GENIALIDADE OU BRINKS
Só mesmo o Radiohead pode apelar à fidelidade dos fãs para bancar um novo – e controverso – experimento pop com King Of Limbs
Por Paulo Floro
Editor da Revista O Grito!
A cada novo lançamento do Radiohead paira uma pergunta sobre até onde as experimentações do grupo podem levar a paciência de seus fãs. Com este lançamento de King Of Limbs, parece que os ingleses decidiram abraçar o título de banda de rock mais importante do mundo hoje e propôs aos ouvintes um desafio ainda maior que seus elogiados trabalhos anteriores. Descobrir até onde vai essa disposição para compreender, se envolver e apreciar o trabalho do grupo. As reações foram controversas, o que talvez tenha correspondido às expectativas de Thom Yorke e trupe.
O que acontece é que King Of Limbs é mistério que ronda entre os admiradores do Radiohead: eles estão fazendo chacota com quem ainda engole qualquer coisa minimamente audível que eles produzam; ou em outro extremo, eles realmente se levam a sério demais para acreditar que ainda continuam anos à frente? Diferentemente de In Rainbows, o disco anterior, em que a discussão sobre mercado e tecnologia estavam empatados com a qualidade musical, neste mais recente, a genialidade veio desprovida de sentimento, de empatia com o ouvinte.
+ Mais desta edição: Handsome Furs e Odair José no Rec Beat
+ Radiohead 2011: Alegoria de banda
Radiohead 2011: Mercado
As qualidades do mais recente trabalho ficaram mais no que ele quer significar para o contexto de transformações na forma de ouvir e consumir arte. E o grupo ficaram na vanguarda mais uma vez, é de se admitir. Desta vez, não houve a possibilidade de baixar o disco de graça, mas o lançamento continou independente, relativamente barato e potencializou uma tendência na antiga prática de vender discos físicos. Uma caixa cheia de brindes, centenas de fotos, vinis, ou seja, um deleite para o fã militante, esses seres humanos fidelíssimos que ainda compram álbuns.
O que ficou marcado deste lançamento foi o loop viral que se tornou a dança de Thom Yorke no clipe “Lotus Flower”, lançado no mesmo dia do disco, dia 10 de fevereiro. Possivelmente, muitos não avançaram dali e não chegaram a baixar o álbum.
No sentido estritamente artístico, King Of Limbs não mostra uma evolução na carreira que a banda escolheu trilhar desde 2000 com Kid A. Mas, tampouco é um retrocesso. O disco é coerente com o que o Radiohead escolheu como diretriz nos últimos dez anos. Resolveram dessa vez soar menos pop e mais jazz ou ainda, numa palavra que não quer dizer muita coisa, mais experimentais.
Alguns momentos do disco chegam a desafiar o fã mais convicto, como a faixa de abertura, “Intro” e “Feral”, que mais parece uma sobra de um disco solo de Thom Yorke, cheia de repetição e barulhinhos eletrônicos. A já citada “Lotus Flower” é um sopro pop, ainda que não seja marcante como outros hits da banda. E “Separator”, a mais convencinal e palatável, que encerra o disco e alimenta uma teoria conspiratória de que existe uma outra metade do lançamento ainda a ser conhecido.
Ainda que não tenha um componente pegajoso que faz as pessoas se apaixonarem por música pop com facilidade, neste disco o Radiohead apelou à fidelidade dos fãs para essa empreitada ainda mais conceitual e hermética, cujo sentido e propósito ainda são desconhecidos. Se essa legião e esse prestígio os dão liberdade para tanta experimentação, isso é um ponto positivo tanto para eles quanto para a música em geral.
RADIOHEAD
King Of Limbs
[Independente, 2011]
NOTA: 9,0