A última semana foi meio agitada. Além do corre-corre do trabalho, a gente se deparou aqui com uma notícia de viés que envolveu diretamente a Revista O Grito! e – como coluna é algo opinativo e pessoal – queria dizer das minhas impressões sobre a polêmica de João do Morro que saiu na imprensa nos últimos dias.
Foi assim: O Grito! publicou, em primeira mão, que João estaria sendo cotado para tocar na Parada Gay. Uma entidade atuante em torno de causas envolvendo pessoal GLBT ameaçou entrar com uma denúncia junto ao Ministério Público de Pernambuco (MPPE) por ‘homofobia’. O assunto rendeu, rendeu, rendeu e nossa pauta foi parar até no Blog do Jamildo e, por conseguinte, o assunto foi parar no porgrama de tevê Cardinot (TV Jornal/SBT, do Recife).
Homofobia? Pára o mundo que eu quero descer! Eu realmente nunca enxerguei no trabalho de João do Morro nada mais do que uma crônica social despachada e bem-humorada no melhor estilo ‘divertimento puro ou seu dinheiro de volta’. Para meu espanto, a música questionada é justamente Papa-frango o hit mais pedido do repertório de um artista que, em sua legião de fãs, possui vários gays, também freqüentes em seu círculo de amizade pessoal.
Nós, que fazemos O Grito!, nos sentimos solidários a João do Morro. E, entendam, somos absolutamente simpatizantes a quaisquer causas em defesa da vida humana. Mas acusar João do Morro de ‘incitação à violência’ foi além do que minha parca inteligência pode alcançar. Eu não consigo enxergar essa violência. Está aquém daquilo que eu consigo ler e testemunhar como violência diária nos meios de comunicação, nas conversas de amigos.
Infelizmente, como moradora do Recife, tive a infelicidade de perder pessoas muito queridas em homicídios. Alguns gays. Outros não. Nenhum deles envolvido com práticas criminosas, mas absolutamente todos almas maravilhosas perdidas em meio a furtos mal-sucedidos. Absolutamente nenhum deles por ‘incitação à violência’ através de uma música.
Parafraseando um amigo (gay, diga-se de passagem), todo esse episódio nos leva a pensar que o mundo do ‘politicamente correto’ termina por levar certas pessoas a conclusões que – se não equivocadas –, no mínimo, precipitadas. Falamos com João várias vezes ao longo da semana e só encontrávamos um homem abatido, deprimido e sem ânimo.
É como, se o mundo do politicamente correto, evitasse todo e qualquer tipo de manifestação de forma ostensivamente preventiva sem sequer checar o seu conteúdo. Vamos caçar as bruxas? Por que, então, o excelente trabalho de Jeison Wallace e toda a sua trupe jamais foi questionado? Até onde me consta, também é humor.
Segundo João, ele jamais teve a intenção de magoar ou ferir alguém com seu trabalho e, se o fez, lamenta. Mas também lamenta o fato de não ter sido procurado pela ONG em questão. Caso houvesse uma conversa franca, o assunto não precisava de tanta encenação, tanto jogo de cena, tanto circo invisível ou ainda ameaças veladas: “Já conseguimos que uma igreja tivesse que se mudar, quanto mais com um cantor…” (sic).
Tudo isso pra dizer que eu, especificamente, fiquei triste. Respeito os direitos individuais, e este texto não é uma apologia a qualquer coisa que fira o bem-estar de qualquer cidadão. Mais uma vez, eu recomendo: vá ao show de João do Morro. É uma Ivete Sangalo de calças. Esbanja carisma e seu único propósito é divertir a platéia. Eu continuarei a ir. Com Papa-frango ou não.
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[+] A Rainha do Maracatu Roubada de Ouro é o pseudônimo de uma jornalista pernambucana. Toda semana, escreve nesta coluna, crônicas de desabores, desencantos e memórias.