O Recife Antigo já está aquecido no seu terceiro dia de Carnaval, mas o Cais da Alfândega só abriu seu espaço para a folia neste sábado (10). O Rec-Beat volta na sua 28ª edição, desta vez reconhecido publicamente como um Patrimônio Cultural Imaterial do Recife, como foi decretado em novembro de 2023 pelo Projeto de Lei da Vereadora Cida Pedrosa (PCdoB).
Programação do Carnaval 2024
Shows no Marco Zero: Gilberto Gil, Ludmilla, Luísa Sonza, Alceu Valença
Rec-Beat: Letrux, Ana Frango Elétrico, Urias
Praça do Arsenal e Pátio de S. Pedro: Rubel, UANA, Marcelo D2
Olinda, praça do Carmo: Nação Zumbi, MC Tocha, Siba
Olinda, Guadalupe: Conde Só Brega, Dany Myler, Abulidu
O palco foi aberto ao som de música eletrônica. O DJ Recifense BJ3 começou o aquecimento – permanecendo a noite toda durante o intervalos – e abriu espaço para a DJ Colombiana Loa Malbec. A artista apresentou ao público o que há de mais típico na música da América Latina: cumbia, salsa, e outros ritmos em uma roupagem contemporânea.
Em poucos minutos, o público tímido se tornou uma pequena multidão para prestigiar o pernambucano Ivyson, com o show da turnê Girassol, que passeia pelo repertório do cantor com canções de seu primeiro álbum Do Outro Lado do Rio (2022) e outras faixas mais recentes que fazem parte de seu segundo álbum, previsto para maio deste ano.
Ivyson, munido apenas de violão, um guitarrista e um baterista, entregou um show romântico e empolgante. Seu pop melódico e sentimental construiu a cena para diversos casais na plateia que assistiam à apresentação. “Essa é aqui é só pra quem levou ‘gaia’. Quem tiver mal, não é por querer”, brincou o cantor ao introduzir a melancólica “Escassez”. Durante toda a apresentação o público acompanhou atento e devolveu as interações do artista com canto uníssono todas as músicas.
Próximo ao final do show, cantor deixou uma mensagem de encorajamento aos artistas periféricos, pedindo para que não desistam, e que é mais do que possível que os sons da favela não apenas sejam escutados, mas apreciados. Depois de passar seu recado, Ivyson encerrou o show com o hit “Girassol”.
Com quase 40 minutos de atraso no show devido o trânsito lento na região central, Walter de Afogados subiu ao palco do Rec-Beat já com um público novo a sua espera, renovado no tempo de intervalo entre uma atração e outra.
A energia do show foi motivo de perdão ao atraso e o Rei do Salão deu uma mostra do mais clássico no brega de Pernambuco, sendo ele mesmo um dos precursores do que hoje é uma das mais potentes expressões culturais do Estado. A apresentação do Rei do Salão é uma aula sobre o brega em si e traz canções que hoje são clássicos com quase 40 anos de existência.
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Ponto alto do show de Walter é a canção que, como ele mesmo afirmou, o consagrou como cantor e compositor. “Morango do Nordeste”, um hino de amor que ainda vive nas mentes e nas vozes do público. Com o apelo do público, o Rei do Salão estendeu o show para performar ainda a canção “Amor Secreto”, outro clássico do cantor. Ainda sem querer, Walter deixou o palco.
Quando a noite já começava a virar madrugada, o rapper baiano Vandal subiu ao palco do Rec-Beat numa alteração de line up que já havia sido anunciada pelo festival dias antes, já que teoricamente o intérprete seria a atração para fechar o palco do 1º dia de festival.
O artista soteropolitano injetou no público o máximo de energia possível e nem a chuva moderada em alguns momentos conseguiu intimidar a plateia. Utilizando o Grime e o Drill, subgêneros do rap, Vandal versa no ritmo e batidas fortes sobre a as adversidades existentes em um país racista como o Brasil.
Além do Grime e do Drill, uma porção do show ficou reservada para o Hard Rock, com uma rápida homenagem à Chico Science e uma reprodução de um trecho de “Monólogo ao Pé do Ouvido”. “CertoPeloCertoh” parceria de Vandal com BaianaSystem também teve seu momento na apresentação, que terminou em uma apoteose na qual o intérpreto baiano foi carregado pelas mãos do público.
Fechando a primeira noite, DJ K, o Bruxo, foi a última das atrações e transformou o Cais da Alfândega em um baile. Com faixas de seu álbum Pânico no Submundo, o DJ paulista fez o Rec-Beat tremer – quase literalmente. Os graves fortes e beats agudos e distorcidos colocaram o público recifense debaixo de um feitiço em uma noite de estreia arrebatadora para a 28ª edição do Rec-Beat.