Mostra SP 2015: Evento mantém tradição de conciliar indies, memória e estreias comerciais

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Cena de Meu Amigo Hindu, de Hector Babenco. (Divulgação).
Cena de Meu Amigo Hindu, de Hector Babenco. (Divulgação).
Cena de Meu Amigo Hindu, de Hector Babenco. (Divulgação).

O engarrafamento causado entre Augusta e Frei Caneca no primeiro final de semana da Mostra Internacional de São Paulo, apesar da crise anunciada, é bastante revelador da tradição do evento na Capital. Criada pelo jornalista Leon Cakoff há 39 anos, enfrenta a crise com vigor, e continua apostando em seu caráter de evento-espetáculo trazendo 312 títulos de 62 países.

Em seus primórdios, instituiu pela primeira vez no Brasil o voto do público. Estudantes, pesquisadores e cinéfilos engrossavam as filas de compra de ingressos para ver filmes independentes de cinematografias que não circulavam pelas grandes distribuidoras controladas pelos monopólios vinculados às majors. Essa característica mudou bastante, e embora ela mantenha o caráter de um painel de novidades e tendências mundiais, passou a incluir filmes mais tradicionais, antecipando estreias comerciais, como ocorre com o hollywwodiano Aliança do Crime, estrelado por Johnny Depp.

Cena do clássico e polêmico Sindicato dos Ladrões. (Divulgação).
Cena do clássico e polêmico Sindicato dos Ladrões. (Divulgação).

Memória e Sessões especiais

Apesar das premiações e da reconfiguração de mercado, contudo, a organização mantém características especificas daquele período, como ocorre com a seção Homenagens, dedicada ao diretor italiano Mario Monicelli, o criador de Parente é Serpente (1993) e O Incrível Exercito de Brancaleone (1966) que vai ter cinco de seus filmes exibidos: A Grande Guerra (1959), Casanova 70 (1965), Filhas Do Desejo (1950), Ladrão Apaixonado (1960) e Os Eternos Desconhecidos (1958). A Retrospectiva é voltada para a exibição de clássicos do cinema restaurados pela Film Foundation, instituição de preservação de filmes fundada por Martin Scorcese, autor do cartaz do evento, e traz 25 filmes célebres, dentre eles o polêmico Sindicato de Ladrões (1954), de Elia Kazan, extremamente criticado pela esquerda dos EUA em seu lançamento.

Na próxima quarta-feira, dia 28, a Cinemateca Brasileira vai abrigar sessão especial da Mostra com exibição de Limite (1931), dirigido por Mário Peixoto (1908-1992), e debate com Margaret Bodde, diretora da The Film Foundation, responsável pela restauração do clássico brasileiro, e o cineasta Walter Salles. Completa a exibição a seção Perspectiva Internacional, com obras mais recentes do cinema mundial – este ano serão exibidos 15 títulos premiados em outros festivais.

Babenco na abertura da Mostra. (Foto: Mario Miranda Filho/Divulgação/Agência Foto).
Babenco na abertura da Mostra. (Foto: Mario Miranda Filho/Divulgação/Agência Foto).

Júri e tendências

A Mostra é integrada pela Competição Novos Diretores, em que concorrem diretores que tenham realizado até dois longas, além de apresentações especiais em espaços alternativos, e a Mostra Brasil, com títulos brasileiros inéditos em São Paulo. Na última quarta-feira, o filme inédito Meu Amigo Hindu, do argentino radicado no Brasil Hector Babenco, inaugurou o evento, em projeção especial para convidados. São 70 filmes brasileiros, 25 filmes hispano-americanos, e um foco especial no cinema escandinavo.

O júri é composto pela atriz inglesa Geraldine Chaplin, prêmio Humanidade no ano passado, pelo músico argentino e autor de trilhas pra cinema e televisão, Iván Wyszogrod, o produtor e diretor espanhol Luis Miñarro, o distribuidor e produtor francês Nathanaël Karmitz, que pertenceu à MK2, de filmes independentes, tema da Mostra no ano passado e pelo diretor, roteirista e produtor brasileiro Paulo Machline , que atualmente trabalha na adaptação para o cinema de Filho Eterno, livro de Cristovão Tezza.

O júri da Abraccine, a Associação Brasileira de Críticos de Cinema, também participa da Mostra, e este ano é formado por Carlos Helí de Almeida (RJ), presidente, Ilana Feldman (SP), Ivonete Pinto (RS), Marcio Sallem (MA) e Nayara Reynaud (SP). A Abraccine premia os novos diretores brasileiros que estejam em seu segundo filme. A premiação vai ocorrer no dia 4.

Neste sábado, dia 24, o autor da série PSI, Contardo CAlligaris, participou de um debate. O psicanalista e escritor será o segundo depoente do ciclo Memórias do Cinema. Anteriormente denominado Os Filmes da Minha Vida, o ciclo integra a programação. Todo ano, o encontro, gratuito, reúne cineastas, jornalistas, críticos e profissionais ligados ao cinema, que dão depoimentos sobre as produções que influenciaram a sua vida. A série de palestras ocorre no Anexo do Espaço Itaú de Cinema – Augusta.

A programação segue assim:
26/10, segunda-feira – Nelson Xavier
27/10, terça-feira – Sandra Kogut
28/10, quarta-feira – Cao Hamburger
29/10, quinta-feira – Joel Pizzini
30/10, sexta-feira – Paulo Sacramento
31/10, sábado – Lucia Murat
2/11, segunda-feira – Luis Miñarro
3/11, terça-feira – Walter Lima Jr.

Erramos: Uma versão anterior desse texto dizia que Paulo Emílio tinha organizado a Mostra de Cinema de São Paulo. Não é mostra de cinema de São Paulo, mas Festival Internacional de Cinema do Brasil, que teve uma única edição em São Paulo, em 1954. O texto foi corrigido.