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RMRO vai à festinha VIP. A trabalho. Entende xongas de música eletrônica (a temática do baffon). É diurna (vira abóbora sempre às 2h da matina, seja ébria ou absolutamente sóbria). Não veste manequim 38. É avessa a badalações exclusivas.
Deu pra entender o deslocamento?
Deu não?
Eu era a única, mas ÚNICA mesmo, mulher de salto baixo na festa. Quer dizer, a única sem salto algum. Não uso saltos por opção. Já os usei muito. Mulheres piratas são assim mesmo: umas continuam na luta, outras amadurecem e casam. Não que seja o meu caso. Adoro dizer que sou ‘amasiada’, pois jamais fui mulher pra casar. Não tenho vergonha alguma em assumir isso. Ou outro delito qualquer.
Aliás, eu prefiro ir ao show do João do Morro (se não sabe quem é, leia em colunas interiores, a de título ‘João do Morro’) e beber Schincariol quente a tomar whisky com energético ouvindo música eletrônica. Nada contra o whisky. Contra o whisky com energético vá lá, pois alguns deles têm gosto de ‘ki-suki’. Mas a música eletrônica é algo que – confesso – não faz a minha onda, a minha cabeça, a minha felicidade. E, parafraseando Lula Queiroga, felicidade não precisa de culpa.
Festa Estranha com Gente Esquisita. Não que eu prefira uma Festa da Lavadeira (se não conhece ainda, nem vá: lama + Schincariol quente + povo esquisitinho + chuva que Deus dá), mas essa coisa de mulher fina e fofa deixo para a colunista Valentina Finocchiaro. Eu não sou uma Very Important Person (VIP). Não faço questão de sê-la.
O pior não é nada. É quando te tratam feito um animal raro se você simplesmente não consegue atingir a ‘vibe’ da moçada. Fingi que era boa moça e tomei drinques à base de vodka com abacaxi. Balancei o corpinho na pista pra lá e pra cá no ritmo exigido (aliás, ‘ritmo’ não. Sonoridade, please!). Fiz o networking básico e, às 3h da matina (muito depois do meu horário habitual de virar abóbora) peguei o rumo de casa.
Consigo não, meu rei. Coisa de gente que acha que o melhor da vida é carnaval: festa para bravos ou insanos. Quer apostar?
Gostar de carnaval é praticar – ao longo de quatro dias – uma verdadeira maratona olímpica de exercícios que você passaria um ano inteiro para dar conta. Tudo isso sob o cálido sol de 40 graus Celsius. É dançar freneticamente ao som de um ritmo secular que só é executado durante as festas de momo e se esfregar na multidão que, assim como você, está fétida, lambuzada e suarenta, pra não dizer com catinga de macaco. É achar Olinda a coisa mais bela do mundo – ainda que cheire a mijo. É achar tudo isso maravilhoso enquanto pisa no xixi alheio e sobrecarrega o pobre do seu fígado com porres homéricos de qualquer coisa equivalente ou com grau etílico superior a 5,4%.
Tá vendo? Eu disse que não era uma Very Important Person. Eu prefiro a multidão.
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rainhal@revistaogrito.com.
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