Nome Próprio

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NOME COMUM E TOLO
Murilo Sales faz uma leitura “adolescente” do mundo e desperdiça a matéria-prima dos textos de Clarah Averbuck
Por Rafael Dias

NOME PRÓPRIO
Murilo Salles
[Nome Próprio, Brasil, 2008]

Nome Próprio, longa com a atriz Leandra Leal que faz estréia nacional esta semana, é um filme tolo e de roteiro previsível que não consegue transmitir a visceralidade literária nem o ímpeto da juventude neo beatnik dos anos 2000. Adaptação livre da obra da escritora e blogueira gaúcha Clarah Averbuck, a nova produção de Murilo Salles faz um apanhado de clichês e visões pueris sobre sexo, drogas e marginalidade com excesso de pudor e pouca intensividade narrativa. O resultado é uma obra menor, que se limita a uma leitura “adolescente” do mundo e desperdiça a matéria-prima bruta, ao cair na mesmice do discurso-chavão.

Filmado inteiramente no formato digital, o longa passa a idéia inicial de rebeldia e uma tentativa de quebra de convenções, com o uso de longos planos-seqüência, captados por uma câmera on-the-go, e close-ups repetitivos. Mas a intenção “revolucionária” fica nisso. Apenas na forma. Na história em si, há pouca ou quase nenhuma transgressão. Leandra Leal faz Camila, jovem escritora e blogueira apaixonada pela arte de escrever, uma espécie de alter-ego de Clarah Averbuck (embora a autora afirme categoricamente que o personagem fictício nada tem a ver com ela). Poetisa voraz, Camila escreve para se libertar e aplacar as dores do mundo. A obsessão a leva a sair de Porto Alegre, após ser rejeitada pelo namorado, para seguir uma vida nômade por São Paulo, Rio e Brasília. O filme acompanha a montanha-russa da vida da protagonista, repleta de encontros (e desencontros) amorosos, porres, nicotina, noites em claro em frente ao computador, tédio e sua busca incessante por uma dose violenta de paixão qualquer.

Pelo rico material que tinha em mãos, Murilo Salles cometeu um grande desperdício. As falas e os poemas, transcritos nas cenas, têm pouca densidade e perdem espaço para a profusão de palavrões e diálogos “pueris”. O diretor só chegou a utilizar cerca de 20% do original do livro Máquina de Pinball, de Averbuck, no qual o filme é inspirado. O resto foi criado livremente. Em algumas cenas, drogas e sexo são mostrados de uma forma ingênua impressionante. No fim das contas, o longa parece um pastiche, com uma sucessão de frases bobas e de pouco efeito. Até as cenas de nudez de Leandra Leal, alardeadas na mídia, são pudicas. Falta impacto ou uma energia latente na adaptação. Erro semelhante cometido por Robert Towne, que levou às telas o livro Pergunte ao Pó, de John Fante, com Salma Hayek e Colin Farrell. Um filme fraco e excessivamente puritano, que não capta o universo dos seguidores da poesia visceral de Bukwoski, Leminski e Jack Kerouac.

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Adaptação livre da obra de Averbuck, filme peca pela ingenuidade

É estranho o equívoco sair de um diretor respeitado na cena do cinema independente brasileiro. Antes de se diretor, Salles foi fotógrafo requisitado nos anos 80 e apareceu nos créditos de filmes antológicos da cinematografia nacional ,entre eles Dona Flor e Seus Dois Maridos, de Bruno Barreto; Lição de Amor, de Eduardo Escorel; e Tabu, de Júlio Bressane. Também produziu e fotografou Árido Movie, do pernambucano Lírio Ferreira (Baile perfumado). Em seu currículo como cineasta, detém prêmios importantes em Brasília, Gramado e Locarno. É autor dos filmes Nunca Fomos Tão Felizes (1984), Faca de Dois Gumes (1988) e Todos Os Corações Do Mundo. Desde 2003, quando lançou Como Nascem Os Anjos e o documentário É Tu Brasil, não produzia um filme inédito.

img n proprioMurilo Salles tem uma trajetória razoável no star system, mas isso não foi suficiente para produzir um filme impactante. Por mostrar o torpor e a náusea da juventude na era pós-industrial, o filme poderia contribuir para uma crítica social e uma leituraa do vazio ideológico, mas não faz muito mais além disso. Leandra Leal até que se esforça, tenta mergulhar na aura inquietante da personagem, porém parece boiar à beira da piscina. No mais, é melhor ler o livro no original ou beber na fonte dos beats dos anos 50. A viagem, tenha certeza, será muito mais proveitosa.

NOTA: 4,0

SAIBA MAIS:
Clarah Averbuck: adioslounge.blogspot.com
Murilo Salles: www.murilosalles.com
Leandra Leal: www.alicemepersegue.blogger.com.br