JEDI – A VOLTA DOS QUE NÃO FORAM
Em meio a mágoas com Hollywood e fãs receosos de Star Wars, George Lucas vende a produtora Lucasfilm à Disney e abre a oportunidade de uma nova trilogia da família Skywalker
Por Tiago Negreiros
George Lucas está cansado e bilionário. Na última quinta-feira sua produtora Lucasfilm foi vendida para os estúdios Disney por 4 bilhões de dólares. Incluso no pacote estão todos os produtos referentes à franquia Star Wars, uma valiosa joia que equivale desde brinquedos infantis a séries animadas e filmes. Mas o que mais chamou a atenção no negócio foi a Disney logo antecipar que três novos episódios da saga da família Skywalker serão produzidos a partir de 2015, em intervalos de dois a três anos. O tom encontrado por George Lucas para se despedir da empresa foi típica a do mestre passando a espada de sabre para o discípulo: “É hora de passar ‘Star Wars’ para uma nova geração de cineastas”. A da Disney, a de quem reconhece o valor histórico da nova aquisição: “A Lucasfilm reflete as extraordinárias paixão, visão e capacidade de contar histórias de seu fundador, George Lucas”.
Se para os investidores a transação foi uma surpresa, para George Lucas era questão de tempo. Em entrevista à revista Empire em maio deste ano, o produtor afirmara que estava caminhando para sua aposentadoria. “Estou me afastando de todos os meus negócios. Vou me mudar para a minha garagem com minha serra e meu martelo e farei apenas filmes amadores”, dissera. A impaciência e o cansaço do produtor podem ter seus responsáveis; o boicote de Hollywood ao último filme de George Lucas, e a rispidez dos fãs de Star Wars. Durante o lançamento de Red Tails, Lucas expos na tevê sua mágoa à indústria cinematográfica dos EUA, ao ponto de insinuar que fosse racista. “Eu mostrei o filme a todos os grandes estúdios de cinema e todos disseram: ‘Não, nós não sabemos como introduzir no mercado um filme como este'”. Red Tails conta a história de pilotos negros norte-americanos que participaram da segunda guerra mundial.
A mágoa de George Lucas prosseguia, agora com um lado mais agressivo do cinema: o público. Conhecidos por seus posicionamentos ácidos na internet, os fãs de Star Wars nunca aliviaram com o produtor a toda intervenção digital que ele fazia na série. O tom mais ameno era acusá-lo de mercenário ao supostamente transformar a série em um produto exclusivamente mercadológico, além de “mutilar” a originalidade dos filmes antigos. Uma das mudanças mais perceptíveis foi a de O retorno de Jedi, quando os espíritos de Obi-Wan Kenobi, Yoda e Anakin aparecem para Luke Skywalker. Na versão original Anakin é o ator David Prowse, que fazia Darth Vader até então. Após a modificação, assumiu o lugar o Anakin jovem, ou seja, o ator Hayden Christensen. O mínimo que falaram era que a ‘correção’ era uma falta de respeito a David Prowse. Em entrevista ao New York Times em janeiro deste ano, George Lucas desabafou: “Para todos os que ficam reclamando na Internet sobre as minhas mudanças em Star Wars, digo ‘tudo bem’, mas é meu filme. Com o meu nome. Fui eu que o fiz e ele precisava ser feito como eu quis fazê-lo”. Sobre uma continuidade da série, Lucas descartava: “Por que eu faria outros, se todo mundo grita com você toda vez e diz como você é uma pessoa terrível?”.
Claro que o anúncio de uma nova trilogia de Star Wars, e agora sob a responsabilidade dos estúdios Disney, iria tirar o sono de muitos xiitas. A agência de notícia Reuters repercutiu alguns ressentimentos, como a de um que dissera que seria a “morte” da série. Outros demonstravam otimismo com a possibilidade da saga sair das mãos do seu criador: “As pessoas não parecem reconhecer que tirar ‘Star Wars’ das mãos de George Lucas é a melhor coisa possível para a franquia”. No diário inglês Guardian, o crítico de cultura pop e fã, Peter Hartlaub, se mostrou preocupado com os rumos da série. “Minha esperança como fã é de que essa situação não seja como a de Homem de Ferro 2, onde o estúdio, na ânsia de lançar o filme em um prazo apertado, prejudicou gravemente o potencial do produto”. Houve alegrias, mas muitas dúvidas. Afinal, que história contar nos próximos três filmes da série?
É bom lembrar que o último episódio – O retorno de Jedi, lançado em 1983 – foi concluído de forma redonda, com todos os vilões mortos e os mocinhos vivendo felizes para sempre. Pode parecer confuso, mas Star Wars começou pela metade, ou seja, a partir do episódio 4 – Uma Nova Esperança. George Lucas justificava que a tecnologia da época era insuficiente para filmar o início da saga, só levado ao cinema em 1999 com A Ameaça Fantasma. O hiato de 16 anos deixou os ariscos fãs da série impacientes. A Lucasfilm ganhou muito dinheiro com os produtos que lançou em meados da década de 80 e 90 a fim de suprir a carência alheia, mas um deles causou alvoroço na época e pode levar alguns fãs de volta aos sebos: três livros escritos por Timothy Zahn contavam a história das vidas de Luke e Leia Skywalker cinco anos depois da destruição do Império. Herdeiros do Império, O Despertar da Força Negra e Última Ordem, foram lançados a partir de 1991 e fizeram tanto sucesso na época que figuraram na lista dos mais vendidos do New York Times.
Mas adaptá-los ao cinema hoje em dia seria um pouco complicado. A começar pelos atores, que estão 29 anos mais velhos. Essa diferença cronológica é só mais um obstáculo aos roteiristas, afinal, será praticamente um desaforo para os fãs tentarem ser convencidos com atores jovens se fazendo passar por Luke Skywalker. Mas segundo o site E!, uma fonte dos estúdios Disney antecipou que os episódios 7, 8 e 9 partirão de uma história original. Seria Luke um velho mestre jedi ensinando os truques aos filhos da Princesa Leia? Curioso, a começar por tirar do ostracismo o ator Mark Hamill, o que certamente deixaria muito fã feliz. Até lá muita especulação estará por vir e nem os mais ranzinzas fãs estarão imunes a elas.
* Tiago Negreiros é jornalista.