PARA SE RENDER A MALLU
Cantora teen, único fenômeno genuíno a nascer da geração internet brasileira, confirma hype em disco correto
Por Gabriel Gurman
MALLU MAGALHÃES
Mallu Magalhães
[Agência de Música, 2008]
Há menos de onze meses atrás, uma menininha de quinze anos que mal sabia tocar violão subiu ao palco do Clash Club, em São Paulo, para mostrar suas poucas canções influenciadas por Bob Dylan e Johnny Cash. De lá pra cá, muita coisa mudou. Primeiramente, esta púbere amadureceu bastante. Mallu Magalhães já namorou (e deu pé) no vocalista de sua banda preferida, participou de todos os programas de entrevistas imagináveis e se tornou (involuntariamente) um ícone da discussão sobre o hype na música brasileira. Mas, para o bem da música e dos bons ouvidos, Mallu, no auge de sua maturidade e já com 16 anos nas costas, soube lidar muito bem com tudo o que a rondava e o primeiro fruto (físico) de sua curta, mas intensa carreira, acaba de ser lançado.
Lançado pela Agência de Música (depois de recusar grandes contratos com majors), o disco que leva o nome da jovem artista só surpreende àqueles que não acreditavam no talento da guria. Se antes Mallu mal tocava violão, agora, polivalente, também mal toca gaita, escaleta e banjo. E isto está longe de ser algo negativo, pois o que mais a move é seu bom gosto – e, para uma pessoa talentosa, isso não tem idade. Apesar de não ter vivência para escrever canções impactantes, até porque uma letra sobre os problemas na escola não são lá muito atrativas, a grande inspiração que Mallu bebe de seus ídolos é avassaladora.
Se antes ela dizia “Tchubaruba” para aquele que viesse, a evolução lírica e harmonica é evidenciada em belas canções como a melancólica “Noil” e “O Preço da Flor”, esta cantada em português com um talento que deixa muito marmanjo de boca aberta. Marcelo Camelo que nos diga… Para aqueles que sentirão falta de “Don’t Leave Me”, umas das melhores músicas que constavam em seu My Space, mas que, estranhamente ficou de fora do disco, “You Know You’ve Got”, que abre o álbum e “Town Of Rock ‘n’ Roll” não decepcionam.
O grande diferencial da música de Mallu Magalhães, por mais contraditório que possa parecer, é a sua simplicidade quase infantil. Ou melhor, adolescente. A produção de Mario Caldato Jr. (o eterno produtor do Beastie Boys, Super Furry Animals, Planet Hemp, entre outros) funciona por conta de sua discrição. Assim como em seus trabalhos com os artistas praianos como Jack Johnson, Donavon Frankenreiter e G. Love, Caldato deixou a simplicidade da menina imperar, mesmo quando sua voz atinge tons de “mamãe me traz meus briquedinhos!”. Mas (querendo ou não), não é esse o seu charme?
Lógico que Mallu ainda precisa comer muito Neston e Sustagen para se tornar um grande talento da música mas, independentemente de tudo o que se fala e de todos os fatores que rodeiam qualquer movimento da carreira da multifacetada teenager (além de assinar todas as canções, a serelepe garota ainda ilustrou o belo projeto gráfico do album), é impossivel não abrir um sorriso ao escutar “Vanguart” e “J1” ou, para aqueles que ainda tinham um pé atrás, se renderem e soltarem um: “OK, desisto! A menina é boa mesmo!”.
NOTA: 7,5