Uana
Megalomania
Fábrica Estúdios, 2024. Gênero: Pop
Sensual, autocentrado e dançante; esses são os principais adjetivos que me vêm à cabeça quando penso em Megalomania, de Uana. O álbum da cantora pernambucana se encaixa dentro de um movimento bem interessante do pop nacional atual que usa elementos e referências de ritmos populares nordestinos (brega, axé, pagodão, brega-funk, swingueira, etc). Nomes como Rachel Reis – que tem um feat em Megalomania -, Totô de Babalong e até Pabllo Vittar, em alguns de seus trabalhos, fazem esse tipo de música.
Por ser pernambucana, evidentemente que Uana se aproxima dos ritmos locais, sobretudo do Brega. O disco desconstrói e reorganiza elementos do gênero, como os graves e os beats metálicos, em um outro território sonoro mais próximo da EDM e menos acelerado que nas produções do brega-funk. É através dessa desaceleração que as canções passam a ter o tom sexy que é complementado pelos versos e pelos vocais de Uana e seus convidados.
Com um interlúdio de Maya Angelou citando um trecho de sua poesia Still I Rise, a mensagem reforçada por todo o disco é sobre valorizar o Eu. Os versos aqui são todos sobre autoconfiança que vem, principalmente, da sensualidade bem pronunciada e em outros momentos através da ostentação. Não há grandes reflexões, mas é um imaginário envolvente e que fica na cabeça.
Na sua segunda metade o disco ganha outras cores e investe com mais densidade e criatividade na eletrônica, exceto por “Eu Tenho o Molho” – que poderia ter ficado na primeira parte. “Gulosa”, feat com o DJ MU5A0 é uma fusão atrevida e viciante do hyperfunk com o brega-funk, assim como a surpresa de uma virada de Techno no meio do brega em “Só Mais uma Noite”, um trabalho mega habilidoso de Guilherme Assis e Barro na produção.
Como um álbum de estreia, Megalomania é impactante. Um trabalho que consegue definir muito bem qual é a proposta artística de Uana e as influências que norteiam a música dela. Assim como outros lançamentos do pop nacional e global, esse álbum vem de um experimento que borra fronteiras entre gêneros musicais para combiná-los em algo novo, e isso felizmente funciona. Agora é aguardar quais outras boas surpresas que Uana tem pensado para nós.
Escute Megalonamia, de Uana
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