DAS TELONAS PARA OS FONES
Tony Berchmans, autor de A Música no Filme analisa Rome, o novo trabalho de Danger Mouse com o ex-White Stripe Jack White
Por Juliana Simon
Colaboração para a Revista O Grito!
“Uma trilha sonora sem o filme” com a participação do ex-White Stripes, Jack White, e da sempre hypada Norah Jones. Nomes famosos e uma competente estratégia de marketing criaram o que promete ser um dos álbuns queridinhos de 2011. A descrição do álbum Rome, de Danger Mouse e Daniele Luppi poderia acabar aqui não fosse o universo de referências que o projeto carrega. A audição é um verdadeiro jogo da memória para quem sai de uma sessão de cinema louco para descobrir e ouvir a trilha sonora.
“Neste caso a música do cinema não é apenas uma inspiração, mas um ponto de partida para o projeto”, diz o músico Tony Berchmans, autor do livro A Música do Filme – Tudo o Que Você Gostaria de Saber Sobre a Música de Cinema. No trailer do álbum (belíssimo, por sinal), o produtor americano Danger Mouse assume a intenção de criar uma versão para as trilhas dos filmes western dos anos 60 e 70. A ideia, concebida com o compositor italiano Daniele Luppi, tomou forma em cinco anos. “Protagonistas” da produção, Jack White e Norah Jones vieram já na parte final. O roqueiro veio com as letras e a voz quase esganiçada, a jazzista com a interpretação doce. O projeto contou, ainda, com a participação de músicos italianos de outras gerações, o que traz ainda mais fidelidade ao ar “vintage” da gravação.
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Stream de Rome
“A primeira faixa Theme of Rome, por exemplo, exala Ennio Morricone. Primeiro pela bateria, depois pelos violões e pela guitarra, e, para completar, voz, órgão e cordas fecham a receita de uma trilha que poderia ter saído de uma cena de Por Um Punhado de Dólares, (filme de Sergio Leone, com Clint Eastwood)”, diz Berchmans.
Ao longo do álbum, o clima de faroeste é combinado com outras sonoridades. Os três interlúdios para Morning Fog, Her Hollow Ways e The World superam a função de introduzir seus temas principais. O primeiro lembra som de caixinha de música, o segundo apresenta cordas e voz elaborados, o terceiro antecipa o “fade” do “The End”, antes que o ouvinte possa imaginar os créditos finais subindo na tela.
Para Berchmans, o disco vai além das influências de Morricone. “A balada The Rose With A Broken Neck tem um tom mais setentista e francês, assim como as instrumentais Morning Fog e Roman Blue, que poderiam estar em discos de Francis Lai (de Love Story) ou ainda de Serge Gainsbourg”, diz.
“O compromisso da ligação com o faroeste italiano se esfarela em faixas mais pop como “Season’s Trees” e “Her Hollow Ways’. Esta última cuja melodia parece mais ter saído de uma trilha de Ryuichi Sakamoto, autor de trilhas como a do filme O Último Imperador, de Bernardo Bertolucci, com a qual ganhou o Oscar em 1987”, afirma o autor.
A viagem vai além do cinema e outras referências surgem. As mais diretas vêm de Jack e Norah, como “Two Against One” – na medida para os fãs órfãos de White Stripes – e a girlie “Problem Queen”. Outras são quase inimagináveis, como a semelhança da cadência inicial de “Black” e a clássica “Hotel California”, dos Eagles e a voz de Norah com temperos de The Who e Doors.
“É uma leitura criativa e contemporânea de caminhos melódicos e de harmonia pouco explorados na música pop de hoje”, diz Berchmans.
Alardeado rapidamente pela web via Twitter, Facebook e por sites como os da Rolling Stone, NPR e Pitchfork, Rome poderia parecer pretensioso demais. A ambição de Danger Mouse e Daniele Luppi ultrapassa as expectativas e fascina quem gosta de música, de cinema e, principalmente, da perfeita combinação entre os dois.