audiovisual
Fotos: Reprodução e Divulgação/montagem OGrito!

O melhor do audiovisual em 2020

Nunca consumimos tanto conteúdo quanto em 2020, ano em que as telas reinaram. Aqui o melhor no cinema, TV, podcast e videoclipes

Por Alexandre Figueirôa, Fernando de Albuquerque, Luiza Lusvarghi, Túlio Vasconcelos, Rafaella Soares, Sergio Costa Floro. Edição: Paulo Floro.

O setor da produção audiovisual foi um dos mais afetados pela pandemia provocada pelo covid-19. As salas de cinema ficaram fechadas a maior parte do ano, filmagens em andamento tiveram que ser suspensas, os grandes lançamentos foram adiados para 2021, festivais importantes não aconteceram ou foram apresentados em versão on-line, enfim, um buruçu danado.  

Neste cenário tenebroso, apenas o segmento das plataformas de streaming se deu bem. Com boa parte da população mundial confinada em casa, YouTube, Netflix, HBO e seus congêneres tiveram um crescimento global de cerca de 20% do número de assinantes. No Brasil, segundo dados da Forbes, a plataforma Telecine Play registrou um crescimento de 400% no número de cadastros e um aumento de 100% do número de filmes assistidos desde o início da quarentena. E atenção: mesmo com o fim do isolamento social, as práticas de entretenimento não voltarão a ser como antes. 

A nossa lista de produções audiovisuais que se destacaram em 2020, portanto, reflete inevitavelmente esta situação. E acompanhando as tendências verificadas no setor, a partir deste ano incluímos não apenas filmes exibidos nos cinemas, mas também filmes e séries lançados pelas plataformas de streaming, videoclipes e programas difundidos em canais do Youtube, além do podcasts das plataformas de música, outro segmento em franca expansão. Nossa lista de melhores filmes passa a se chamar Melhores do Audiovisual e não tem mais ranking.

Dá uma olhada, vê se bate com tuas preferências e se não viu ou ouviu o que destacamos, vai lá dar uma espiada, vai que você gosta.

Lovecraft Country (HBO)
Criadora: Misha Green

Um dos grandes hits da TV em 2020 reuniu terror, ficção-científica e aventura com uma ressonância social com bastante coesão. Misha Green e os produtores executivos J. J. Abrams e Jordan Peele se apoiaram no imaginário dos monstros do escritor H.P. Lovecraft (curiosamente um autor com diversas acusações de racismo nas costas) para uma narrativa intrincada repleta de boas ideias.

Little Fires Everywhere (Amazon Prime Video)

Criadora: Liz Tigelaar

Baseado no best-seller de Celeste Ng, Little Fires Everywhere retrata as fissuras que existem no mundinho perfeito da classe média americana, sobretudo em relação ao racismo e preconceito de classe. Na trama, a vida de uma rica dona de casa (Reese Whiterspoon) muda completamente após a chegada à cidade de uma artista plástica (Kerry Washington) e sua filha. Com elementos de suspense e drama, a trama aborda questões sobre maternidade em meio a um clima político denso e bem construído.

I May Destroy You (HBO)
Criadora: Michaela Coel

Michaela Coel deixou todas nós no chão com esse enredo semiautobiográfico em que discute diferentes tipos de abuso. Além disso trouxe uma perspectiva de raça e gênero. Ao discutir sexualidade, violência e traumas a partir da visão de alguém que vem dos subúrbios, de outra etnia, a autora evidencia que algo não vai assim tão bem no austero e civilizado Reino Unido. 
Leia: O mal estar da civilização em I May Destroy, por Luiza Lusvarghi.

O Gambito da Rainha (Netflix)
Criadores: Scott Frank e Allan Scott

Um trabalho inusitado deste ano, que traz a luta contra o vício e a obsessão em meio a uma história de autodescoberta. Gambito da Rainha ainda traz, como alegoria, a luta contra as engrenagens machistas que freiam as ambições das mulheres. E o modo como retrata o apaixonante jogo de xadrez é outro ponto forte.

My Brilliant Friend – 2ª temporada (HBO)

A série italiana da HBO trouxe novos dramas na vida das amigas Lenu (Marguerita Mezzuco) e Lila (Gaia Girale), que agora iniciam a vida adulta. O modo como a série retrata a crise das instituições tradicionais (casamento, família) segue complexo e agora ganham contornos ainda mais pesados, com temas como violência e estupro.


Ms America (Fox Premium)

Direção:

A série estrelada por Cate Blanchett deixou ainda mais explícito a importância do feminismo ao retratar uma das maiores inimigas do movimento, a ativista ultraconservadora Phyllis Schlafly. A minissérie ainda se destaca pela excelente direção de arte e por trazer um panorama interessante do pensamento progressista que até hoje repercute no mundo.

Killing Eve – Terceira temporada (Globoplay)

A terceira temporada da série que mostra a relação complicada entre a assassina profissional Villanelle (Jordie Comer) e Eve Polastri (Sandra Oh) ganha novos contornos nesta nova fase. Agora temos uma confusão entre os papéis, com as personagens refletindo sobre suas motivações. E a narrativa de suspense, ação e comédia segue super azeitada.


Ya No Estoy Aquí (Netflix)
Direção: Fernando Frias.

O drama musical espanhol dirigido por Fernando Frias de la Parra traz uma história de resistência ao trazer um olhar humanizado para o drama dos imigrantes. Destaque ainda para oe excelente trabalho do ator e dançarino Juan Daniel Garcia Treviño, estrela do longa.

Babenco – Alguém Tem Que Ouvir o Coração e Dizer: Parou
Direção: Barbara Paz

Escolha brasileira para concorrer a uma vaga de melhor filme estrangeiro no Oscar de 2021, o documentário de Barbara Paz sobre o diretor Hector Babenco (Carandiru, O Beijo da Mulher Aranha) revela como o seu amor pelo cinema foi o motor criativo de sua carreira (e vida).

Rede de Ódio (Netflix)

Direção: Jan Komassa.

Rede de Ódio é uma dessas surpresas que o streaming nos oferece. Drama polonês inquietante, o longa teria passado discretamente não fosse a força da gigante Netflix para lhe dar tração. Trata-se de uma trama intensa sobre um estudante expulso da universidade que tenta comandar a internet causando ódio e violência. Ressoa bastante os dias atuais.

The Boys in The Band (Netflix)

Direção: Joe Mantello

Dirigido por Joe Mantello e escrito por Mart Crowley, baseado na peça de 1968 de mesmo nome, o longa aborda uma noite na vida de um grupo de amigos nos anos 1970. Com um conceito de um “teatro filmado”, o filme produzido por Ryan Murphy consegue abordar com leveza e nuance questões sobre velhice, solidão e relacionamentos. O fato de ter um elenco gay interpretado por atores abertamente gays, por mais que pareça um detalhe, ainda é bastante relevante em 2020.

Todos os Mortos

Direção: Caetano Gotardo e Marco Dutra

O longa de Marco Dutra e Caetano Gotardo aborda questões sérias do país, como o racismo estrutural e o fosso de desigualdade que separa ricos e pobres. Tudo no filme parece ser um espelho do Brasil de hoje, ainda que se passe em 1899. Uma realidade, portanto difícil de lidar: nunca saímos do século 19.

Teocracia em Vertigem (Porta dos Fundos – YouTube)

O novo filme natalino do canal Porta dos Fundos segue com sua tradição de fazer paródia do cristianismo com Teocracia em Vertigem, mas dessa vez o interesse maior foi criar paralelos com episódios da política brasileira. Filmado em tom de documentário, traz um humor reflexivo, mas ainda com o tom de absurdo e escárnio que sempre fez a fama do grupo.

Transhood: Crescer Transgênero (HBO)
Direção: Sharon Liese

Filmado ao longo de cinco anos em Kansas City, antro do conservadorismo americano, o documentário traz histórias inspiradoras de quatro jovens e suas famílias conforme eles vão crescendo como pessoas trans. O longa traz um olhar inovador no modo como retrata os personagens e traz um tom de resistência e honestidade muito forte.

Narciso em Férias (GloboPlay)

Direção: Ricardo Calil e Renato Terra

Narciso em Férias é mais do que um registro íntimo e histórico sobre um dos maiores músicos do Brasil, mas é também o relato de um período de horror e violência do país. No longa acompanhamos Caetano Veloso em um depoimento sobre sua prisão pela ditadura militar em dezembro de 1968, onde ele ficou 54 dias em cárcere.

O Dilema das Redes (Netflix)

Direção: Jeff Orlowski

Um dos maiores hits deste ano, o docudrama de Jeff Orlowski analisa o papel das redes sociais na sociedade atual e traz um aterrador panorama do dano que essas organizações trazem às democracias ao redor do mundo.

King Kong in Asuncion

De Camilo Cavalcanti

O longa King Kong em Asunción se propõe a ser uma obra ficcional experimental, mesclando realidade e ficção, explorando hibridismos de linguagem, e utilizando personagens e paisagens reais. Segundo seu diretor declarou em entrevistas anteriores, o filme segue os passos do “cinema marginal, cinema de guerrilha com várias citações ao gênero western” para distanciar-se de referências europeias, tão frequentes em abordagens cinematográficas locais, postulando uma “nova gramática cinematográfica”. Filmado com uma equipe compacta e uma estrutura de produção enxuta que lhes permitiu viajar por 3 mil quilômetros, o baixo orçamento proporcionou aqui total liberdade criativa e artística. Leia resenha de Luiza Lusvarghi.

O Que Ficou Pra Trás (Netflix)

Direção: Remi Weekes

O longa britânico foi o grande destaque do cinema de horror em 2020 com uma trama de terror psicológica que cria conexões com o drama real dos imigrantes africanos em sua difícil jornada rumo à Europa.


Uma seleção de podcasts interessantes que nos fizeram companhia ao longo do ano:

Retrato Narrado (podcast)
Ouça.

Praia dos Ossos (podcast)
Ouça.

Vidas Negras (podcast)
Ouça.

Budejo (podcast)
Ouça.

Benzina (podcast)
Ouça

A Dor e a Delícia (podcast)

POC de Cultura (podcast)
Ouça


Ora Thiago (YouTube)

O canal de Thiago é viciante por ser profundo e nonsense ao mesmo tempo. Suas análises sobre produtos da cultura pop são divertidos por trazerem conexões inusitadas e inteligentes sobre os mais diversos assuntos. Sem falar que a edição é um verdadeiro ensaio visual.

Coquetel Molotov.EXE (festival)

coquetel molotov.exe 1
Foto: Nina Quintana/Divulgação.

No ano em que todos os festivais tiveram que migrar para o online por conta da pandemia, o Coquetel Molotov decidiu apostar na inovação e arriscou tudo em uma experiência cheia de experimentação. O resultado foi um evento que criou sensações diferentes daquela que encontraríamos na versão presencial, mas com um resultado que teve tudo a ver com o momento.


Os clipes mais interessantes do ano foram cheios de alegorias visuais e interpretações cheias de entrega.

Lady Gaga – “911”
Direção: Tarsem Singh

Christine and The Queens – La vita nuova
Direção: Colin Solal Cardo