Também nem queria. Em uma looooonga sessão de bate-papo com um primo muito querido e que é estudante de música na UFPE, vem a pergunta fatal:
– O que você acha da atual cena musical pernambucana?
Pronto! Agora deu! O que diachos eu, ‘jornalistinha de merda’ (entedeu não? Leia Um copo de cólera, de Raduan Nassar, ignorante!) tenho a dizer sobre esse assunto?
Vamos lá. ‘Jornalistinha de Merda’ sempre é um título – no mínimo – curioso. Jornalista é formado em que mesmo? Em generalidades. Me apontem aí uns dez bons críticos musicais que tenham conhecimento teórico – não empírico, faz favor! – pra falar algo sobre o assunto.
Pois é. Eu também não tenho não. Mas como boa jornalistinha que sou, também sou ‘opiniosa’.
Tenho mais de 30 anos. O que, trocando em miúdos, significa que tive o prazer de desfrutar de uma efervescência cultural na Mauritzstadt da década de 1990, dos caranguejos com cérebro, do manguebeat, da manguetown.
Saudosismos à parte, eu sou de uma época em que o acesso à informação era algo muito difícil. Os discos que trocávamos com amigos eram raros, caros, preciosos. Geração MP3 nem sabe mais o nome das músicas porque esquece de conferir no visor. Eu sou do tempo do vinil, em que o encarte realmente fazia diferença, da época em que disco trazia música em dois lados: A e B.
Hoje é tudo simples, pasteurizado. Gostou? Baixa na rede. Entretanto, acho que a gente corre o risco de enfrentar o paradigma: há uma grande diferença entre ter acesso à informação e saber analisar a informação. Acho que as gerações que se sucederam, sobretudo as alfabetizadas digitalmente, sequer ouviram falar em Enciclopédia ou são muito adeptos a bibliotecas. Essa é a geração Indie.
Pronto. Explicado este preâmbulo, voltemos à questão.
Me lembro assim, meio vagamente, que nos últimos anos me impressionei com algumas coisas. Poucas. Mas aí vou logo avisar: eu, pessoa física, gosto de coisas mais serenas. Já fui mulher pirata e já dei a minha cota de Ratos do Porão, hoje busco coisas que digam mais à minha alma do que à minha atitude. Vez por outra, me dou licença poética de buscar diversão sem compromisso.
Destas poucas coisas com as quais me impressionei na cena local algumas foram: Sa Grama, A Roda, Mombojó, Projeto Areia (difícil, heim amigo? Tivo que comprar um CD em Brasília porque não encontrei aqui). Gosto da alegria irreverente da Academia da Berlinda. Adoro o Original Olinda Style da Eddie, mas essa nem conta porque eu me lembro de ter ido a show da Eddie lá pelos idos de 1994 ou algo que o valha.
Vamos lá: ignorante que sou, o que me chega aos ouvidos pelo que tenho lido nos meios de comunicação me leva a crer que não sei o que se tem feito na cidade além da fórmula ‘Indie X galera de Olinda’. Sinto falta de mais discussões, sinto falta de ver sons diferenciados ou talvez estes não tenham tido muito acesso à mídia recentemente.
Tudo isso para responder à pergunta do meu primo:
– Não sei.
Ele, aliás, tem uma banda de chorinho autoral que se chama Executados no Cabaré. Muito boa, aliás, com formação de cinco estudantes de bacharelado/ licenciatura da UFPE que interpretam sambas de ‘varanda’ e até frevinhos gostosos. Quando a demo estiver pronta eu conto pra vocês. Por ora, podem ser conferidos aos domingos no Bar Nosso Canto, a partir das 12h, na Estrada do Arraial.
E você, tem alguma dica pra mim? Só não vale indie, ok?
— —
[+] A Rainha do Maracatu Roubada de Ouro é o pseudônimo de uma jornalista pernambucana. Toda semana, escreve nesta coluna, crônicas de desabores, desencantos e memórias.