Opinião: Obama está endividado

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OBAMA ESTÁ ENDIVIDADO
Mulheres, gays, negros e latinos foram os grandes responsáveis pela reeleição de Barack Obama, embora seu governo tenha trabalhado muito pouco para essas pessoas

Por Tiago Negreiros

Se os EUA fossem um país majoritariamente formado por homens brancos, de pouca escolaridade e ricos, a vitória decretada na última terça-feira (06) para Obama seria para o republicano Mitt Romney. Os dados eleitorais repetem um pouco as eleições de 2008 na questão de gênero; mais uma vez as mulheres apostaram mais do que os homens em um candidato democrata; 55% a 45%. Os latinos que votaram em Obama somaram 69%, enquanto os negros foram uma vasta maioria: 93%. Quanto mais velhos eram os votantes, mais eles votavam em Romney. O republicano teve mais votos entre os eleitores com mais de 40 anos, mas quatro em cada cinco homossexuais preferiram Obama. Afinal, com tantos votos à esquerda, o que queriam essas pessoas? Fugir de Romney ou dar um voto de merecimento a Obama?

Em seu discurso de vitória Obama prometeu que “o melhor ainda virá”, o que não seria tão difícil dentro de um contexto em que o presidente pouco fez ao longo do seu primeiro mandato, praticamente de centro-direita. A situação financeira dos EUA continua delicada – o desemprego está em 7,9%, mas poderia estar em 11% caso tantas pessoas não desistissem de procurar uma vaga no mercado de trabalho – e o país ainda está envolvido em guerras, como a do Afeganistão. No Iraque Obama respeitou o cronograma de retirada das tropas, embora tenha tentando manter 10 mil soldados naquele país, sendo impedido pelo governo local. Como se não bastasse, foi no governo do Nobel da Paz que o uso dos drones – aviões não tripulados – aumentou significativamente em relação ao Governo Bush. Sobrevoando o espaço aéreo em países como Afeganistão, Líbano, Líbia, Gaza e Iraque para espionar e matar suspeitos de terrorismo, essa geringonça ‘tecno-assassina’ já realizou mais de 300 ataques e deixou quase três mil mortos (entre eles, mulheres, crianças e idosos) somente no Paquistão. O fim da prisão de Guantánamo, que mantém dezenas de homens presos sem julgamento, virou uma lenda entre as tantas promessas que Obama fez e não cumpriu.

Faltou também um olhar mais humano à situação dos imigrantes ilegais nos EUA. Os que sonhavam com uma séria reforma imigratória no país após a vitória de Obama, viram no primeiro mandato do democrata 1,2 milhões de seus compatriotas serem deportados. Surpreendentemente uma perseguição mais eficaz do que a vista na Era Bush, como lembrou o diário Washington Post em agosto deste ano. Obama agiu dessa maneira na tentativa de diminuir o número de desempregados no país, mas terminou potencializando a perseguição aos imigrantes – principalmente latinos – e causando fenômenos bizarros, como a de agricultores norte-americanos que precisaram contratar presidiários para sanar a escassez de mão de obra.

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Mas se Obama foi apenas um mediano presidente, porque, afinal, essas pessoas ainda apostaram nele? A resposta pode está em vários fatores, mas o predominante é a falta de diálogo e de identidade dos correligionários republicanos com a classe média/ média baixa dos EUA. Mitt Romney adotou durante a campanha um discurso tão conservador que, dizem analistas, espantou os eleitores descontentes com o governo Obama. Nascido em Michigan há 65 anos, Romney foi governador de Massachusetts entre 2003 e 2007. Empresário de sucesso, o republicano sempre foi um defensor voraz da redução dos impostos e dos benefícios aos mais pobres. Durante a campanha, um vídeo vazou na internet em que mostrava Romney depreciando eleitores de Obama. “Há 47% que estão com ele (Obama), que são dependentes do governo, que acham que são vítimas, que acham que o governo tem responsabilidade de cuidar deles”. O resultado nas urnas foi bastante claro: quanto menor o poder aquisitivo da população, maiores foram os votos para Barack Obama.

Ao menos no mundo, a derrota de Mitt Romney parece ter sido menos danosa do que uma eventual vitória. A primeira ministra alemã Angela Merkel ganharia um aliado em sua política de agressivos corte de gastos para tirar alguns países europeus da crise, mas que só tem causado mais desemprego e recessão. Na relação com Israel, Romney prometia revigorá-la, visto o desgaste causado pela impaciência de Obama com os desmantelos psiquiátricos de Benjamin Netanyahu, primeiro ministro de Israel e ávido por uma guerra contra o Irã. O ataque, motivado por uma suposto plano de elaboração de uma bomba atômica por parte do Irã, por enquanto não encontra apoio dos norte-americanos, mas poderia receber o sinal verde caso Mitt Romney fosse eleito presidente. Curiosamente, o republicano era o candidato dos sonhos de Netanyahu.

No discurso da vitória, Obama citou a palavra “guerra” três vezes, entre elas, para afirmar que a mesma “está chegando ao fim”. Sem a pressão da reeleição, Obama pode adotar um mandato mais ousado e de fato abandonar os conflitos pelo mundo. Certamente esse é o desejo de muitos eleitores, afinal, o que mais preocupa parte do eleitorado é a economia do país e não as paranoias de Netanyahu. E o primeiro desafio de Obama será entrar em um acordo com o congresso para conter o chamado “abismo fiscal”, que prevê aumento de impostos e corte abrupto dos gastos. O acordo terá que ser selado até o final de dezembro, caso contrário, áreas como educação, defesa e saúde poderão ser prejudicadas.

Outro desafio, mas este a longo prazo, será Obama respeitar os milhões de votos que ele teve de uma parcela da população ansiosa por mudanças mais profundas, menos acovardadas. Os EUA são hoje o país mais desigual entre aqueles dito de primeiro mundo, com 47 milhões de pessoas vivendo abaixo da linha da pobreza. Por 55 cidades norte-americanas, mais de cinco mil pessoas vivem amontoadas em barracas sem as mínimas condições de higiene. A fim de distribuir renda, Obama promete aumentar os impostos dos mais ricos. “Queremos que todos tenham uma oportunidade justa”, disse. Será papel de quem votou nele cobrar.

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Referendo
Durante as eleições norte-americanas, vários Estados aproveitaram a ocasião para realizar plebiscitos dos mais diversos. Foram significativas as vitórias conquistadas pelos movimentos LGBTs nos Estados de Maryland, Maine e Washington, que aprovaram o casamento gay. O mesmo já é permitido em Connecticut, Iowa, Massachusetts, New Hampshire, Nova York, Vermont e no distrito de Columbia. Em Oregon a proposta não teve o mesmo sucesso e foi rejeitada por 54% da população.

Constitucionalmente o casamento gay segue proibido em 31 Estados. A nível federal, o casamento entre pessoas do mesmo sexo ainda não é reconhecido.

O uso recreativo da maconha foi aprovado em Washington e Colorado. Nos EUA alguns Estados permitem apenas o uso medicinal da erva, como na Califórnia. Neste Estado, os eleitores recusaram o fim da pena de morte. Atualmente 725 prisioneiros estão no corredor da morte aguardando uma decisão que possa revogar a pena em prisão perpétua. Desde que a Califórnia reintroduziu a pena capital em 1978, 13 pessoas foram executadas.