Por Iara Lima
Não, o lugar não é novidade, mas é daquelas pérolas do Recife destinadas apenas aos iniciados ou a pessoas que não entortam o nariz pra o Recife tal qual é. Não é à toa que o Caldácio da Saudade é locação do último filme de Cláudio Assis, a Febre do Rato. É ali que Irandhir Santos toma uma cerveja esperando Nanda Costa sair da escola. O cantinho nada mais é do que um quiosque fincado no cruzamento da Riachuelo com Rua da Saudade.
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Dácio, o anfitrião – cuja diagramação pessoal vai lembrar a você um Raul Seixas distribuído em 1,65m – é cozinheiro. Garçom. Poeta. Mestre das sem-cerimônias. Gaitista. Sua comida é ancestral, com toque de pimenta de cheiro e louro. Todos os dias tem caldinho, como não poderia deixar de ser, e algo mais substancial como sururu ou galinha à cabidela. Ali Dácio erigiu seu templo em 2008, em um exíguo espaço sobre a calçada cuja decoração é kitsch e riquíssima. Ali é onde ele reúne de um tudo: de poetas a músicos, mecânicos e executivos a jornalistas e policiais.
Frequentar Dácio é quase uma religião: às cinco da tarde começam a chegar seus clientes-amigos. Entre eles o poeta Miró da Muribeca, o roqueiro Cinval e o mestre Elias Paulino, bastião do samba recifense há 20 anos militando à frente do grupo terra. No quiosque de Dácio você vai ouvir Led Zeppellin, mas não tem banheiro. Vez por outra acontece uma roda de samba e choro, mas não há mesas. Dácio realiza saraus improvisados em que ele é o primeiro a recitar seus poemas. Eu, mulher, já tive a sorte de ser uma de suas invariáveis musas e ser presenteada com alguns de seus galanteios.
Quer conhecer um pouco mais de Dácio? Há um pequeno documentário que trata sobre o poetinha, mas eu recomendo mesmo passar por lá quando largar do trabalho. E pra não dizer que não avisei, o local não aceita cartão, mas Dácio prepara a melhor “meladinha” (Caninha misturada com limão e mel) que eu já tomei na minha vida.