DON still pool
(Foto: Divulgação/Pandora Filmes).

Nintendo e Eu encara as dores e delícias do fim da infância com leveza e nostalgia

Longa filipino parte da nostalgia para articular questionamentos intrínsecos a essa fase da vida

Nintendo e Eu encara as dores e delícias do fim da infância com leveza e nostalgia
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Nintendo e Eu
Raya Martin

Filipinas, EUA e Singapura, 2020, 1h39. Distribuição: Pandora Filmes
Com Noel Comia Jr, Elijah Alejo e Kim Chloie Oquendo
Em cartaz nos cinemas

Se há algum consenso em torno da experiência de vida humana é o fato de que a adolescência foi — e continua sendo — o momento mais turbulento da existência de qualquer pessoa: inseguranças afloram e as incertezas sobre quem somos e qual o nosso lugar no mundo só crescem. Mas para que essa fase da vida chegue, é preciso que uma etapa anterior abra passagem para ela: a tal da pré-adolescência, essa zona cinzenta na qual o que convém chamar de infância já não contempla inteiramente a forma como nos enxergamos no mundo, mas ainda assim a adolescência parece destoar do que realmente somos.

É justamente sobre esse limbo e o processo de autodescoberta que o acompanha que se debruça o longa Nintendo e Eu, drama filipino sobre amadurecimento — ou, no estrangeirismo, coming of age. Dirigido por Raya Martin e escrito por Valerie Castillo Martinez, o filme conta a história de um grupo amigos que atravessa essa fase da vida na capital Manila, durante a década de 1990, época em que os videogames se popularizavam entre a garotada e chegavam para deixar de vez sua marca nas memórias afetivas que remetem a esse período tão fugaz e marcante da nossa existência.

E, nesse caso, como sugere o título, o brilho fica por conta do console apelidado de Nintendinho no Brasil e toda a atmosfera sonora e visual, tão pop e vibrante, característica de jogos como Super Mario e Zelda.

Nintendo e Eu.
O filme vai além do nostálgico. (Foto: Divulgação/Pandora Filmes).

Mas esse não é um filme sobre videogames ou que se limita a meramente reproduzir o clima de nostalgia para quem foi criança nos anos 1990. Nintendo e Eu vai além, e o clima nostálgico aparece mais como um ponto de partida para articular com leveza temas como descoberta do amor infantil, papéis de gênero, amizade, diferenças de classes, desconstrução de mitos e lendas e até religiosidade. É esse caldeirão, na verdade, que dá a tônica à jornada do pequeno grupo formado por Paolo (Noel Comia Jr), Kachi (John Vincent Servilla), Gilligan (Jigger Sementilla) e Mimaw (Kim Chloe Oquendo), a única menina entre eles.

Assim, se para os garotos a circuncisão tradicional é o único e simples passo que precisam dar em direção à vida adulta, para Mimaw, uma “menina moleca”, a história já é diferente. Ela inicia uma jornada solitária e começa a despertar para os papéis e expectativas de gênero ao estreitar laços com Shiara (Elijah Alejo), a menina mais popular do bairro, e suas amigas. Impulsionado pelas diferenças de socialização entre meninos e meninas, o longa traça um paralelo bastante sútil entre os distintos processos de amadurecimento que são desencadeados.

Por ser atravessado por temáticas tão universais, Nintendo e Eu traduz de maneira simples e familiar sentimentos corriqueiros, mas, simultaneamente, ainda pouco articulados — dada, sobretudo, a imaturidade. É uma pena, no entanto, que a trama não consiga ser mais cativante. De toda forma, o filme serve como um lembrete vívido de que certas questões ainda são capazes de nos atravessar independente de onde estamos no mapa-múndi.

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