo de infância, então as nossas referências eram bem parecidas. A gente escutava praticamente as mesmas coisas, então muitas coisas eu trouxe. Falando assim: “eu quero uma coisa mais parecida com isso!”. Mas ele me entendia completamente por que já era um disco, uma música que ele gostava. Acabou que ficou tudo em casa. Não foi muito planejado não.
Eu sabia que eu queria ter um reggae no meu disco, um brega, uma música mais latina, que é a “Bixinho”. Essas eu sabia e as outras eu fui descobrindo ao passar do tempo e, enfim, toda vez que eu fazia uma melodia na minha cabeça, eu acabava trazendo isso pro Tomás: “olha, eu fiz essa melodia aqui. Rapaz, eu acho que isso tem a ver com um dub, com um trap…”. E foi assim que a gente fez o disco.
O seu som é definido às vezes como “sofrência pop”. Como avalia essa definição?
Eu acho a definição de “sofrência pop” perfeita pro meu som por que é uma sofrência mesmo, né? (risos) Eu sofri pra caramba por amor e, enfim, por todas as coisas que eu queria conquistar e foi difícil pra mim não conseguir. Agora eu tô conseguindo graças à transformação da minha arte, do meu sofrimento em arte. Então, eu acho perfeita essa definição e é pop mesmo. É pop por que eu acabo dentro do meu disco trazendo várias sonoridades como eu já havia dito: tem o reggae, um axé lento, trap, brega… Então, acabo conversando com vários estilos musicais, que me tornam uma cantora pop. E acho “sofrência pop” maravilhoso, é uma sofrência pra dançar. O objetivo era esse: que as pessoas tivessem sofrendo, mas que elas dançassem. Eu acho que consegui, né? (risos).
Trazer amor e relacionamentos frustrados é comum também para artistas da cena independente como Letrux, Johnny Hooker, entre outros. É uma tendência nas relações atuais e isso atinge o trabalho de vocês?
Essa tendência do amor frustrado acabar ilustrando as músicas de novos compositores é um pouco sobre o que o mundo está refletindo. Hoje em dia, por exemplo, para pessoas românticas como eu que curtem aquele amor recíproco e que dura, acabam sofrendo com essa modernidade líquida nos relacionamentos, como diz o Bauman (o filósofo polonês Zygmunt Bauman).
Eu sempre digo isso: desde que inventaram essa história de “ficar”, os românticos se lascaram, né? Você fica aqui, depois fica ali, depois fica lá… e acaba não se apegando a ninguém. Isso é uma dificuldade minha. Eu sou uma pessoa que gosta do amor romântico, que sinto esse amor romântico. Então pra mim é muito difícil e realmente acabou refletindo nas minhas letras e isso para mim realmente era um problema. Nesse momento eu estou namorando, estou super feliz e consegui achar esse meu amor recíproco, que era esse meu amigo de infância, que era o Tomás, que produziu o meu disco. A gente acabou se apaixonando no meio do processo, foi maravilhoso pra mim.
Eu tenho essa dificuldade mesmo e acabo colocando nas minhas letras. Eu acho que é uma coisa geral por que hoje em dia quem é romântico, sofre com essa modernidade e acaba colocando nas letras o que elas sentem, então é uma tendência sim.
As letras do álbum abordam um certo empoderamento. De que forma considera importante falar disso?
Falar sobre empoderamento é essencial. Sempre depois da tristeza e da dor profunda, tem que vir o empoderamento. Essa é a ordem natural das coisas. Se não, você fica preso ali na tristeza pra sempre e isso não pode acontecer. Falo sobre empoderamento nas minhas letras, mas apesar de falar em todas as letras que estou sofrendo, que tô triste, que o cara não me queria, eu tô abordando de forma meio debochada por que eu também sou um pouco assim. Sempre que eu estava sofrendo aquelas situações da minha vida, eu estava meio que debochando de mim mesma, sabe? Eu falava: “Eu toda bonitinha, toda arrumadinha e o cara nem me olha… Meu Deus, que absurdo!”.
Então sempre estava debochando um pouco de mim e quando eu fiz a “Bolo de Rolo”, que é a música que reflete esse empoderamento, que falo: “Eu não vou buscar a felicidade em mais ninguém”, foi por que realmente eu senti aquilo. Brinco que é sempre algo que minha mãe falava: “Você não tem que buscar a felicidade em ninguém, minha filha. A felicidade está em você!”. Isso é uma coisa que a gente sempre escuta, isso é clichê, mas é muito verdadeiro. No momento que eu resolvi que eu nem queria, mas isso e a felicidade estava dentro de mim, que eu estava conseguindo fazer meu álbum, eu acabei me apaixonando e sendo apaixonada e sendo amada.
Foi o final do ciclo e o final de um ciclo de terror com uma bênção muito grande, que é o meu relacionamento com o Tomás. É extremamente importante cantar músicas de empoderamento. Pessoas que fazem muitas canções de tristeza têm que trazer esse arrebatamento do empoderamento no final para que as pessoas não mergulhem num sofrimento total, dentro desse universo que é o meu disco. Acho essencial, muito importante e vai haver outros, com certeza.
Como tem sido o retorno do trabalho até agora?
O retorno do meu trabalho tem sido perfeito, no melhor do que eu imaginava, estou com milhões de players no Spotify, estou crescendo na minha página no Instagram, no Facebook… Mas melhor do que tudo isso está sendo a resposta das pessoas. Tenho recebido muito inbox, muita mensagem das pessoas dizendo como meu disco ajudou a superar um relacionamento, pessoas que terminaram casamento e me mandam mensagem: “poxa, terminei meu casamento e tô ouvindo seu disco e tô melhor”. Isso pra mim eu acho que é a melhor parte de tudo. Melhor do que número, melhor do que player, é saber que você tocou as pessoas com a sua arte. Isso pra mim é a melhor coisa do mundo. É o que me mostra que a minha arte é verdadeira, né? É o fato de ter tocado as outras pessoas e delas sentirem junto comigo e dizerem: “parece que você escreveu essas músicas pra mim.”.
Ou seja, é um sintoma realmente da sociedade, essa questão de amor não correspondido é um sintoma geral e eu fico muito feliz em sentir essa identificação das pessoas com a minha arte, isso é o melhor retorno que um artista poderia querer.
No Recife, você se apresentou no MECABrennand em setembro e agora se prepara para o Coquetel Molotov no próximo dia 17 de novembro. Como está se sentindo?
Tocar no Coquetel é a realização de um sonho. É um festival muito maravilhoso conhecido em Recife, que todo artista sonha em tocar. Toquei no MECABrennand e fui recebida de braços abertos, as pessoas todas cantando as minhas músicas e eu não espero menos do Molotov, aquela bem ambiciosa (risos). Não espero menos agora, lá deve ter uma galera muito legal, cantando minhas músicas, eu sinto que vai ser um showzão, eu vou ter uma grande participação no meu show de um artista daí, que é o Romero Ferro, um amigo, um querido. A gente vai mostrar para o público uma música nossa de composição do cantor Barro. Gravamos e está muito fofa, muito linda. Tenho certeza de que o público vai amar.
Eu tô muito animada, muito ansiosa pra fazer esse show, tô feliz demais. Eu não poderia estar tão feliz com esse festival que sempre foi uma referência pra mim. Estamos preparando um super show, toda vez que quero fazer uma apresentação desse tamanho eu trabalho muito, a gente pensava bastante tudo: ordem de música, qual que vai entrar, qual não vai… Então se preparem que eu tenho certeza de que vou entregar um showzão pro Recife mais uma vez. Obrigado! (risos).