Josyara
AVIA
Deck, 2025. Gênero: MPB
Desde o lançamento de Mansa Fúria (2018), seu primeiro álbum de estúdio, Josyara se estabeleceu como a única voz de seus trabalhos, tanto no sentido literal quanto no sentido figurado. Exceto por Estreite (2020), que é compartilhado com Giovani Cidreira, a cantautora, produtora e violinista baiana guia seus projetos de uma perspectiva bem pessoal, assinando como intérprete, produtora e compositora.
Se formos traçar uma progressão da abertura de sua obra, AVIA dá um salto em relação às colaborações. Se em ÀdeusdarÁ, seu último álbum, houve apenas a participação de Margareth Menezes, agora Josyara está cercada de outras mulheres da MPB que estão diretamente envolvidas com a construção do disco; uma reunião que deu bastante certo.

O acerto principal deste disco está nas letras, em sua maioria muito profundas, com reflexões sobre prazer, o passado e a própria vida – sempre de uma perspectiva feminina, que é fio condutor do disco. Não por acaso, é na lírica que estão as parcerias: Liniker, Iara Rennó, Juliana Linhares e Pitty assinam faixas junto de Josyara, enquanto Anelis Assumpção e Cátia de França aparecem através de faixas suas regravadas: “Eu Gosto Assim”, que abre o disco numa versão mais junto do samba e “Ensacado”, que é dividida com Pitty nos vocais.
E é necessário também dizer que, apesar de ser o álbum de sua discografia com mais toques externos – principalmente o toque de Rafael Ramos, que assina como produtor -, AVIA não soa descaracterizado em nenhum momento. O problema do disco, no entanto, está em outro lugar.
Ao longo de sua reprodução, AVIA consegue criar uma progressão interessante entre as faixas, com boas transições e outros recursos, o álbum entra em um momento empolgante na sequência “Corredeiras” e “Sobre Nós”, mas engasga com “De Samba em Samba”, que soa anticlimática e deslocada. A canção seguinte, “Prova de Amor”, que parece ser um interlÚdIO, acaba finalizando o trabalho de sua antecessora e corta de vez o clima construído pelo disco até então.

Apesar do retorno com “Peixe Coração” e o encerramento ótimo de “Oasis”, que também traz o carioca Chico Chico, é impossível que AVIA recupere a força construída por seis faixas somente com o esforço de duas.
Com uma produção orgânica, de personalidade e letras profundas, Josyara nos entrega mais acertos do que erros em AVIA, que mostrou a habilidade da artista de fazer sua música dialogar com a de outras pessoas, numa junção de colaborações que nos conta mais sobre ela a partir de quem ela tem como referência.
Escute AVIA, de Josyara
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