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Pássaro Branco, da autora de Extraordinário nos quadrinhos: a empatia como resistência

R. J. Palacio cria uma história comovente sobre empatia e resistência, mas se mostra pouco à vontade no uso da linguagem das HQs

Pássaro Branco, da autora de Extraordinário nos quadrinhos: a empatia como resistência
2.5

PÁSSARO BRANCO
R. J. Palacio
Intrínseca, 224 pp, R$ 69,90/R$ 46,90, 2022. Tradução de Rachel Agavino

A norte-americana R. J. Palacio alcançou fama mundial com Extraordinário, livro que conta a história de Auggie, um menino com deformidade facial que enfrenta de frente o bullying na escola e decide se impor aos olhares julgadores do mundo. A obra foi adaptada ao cinema e rendeu diversos livros derivados, como é o caso desse Pássaro Branco, que marca a estreia da autora nos quadrinhos (ela assina o roteiro e a arte).

No livro Auggie & Eu, que também tornou-se best-seller, o foco foi em Julian, a criança que perturba a vida de Auggie. Agora, nós conhecemos a história da Grandmère Sara, a avó do menino, uma sobrevivente do nazismo na França ocupada. Separada dos pais após a invasão dos alemães no território francês, ela encontrou abrigo junto à família de Julien Beaumier, seu colega de escola. Acometido pela poliomielite, o garoto é excluído por todos na escola e sofre nas mãos de valentões – é apelidado de “caranguejo” por conta do uso das muletas. A partir do relacionamento entre os dois vamos conhecendo melhor sobre a escalada de violência durante a Segunda Guerra Mundial e também sobre o Holocausto como um todo.

É um livro que mira um público de jovens e adolescentes e, ainda que traga uma narrativa realista do período, traz junto uma preocupação de tornar a leitura tranquila, sem violência e cenas fortes. Palacio realizou uma pesquisa extensa para compor o roteiro e a edição da Intrínseca traz, inclusive, um glossário sobre termos ligados ao tema.

Apesar de não ousar muito na narrativa, Palacio consegue manter a atenção do leitor por conta de uma estrutura muito amarrada do roteiro. A trama, porém, não traz nada muito diferente do que já vimos em relação a diversas outras histórias da Segunda Guerra Mundial. A preocupação maior da autora, talvez, tenha sido se ater ao seu tema-chave, que é a empatia o respeito às diferenças e, em um segundo plano, da importância da bondade em meio a momentos de terror. Neste ponto, a autora foi bem eficaz, o que faz desse livro uma leitura perfeita para os fãs de Extraordinário. É também um possível primeiro ponto de contato com os temas históricos relacionados. O roteiro é repleto de clichês e sentimentalismo, sobretudo por conta das intervenções da avó Sara, que conta a história de uma maneira muito explanatória, com pouco espaço para imaginação, desconstrução, o que seria bem-vindo já que a autora tenta criar uma ponte com os dias atuais, com a perseguição aos refugiados, por exemplo.

Do ponto de vista da linguagem dos quadrinhos, porém, Pássaro Branco é quase rudimentar. A estrutura da narrativa é repetitiva, com painéis que não trazem o dinamismo da leitura, que é necessário para contar a história a partir das imagens em sequência. Os personagens soam estáticos e aparecem quase em cenários com quase nenhuma estrutura, com pouca profundidade. E, pra completar, há longos recordatórios e muitos e muitos balões de fala para os personagens.

Palacio é uma estreante na linguagem. Ela tem formação em arte e trabalhou anos como designer gráfica e ilustradora antes de enveredar na literatura (e, agora, nos quadrinhos). A impressão é que esse seu primeiro trabalho está muito mais próximo do livro ilustrado do que de uma HQ. Mas, mesmo esses percalços de principiante não tiram o foco do objetivo da autora em apresentar uma história comovente sobre o Holocausto para os fãs de Extraordinário. Isso ela conseguiu.

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