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Lorde retorna transparente em “Virgin”

O novo trabalho da artista explora a tensão entre corpo, gênero e existência

Lorde retorna transparente em “Virgin”
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Lorde
Virgin
Universal, 2025 | Gênero: Pop


Virgin, o quarto álbum de Lorde, tem uma crueza e vulnerabilidade que me remeteram aos anos de sua estreia com o Pure Heroine. Diferente do Melodrama (2017) e do Solar Power (2021), onde Lorde responde os questionamentos e se assegura, em Virgin ela faz perguntas e convive com a incerteza atordoante. 

De uma forma semelhante à sua estreia, neste trabalho há uma busca pela transparência que parte de um sentimento constante de inadequação e do reconhecimento do caos que pode existir. Há uma camada densa de existencialismo que leva a artista nascida Auckland ao seu limite – “The edge”, como ela mesma chama em algumas faixas do disco.

O limite tensiona a relação de Lorde com seu corpo, seu gênero e as pessoas à sua volta, e o disco é o retrato delicado e honesto desses momentos críticos. Assim como no Pure Heroine, nós temos uma Lorde que se despe de suas defesas e entende que o jeito mais honesto de se passar pelos períodos difíceis é se vulnerabilizando e aceitando as inúmeras possibilidades. 

As letras da neozelandesa colocam sob uma lente poética os seus transtornos alimentares, a complexidade do sexo e os espinhos da relação parental. Expõem os momentos em que o sujeito não enxerga a si. No entanto, ela também mostra que não se reconhecer pode significar o surgimento de uma nova imagem, refletida na nova perspectiva que a artista tem de sua expressão de gênero e a fluidez entre o masculino e o feminino. 

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(X: @lorde/ Reprodução)

Toda essa carga de vulnerabilidade e verdade fica bastante refletida na sonoridade do disco: batidas fortes, poucos elementos, arranjos minimalistas e vocais limpos na maioria do tempo. A própria Lorde comentou em entrevista sobre como alguns sons parecem ter vindo de seu útero. 

A plasticidade se foi junto com Jack Antonoff, que coproduziu os últimos dois álbuns de Lorde junto com ela. Agora acompanhada por Jimm-e Stack, parece que a artista retomou sua marca de ter uma abordagem fora do lugar-comum do pop – tão bem exemplificada em “Clearblue” e “David” -, quesito que deixou a desejar no seu último lançamento e que também nunca foi o forte de Antonoff. 

Como a própria Lorde declarou, ela não conseguiu se esconder no Virgin, e essa é a marca principal do álbum. Um documento que nos mostra um momento intenso de dúvidas e uma autoconsciência dolorosa, mas extremamente libertadora. 

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