Da Revista O Grito!, em Londres
A pop-arte surgiu nos meados dos anos 1950 com uma nova proposta para o campo da arte misturando pintura, colagens, grafite e ganhou vida pelas mãos de artistas como Keith Haring, David Hockney, Roy Lichtenstein, Andy Warhol, entre outros. Mas ela não foi um fenômeno apenas norte-americano ou britânico. Como todos os movimentos artísticos, a pop-arte também se espalhou pelo mundo afora e diferentes culturas deram sua contribuição para o movimento nas décadas de 1960 e 70.
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Inicialmente relacionada a uma atitude irônica à cultura de consumo moderna, em outros países as estratégias e técnicas visuais do pop foram aplicadas para expressar questões além do consumismo, se debruçando sobre as desigualdades sociais, a censura, o papel da mulher, a liberação sexual, as ditaduras, as guerras e os direitos civis. E este é o ponto de vista que guia a exposição The World Goes Pop atualmente em cartaz na Tate Modern Gallery, em Londres.
Nas dez salas onde a exposição está instalada o visitante pode conhecer as obras de artistas romenos, eslovacos, espanhóis, japoneses e também brasileiros que estão presentes em um número bem significativo com nomes como Wesley Duke Lee, Antonio Dias, Claudio Tozzi, Marcelo Nitsche, Ana Maria Maiolino, Glauco Rodrigues, Raymundo Colares e Joel Tilson.
Em sua totalidade, as obras selecionadas para compor a exposição expõem de forma clara que ela não está limitada às imagens canônicas da pop-arte com suas releituras da publicidade comercial, de fotos de pin-ups ou dos quadrinhos. Os quadros, esculturas, objetos e instalações incluem, além desses elementos, referências a propaganda política, às tradições folclóricas, e têm como traço comum a reutilização de contextos visuais familiares em imagens de subversão e protesto aberto.
Brasil presente
Pelo recorte proposto pela curadoria não é de se estranhar que as obras dos artistas brasileiros presentes sejam trabalhos realizados nos anos 60 com referências diretas ao regime militar vigente no país. Entre elas Mata mosca, de Marcello Nitsche, onde vemos uma mão gigante em papel maché segurando um mata mosca em fibra de vidro e resina, que segundo o autor, na época de sua concepção, em 1967, era uma forma camuflada de falar contra a ditadura; e Nota sobre a morte imprevista, de Antonio Dias, uma paródia feita em 1965 sobre a situação política formada por uma peça com quadros superpostos com imagens de nuvens tóxicas, figuras de soldados e manchas de sangue, mostrando as preocupações pessoais do artista com a violência, a guerra nuclear e a polícia estatal.
Entre as diversas conexões políticas sugeridas, chama a atenção a sala intitulada “pop bodies” com obras feitas por mulheres sobre a representação do corpo como uma experiência interior. As diversas formas de representar a interioridade se conectam invariavelmente com os movimentos de liberação feminina do período e evidenciam a criação de alternativas de percepção do corpo feminino diferente daquela oferecida para o consumo do olhar masculino heterossexual, como pode ser visto na escultura Pequena Mulher TV, da francesa Nicola L que usa materiais domésticos para compor sua obra.
Além da The World Goes Pop, é possível ver ainda a exposição Witty, Sexy, Gimmicky: Pop Art 1957-67 formada com peças bem conhecidas de expoentes da pop arte, pertencentes ao acervo da Tate, e que inclui os dípticos com a figura de Marilyn Monroe, feitos por Andy Wharol; Whaam!, um dos mais famosos quadros de Roy Lichtenstein; e ainda quadros de Richard Hamilton e David Hockney.