Inseparáveis, os irmãos gêmeos Gustavo e Otavio Pandolfo desenham juntos desde crianças e criaram uma maneira muito particular e autêntica de se expressar através da arte do graffiti. Com suas cores alegres e vibrantes e personagens bastante diversos, a dupla ganhou ruas, esquinas e muros ao redor do Brasil e do mundo e agora, pela primeira vez, desembarca no Recife com uma exposição própria. A mostra intitulada OSGEMEOS: Nossos Segredos estreia nesta quarta-feira (28), no Instituto Ricardo Brennand.
São quase mil peças reunidas, entre fotografias, quadros, esculturas e instalações. O acervo forma um espetáculo visual e sonoro que desbrava os caminhos, influências e as mil possibilidades que atravessam a trajetória artística do duo. “Uma das principais coisas que a gente quis revelar nessa exposição é como a gente desenvolveu o nosso processo criativo, porque era uma curiosidade que a gente tinha quando via o trabalho de outros artistas nos anos 1980”, explica Otavio. “Então, se chama Nossos Segredos pelo fato de colocarmos aqui coisas que normalmente não expomos”, complementa Gustavo.
Dividida em salas que dialogam entre si, a mostra remete a um formato de linha do tempo que conduz o público pelas diferentes fases de vida dos irmãos: desde a infância, nos anos 1980, quando tiverem os primeiros contatos com a cultura hip hop, até os dias de hoje, englobando trabalhos em diferentes plataformas. “Então, dá pra ver toda essa transição de estilos e essa preocupação que a gente tinha em colocar os detalhes necessários no desenho para poder chegar aonde a gente queria chegar. Isso é algo que já começa desde muito cedo no nosso trabalho”, detalha Gustavo.
Em fina sintonia desde a mais tenra idade, os dois criaram (ou melhor, acessaram) um universo particular e lúdico materializado através dos desenhos, graffitis e esculturas. É o Tritrez, que na exposição é aprofundado em uma sala exclusiva, onde as luzes, as cores e os sons inundam o ambiente e proporcionam ao visitante um mergulho nesse mundo onírico que coexiste com a realidade, mas paralelamente faz um contraponto a ela. “A gente está também abrindo uma janela no meio do caos que é São Paulo. Uma janela para as pessoas que estão paradas ali olhar, contemplar.”
Nossos Segredos traz ainda uma sala dedicada à mãe Margarida Pandolfo, grande incentivadora e entusiasta da dupla, e seus bordados. “Ela sempre desenhou, mas meio que deixou de lado. Mas aos 60 anos começou a bordar e não parou mais. Então, a gente foi juntando todo esse material que ela ia produzindo e guardando na casa dela. A gente foi pegando aos poucos sem ela saber”, revela Gustavo. O espaço, batizado de “Assim bordei meus sonhos“, estreou em Belo Horizonte e, segundo eles, foi motivo de grande emoção para a mãe, que foi pega de surpresa.
A mostra também chega ao Recife com novos elementos e instalações. Entre elas, destaca-se uma obra inédita que receberá os visitantes do lado de fora do museu e a exclusiva Casa da Lua, construída especialmente para a estadia na capital pernambucana. Além disso, foram acrescidos outros pequenos detalhes, como um painel que reúne uma compilação em vídeo da cena hip hop paulistana e fotografias, incluindo uma registro de Chico Science, na Primeira Festa Hip Hop do Recife. “A gente adora, quando está em um lugar, produzir também nesse lugar. Então, a gente produziu umas cinco pinturas novas que estão também aqui.”
No entanto, eles contam que, para chegar até aqui, o trabalho esbarrou em muitos preconceitos, sobretudo, por parte do universo da arte contemporânea, pouco receptivo ao graffiti e à arte urbana. “A gente ouviu muito não”, confessa Otavio. “Há esse preconceito com o trabalho pelo fato de vir da rua, pelo fato de ninguém te falar como, onde e por quê pintar. Mas é arte. É a voz da rua. A gente não precisa ter ateliê em casa, porque a gente tem a rua. Então, a gente usou a rua como um ateliê de experimentos.”
Em cartaz até o próximo dia 27 de agosto, a exposição OSGEMEOS: Nossos Segredos está com ingressos à venda no site do Instituto Ricardo Brennand. Os preços variam de R$ 25 a R$ 100, garantindo acesso a todas as salas expositivas e acervos do museu.