A ciberativista e roteirista Triscila Oliveira esteve presente no Festival Internacional de Quadrinhos – FIQ, em Belo Horizonte, que aconteceu entre 3 e 7 de agosto em Belo Horizonte. Natural de Niterói, Rio de Janeiro, Oliveira conquistou relevância a partir de uma série de conteúdos que envolvem temas políticos e urgentes do Brasil atual. No seu bojo entram, entre outros, o feminismo negro, saúde mental, preconceito de classe e os direitos humanos. Em seu repertório estão os roteiros das tiras Os Santos – Uma tira de ódio e Confinada, projetos fruto da parceria com o quadrinista Leandro Assis. Este último também foi publicado em formato livro pela Todavia e entrou no nosso top 10 dos Melhores Quadrinhos do ano passado.
Em Os Santos – Uma tira de ódio, a relação entre duas famílias faz o enredo se mover. Uma de brancos ricos da zona sul do Rio de Janeiro, e a outra, composta de empregadas domésticas, mulheres negras e periféricas. Através dos contrastes de narrativas e das relações estabelecidas dentro do contexto social brasileiro, a obra representa a desigualdade racial, além de outras mazelas como o machismo e a homofobia vigentes no país.
Já em Confinada, a história a se acompanhar é da influencer digital Fran, e da trabalhadora doméstica Ju, coagida a passar a quarentena com a patroa. A disparidade das condições, prioridades e situações passadas pelas duas personagens durante a pandemia, escancaram o racismo estrutural ainda mais acentuado neste período.
Triscila Oliveira participou do FIQ na mesa de debate “Dias de luta, dias de glória: trabalhadoras e trabalhadores em quadrinhos”, junto aos autores Aline Lemos e Pablito Aguiar. Ela também fez parte da mesa de autógrafos de Confinada. “É preciso investir em cultura, para as pessoas entenderem que cultura não é só quadro no museu, é tudo que mostra a identidade do nosso país”, disse a artista durante a mesa.
A Revista O Grito! bateu um papo rápido com Triscila sobre esses trabalhos.
Em sua jornada pessoal, como aconteceu o encontro com a arte? Há muito de sua experiência no seu trabalho?
A história de vida de todo ser humano reflete em seu repertório, são vivências que todos carregamos. Fui trabalhadora doméstica, sou filha e sobrinha de trabalhadoras domésticas. Não encontrei a arte, mas sempre escrevi como forma de desabafar.
Quando e como nasceu a parceria com Leandro Assis?
A parceria surgiu quando, com minha página de ativismo, deixei um comentário na tirinha 6 de Os Santos, retratando meu envolvimento com a temática, e ele que já buscava alguém com local de propriedade para estruturar as vivências das domésticas no projeto, me convidou.
Pode nos falar um pouco como foi o processo de escrita de Confinada?
Confinada foi uma ideia que surgiu como um spin-off de Os Santos, pois nós não queríamos expor as empregadas negras à pandemia, e, inocentemente, supomos que a pandemia não duraria tanto. Ledo engano. Então, a Confinada acabou se tornando uma história paralela, e por fim um documento histórico da pandemia no Brasil.
Confinada e Os Santos escancaram mazelas sociais como o racismo, o machismo, a homofobia. Como você enxerga o papel da discussão dessas temáticas diante do nosso contexto atual? O propósito delas é chegar a quem já luta pelas causas ou furar as bolhas e atingir o público que é criticado nas narrativas?
Tanto Confinada quanto Os Santos são artes de resistência. É urgente debater todas as camadas abordadas ali hoje, amanhã e sempre no Brasil. O propósito de ambos projetos é alcançar até onde eles puderem ir, seja reafirmando ou abrindo os olhos.
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