marina sena coisas naturais capa
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Marina Sena reafirma voz própria e identidade artística em “Coisas Naturais”

A cantora e compositora se distancia das tendências e reafirma sua originalidade no pop contemporâneo

Marina Sena reafirma voz própria e identidade artística em “Coisas Naturais”
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Marina Sena
Coisas Naturais
Sony Music, 2025. Gênero: Pop, MPB

A fase solo de Marina Sena trouxe a cantora para lugares bem diferentes pelos quais ela passou ainda na época dos grupos Rosa Neon e A Outra Banda da Lua. Em um período de quatro anos a cantora mineira teve que assimilar e reconhecer sua posição como uma das principais vozes do pop nacional depois de oito anos de carreira em circuitos bem menores e menos reconhecidos do que por onde ela transita atualmente. 

Quando o nome da artista nascida em Taiobeiras (MG) chegou ao grande público, sua autenticidade musical se destacou – e eu me incluo aqui entre os que perceberam isso. Suas letras e sonoridades traziam um ar arejado ao pop nacional. A riqueza nas referências e o domínio de um repertório vasto são as características que fazem o trabalho da cantautora mineira carregar esse ineditismo contínuo. No seu repertório existem poucas tentativas de entrar nas tendências do circuito musical, e as poucas tentativas provaram – através da reação baita negativa de seu público – que a pasteurização não é um caminho a ser tomado. 

marina sena gabriela schmdt
Foto: Gabriela Schmdt/ Divulgação.

Em Coisas Naturais, felizmente, a artista decidiu se voltar para aquilo que a alimenta artisticamente e produzir a partir disso: a música latina e a música brasileira. Em seu espectro de influências passam Zé Coco do Riachão, músico e rabequeiro do norte de Minas Gerais, o funk carioca, o reggaeton e, claro, a MPB dos anos 1960. O resultado é um álbum que sabe fazer “Mágico”, um disco-pop à la Marcos Valle, conversar com os elementos da bossa nova em “Ouro de Tolo”, o brega de “Lua Cheia” e rock psicodélico em “Numa Ilha”

Refletindo a capa belíssima de Marcelo Jarosz, Coisas Naturais foi feito como essa espécie de colagem de tudo que passou por Marina Sena na sua formação artística. Existe neste disco uma seleção refinada de coisas trabalhadas por ela nos seus outros dois trabalhos de estúdio: o dinamismo e a variedade sonora do De Primeira (2021) junto da produção mais elaborada do Vício Inerente (2023). 

Aliás, a perspectiva de construir o disco a partir de referências do passado também parece estar presente na produção do disco. Coisas Naturais traz no seu time de produtores e compositores André Oliva e Matheus Bragança, ex-colegas de banda de Marina Sena, e inova com Janluska, que dirige o trabalho na produção e substitui Iuri Rio Branco, ex-parceiro e principal colaborador nos outros dois álbuns da artista. 

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Foto: Gabriela Schmdt/ Divulgação.

O time reunido pela cantora foi capaz de acompanhar a sua intuição rápida dentro da música, compreendendo a identidade no disco e participando da construção de sua estética sonora, consolidada principalmente pelo uso dos instrumentos de corda, dos sintetizadores e da voz como um instrumento forte.

Inclusive, digo que o tesouro do Coisas Naturais está na voz e nos versos de Marina Sena, que aparece mais habilidosa como autora e como intérprete. Cada faixa é uma história por si, e o primeiro elemento que nos introduz às narrativas do disco é a voz da artista, que parece flertar – ou brigar – com quem lhe escuta. Com vocais que vão dos agudos até os versos semi-falados, existe uma força que nos atrai aos versos certeiros e praticamente nos compele a ouvir que ela tem a dizer. 

Coisas Naturais reafirma Marina Sena como uma das artistas mais reluzentes do pop brasileiro atual, não apenas pela sua capacidade de inovação, mas pela autenticidade de sua obra. Passando por suas raízes e referências, a cantora constrói um álbum que dialoga com o passado e com a contemporaneidade, provando que sua força artística está justamente na ousadia de ser fiel a si mesma.

Ouça Coisas Naturais, de Marina Sena