Ela é uma máquina de fazer drag, apresentou alta costura, alta moda, uma modelo. Esses são apenas alguns dos comentários atribuídos à Organzza, a grande vencedora da primeira edição do Drag Race Brasil. A drag disputou uma corrida acirrada este ano, mas acabou levando a melhor na final com Hellena Malditta, Betina Polaroid e Miranda Lebrão. A série foi apresentada pela estrela Grag Queen, juntamente com Dudu Bertholini e Bruna Braga no painel de jurades.
“Eu fiquei em estado de choque, realmente não acreditei que estava acontecendo, eu liguei pra minha mãe pra contar e não consegui falar de tanta emoção, eu só sabia chorar”, revela Organzza, quando recebeu a notícia de que foi uma das 12 selecionadas para o reality.
Diretamente de Coelho Neto, na Zona Norte do Rio de Janeiro, para primeira a temporada da edição brasileira da maior competição de drags do mundo. Organzza é a persona criada por Vinícius Andrade, de 31 anos, performer e artista visual, que promove com sua drag uma mistura de afrofuturismo e carnaval. Além da coroa e o cetro, a carioca levou para casa um ano de produtos de maquiagem da Anastasia Beverlly Hills e R$ 150 mil.
Artista visual, performer, figurinista e modelo são alguns dos ofícios que Organzza acumula em sua trajetória artística, que começou cedo, no teatro. “A ideia de montação, de atores transformistas e arte drag sempre estiveram presentes na minha vida”, conta.
A artista sempre quis um nome que tivesse uma associação direta com o seu universo, por ser uma drag que costura e produz seus próprios looks. Um dia, encontrou o tecido organza, que ao mesmo tempo é refinado e usado em roupas de gala, mas também usado para fantasias de desfile de carnaval. Isso sintetiza a sua estética, pois hoje, a Organzza é a junção de todas as expressões artísticas de uma criança viada brincando de carnaval o ano inteiro.
A arte drag veio em 2018, com sua primeira montação para o “Queens, O Concurso”. De lá pra cá, Organzza já fez uma participação na novela “Verão 90”, da Rede Globo; integrou o elenco do videoclipe “Dia D”, de Clarice Falcão; e é figurinha conhecida na noite carioca, se apresentando em festas como a V de Viadão e a Realness, onde já abriu shows de drags como Mo Heart e Miz Cracker. “Drag é uma arte muito complexa, eu posso estar um dia de jeito e no outro completamente diferente, por isso é muito fascinante pra mim brincar de fazer drag”, ressalta.
O crescimento de cinco vezes no total de seguidores nas redes sociais foi proporcional ao sucesso de sua participação em Drag Race Brasil. Para ampliar o sucesso no programa, usou as redes sociais para mostrar ensaios feitos com cada uma das peças que veste no programa. O fotógrafe Ira Barillo, parceire de outros projetos, ficou com a responsabilidade de fazer os cliques. O cenário escolhido foi, na maioria, a Zona Norte, de onde Organzza veio. Mas há também fotos em espaços como a zona portuária, Lapa e também a Cidade das Artes, na Barra da Tijuca.
Vale destacar que Organzza, assim como por sua parceira, Shannon Scarllet, drag queen nascida em Minas, moradora do Rio de Janeiro, com a qual já tinha amizade antes das gravações, foram as duas únicas negras da primeira edição da competição. E por falar em racismo, a rainha é fatal: “Hoje, eu reajo fazendo todo o contrário que eles gostariam que pessoas como eu fizessem!”, assevera.
Com agenda lotada nos quatro cantos do Brasil, com sete cidades diferentes em três regiões, Organzza chega ao Recife para apresentação no dia 23 de dezembro no Metrópole Club. Confira a o bate-papo exclusivo à Revista O Grito!:
Vamos falar como tudo começou. Quando você passou a se interessar pela arte drag?
Eu sempre tive contato com arte de uma maneira geral, faço teatro e dança desde criança e minha família tem uma relação com carnaval desde antes de eu nascer. A ideia de montação, de atores transformistas e arte drag sempre estiveram presentes na minha vida.
Lembra como foi se montar pela primeira vez? E de onde surgiu a Organzza?
Em 2018, eu me montei pela primeira vez com a ideia de “estou me montando de drag”. Essa primeira montação foi para participar de um concurso de drags iniciantes no Rio de Janeiro e, assim, surgiu Organzza.
Qual sua reação quando ficou sabendo que foi selecionado para o Drag Race Brasil?
Eu fiquei em estado de choque, realmente não acreditei que estava acontecendo, eu liguei pra minha mãe pra contar e não consegui falar de tanta emoção, eu só sabia chorar.
Como foi a experiência de participar da primeira edição do reality?
Foi uma sensação constante de estar fazendo história. Eu repetia a todo tempo: “faço parte do elenco da primeira temporada de Drag Race Brasil”.
Como define a sua drag? E quanto tempo você tem de estrada?
Tenho cinco anos de arte drag e uma das coisas mais difíceis é encontrar uma definição. Drag é uma arte muito complexa, eu posso estar um dia de jeito e no outro completamente diferente, por isso é muito fascinante pra mim brincar de fazer drag.
De que forma o afrofuturismo e o carnaval, referências que você apresentou ao longo do reality, influenciam o seu trabalho?
São influências não só estéticas, mas também como filosofias de vida. Eu sou uma pessoa preta, do subúrbio carioca e o carnaval sempre foi o momento do ano em que eu podia sonhar e ser o que eu quisesse. E com o afrofuturismo eu entendi que existe para pessoas como eu, um futuro tecnológico, um futuro diferente do que dizem que eu e meu povo devemos ter.
Você já levou diversos títulos ao longo da carreira. E como foi ser a vencedora do Drag Race?
Histórico! Eu sou a primeira e isso ficará pra sempre na história. Foi uma realização pessoal e uma validação muito grande do meu trabalho. Drag Race é a maior plataforma drag da atualidade e só de participar do programa já é muita coisa, mas ser a primeira vencedora do maior concurso drag do mundo é definitivamente a coisa mais importante que aconteceu na minha carreira.
Quais os momentos mais emocionantes e quais de maior tensão ao longo do programa?
Participar do programa é um turbilhão de emoções e, muitas vezes, elas acontecem ao mesmo tempo, mas hoje a emoção mais forte é sem dúvidas de ver o momento que fui coroada. Nada explica tudo que eu senti nesse momento, foram todas as emoções, sensações, tensões, ao mesmo tempo, um filme passando na minha cabeça desde o momento que entrei no workroom até o momento que a coroa chega na minha cabeça.
Teve que lidar com racismo na sua trajetória? Como você reage?
Eu lido com o racismo não só no programa. Infelizmente, isso é algo que ainda é muito forte na nossa sociedade e no nosso país. Hoje, eu reajo fazendo todo o contrário que eles gostariam que pessoas como eu fizessem. Eu reajo hoje não deixando eles me pararem e vencendo mais e mais. E agora com a coroa na minha cabeça estamos no reinado altamente inflamável.
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